Aquilo que é habitual não recebe atenção.
Com isso, muito do que está a nossa volta, foge a nossa percepção.
O interesse despertado, por sua vez, provoca atenção, o que permite tomar consciência de coisas das quais nós não estamos conscientes.
E somente consciente de algo é que nós podemos começar a transcendê-lo.
Imaginemos uma estante ou mesa de madeira.
O móvel existe devido a várias coisas que nele se congregaram, que vieram de lugares e tempo diversos, esparsos a realidade desse objeto.
A floresta onde a madeira cresceu e foi cortada, o minério de ferro de onde vieram os pregos e parafusos, o carpinteiro e seus sentimentos, e outras inúmeras coisas relativas ao móvel, como os pais e demais ancestrais do carpinteiro, o sol e a chuva que propiciaram condições para o crescimento da árvore.
Podemos cogitar sobre o minério, de onde veio, quem o retirou, o tempo que a natureza levou para produzi-lo.
A chuva, a seiva, o demorado crescimento da árvore.
O sol, o sistema planetário, a interação e interdependência de outros astros…
Não há fim para isso.
Diante de uma realidade para além da estante e da mesa, nós veremos que no móvel estão presentes todas essas coisas que normalmente não vemos como realidade.
Se for tirado fora qualquer desses elementos da realidade e repostos em sua origem – os pregos de volta ao minério, a madeira de volta à floresta, o carpinteiro de volta aos pais -, o móvel não mais existirá.
Aquele que, ao olhar um móvel, nele vê o universo, pode estar certo de que está no Caminho.
Com um objeto como único ponto de referência, a vida é vista através do buraco de uma fechadura.
A visão introspectiva dos móveis de nosso exemplo, indicam outra ordem de grandeza.
No geral, damos atenção ao conteúdo e ignoramos o que sustenta o conteúdo.
Olhamos a nuvem e não vemos o céu que a sustenta; o barco e não vemos o rio que o sustenta; o rio e não vemos a terra que o sustenta; vemos a paisagem e não vemos o planeta que a tudo sustenta; também não vemos o Cosmo que sustenta os planetas; menos ainda o que sustenta o Cosmo.
Eis um dos resultados da equação existencial: aquilo que é conhecido é sustentado pelo desconhecido, que, por sua vez, é sustentado pelo incognoscível.
Se não nos questionarmos nem darmos maior significado as perguntas que nos esclarecem, é porque o interesse não está presente, e, então, encontrar as respostas não será tão importante.
No entanto, bem viver é muito mais do que simplesmente estar vivo.
Para a introspecção, olhos não são necessários.
Essa simples visão perceptiva de um móvel qualquer, revela, pela simples observação, um oportuno processo de relacionamento com o mundo, com as coisas, com as pessoas e conosco mesmo, que merece nossos questionamentos e nossas reflexões.
O homem é absorvido pelo que ele não vê claramente.
Ele se torna como uma roda d’água, que gira e gira, de modo puramente mecânico, sem sair do lugar, sem mudanças renovadoras.
Esse ciclo estacionário se quebra com aprofundamento da observação da vida, do ser, do viver.
Para além do objeto se vê a sua transcendência, e a plenitude é claramente discernida, pois tudo aí está.
Ver através do que é transitório é tocar o permanente.
Pelo caminho além das aparências, se chega ao que se é.
No aprendizado do mundo, partimos do conhecido para o desconhecido, do ponderável para o imponderável, do permanente para o impermanente.
Do desconhecido é que nasce o novo.
Do que supomos o vazio é que tudo se manifesta.
O que é referido como vazio pode ser referido como plenitude, na medida em que contém o potencial para cada coisa.
Não só as coisas costumeiramente são vistas de modo restrito, acanhado. O existir, o ser, também.
Retomamos a metáfora dos móveis.
O mundo pode ser visto facilmente, mas somente aquele que pode ver o mundo em si mesmo (ver o universo no móvel) é verdadeiramente livre.
Isso é clareza do ser, do ver e do saber.
A maioria de todos nós não estamos familiarizados com a sensação e a percepção do próprio ser, mas apenas com o conhecimento do próprio fazer.
Destreza para agir “lá fora”, sem ação no “aqui dentro de mim mesmo”, é se contrair na pequenez dos limites de caminhar com um só pé, tendo dois a disposição.
Porém, ao se dar atenção a totalidade que se é, expande-se para abranger todo o Cosmos.
A plenitude da vida não pode ser confinada no interior de um jarro de barro.
Saber que se é, basta simples e natural observação.
Saber o que se é, é o fruto de demorada e profunda investigação.
Aí está, leitor amigo, um desafio da vida que, superado, manifesta o bem viver.
Raiz e ramo formam a mesma planta, mas são distintos.
É preciso chegar à raiz, sem se confundir com os ramos.
A nossa identidade é uma ideia adquirida.
A identidade é o ramo.
Como raiz, somos aquilo que é anterior à essa aquisição, a essa autoimagem formada.
Aquilo que percebe os móveis não pode ser o móvel.
Nós somos “aquilo que percebe”.
Clareza da mente desperta é o pleno conhecimento de ambos: o que aparentamos ser e o que realmente somos.
O comum a todas as experiências é a consciência da experiência.
Nós somos a consciência!
O mais é imaginação.
Façamos opção pelo essencial.
Conhecer o céu, a terra e as coisas, mas não conhecer a si mesmo, é o mesmo que se olhar no espelho todos os dias e não saber de quem se trata.
Quem se recusa ser o que é, permanece sendo o que não é.
Hora de se voltar para si mesmo!
O caminho de volta é o caminho de saída do transitório, do secundário, em direção ao permanente, ao essencial: Você!
Você é o destino!
Comece a caminhar, dê o primeiro passo e o próprio caminho aparece.
Acreditar é necessário.
Acredite em você!
Seja você!
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