Certo jovem aprendiz da vida sentia-se inseguro.
Os valores novos que trabalhava por imprimir em sua consciência não encontravam ressonância com aqueles a sua volta.
Os costumes comportamentais do geral das pessoas lhe pareciam como quem manuseia corantes, sem se dar conta que os primeiros a serem tingidos serão seus dedos.
Algo como desejar estar sempre saudável, mas nada fazer para esse benefício.
Paradoxalmente, vivencia o que parece lhe felicitar, satisfaz um prazer momentâneo e passageiro, mesmo ciente que ao final advirá a infelicidade. Uma questão de tempo, apenas.
Ao invés de alimentar conflitos íntimos, o jovem decidiu-se aconselhar-se com seu mestre.
Diante dele, expôs suas observações, em que o mundano se fazia prática comum, com ares de normal, de regular, e o que era o devido, o normal, era tido como impróprio.
Parecia que o profano se imiscuía no sagrado.
O mestre, compassivo e bom, levantou-se e trouxe uma tigela com sal. Pediu ao seu jovem discípulo que tirasse um punhado de sal e o segurasse nas mãos.
Saiu novamente e trouxe um copo com água. Disse ao jovem que derramasse o sal na água e o misturasse bem.
Feito isso, orientou que agora tomasse um bom gole daquela água, e lhe perguntou do sabor.
O discípulo respondeu de imediato, o óbvio: – água muito salgada.
Com um sorriso de aprovação nos lábios, o mestre lhe recomendou pegar mais um punhado de sal, fechar bem a mão para não derramar nada.
Convidou o jovem aprendiz a acompanhá-lo em direção ao rio.
Chegaram. Acenou em direção da margem e lhe falou para colocar a mão dentro da água e soltar o sal.
Em seguida sugeriu que tomasse um gole da água do rio e lhe dissesse do sabor.
O jovem aprendiz, sem entender bem o que se passava, bebeu um bom gole de água e arrematou: – água limpa, sabor natural, refrescante.
O mestre acrescentou: – Agora diga-me, meu estimado discípulo, onde reside a diferença de sabor e de impressão nas duas experiências, uma vez que em ambas havia a presença da água, do sal e você como protagonista?
O jovem pensou e respondeu que diferia apenas o repositório da água e do sal.
Com ares de satisfação, o mestre cumprimentou-o pela acertada observação, e comentou:
– Observe, meu filho, que tudo o que nos chega pelas circunstâncias da vida, capaz de alterar para ruim o que nos seja a natureza harmônica da mente, do psiquismo, do corpo, podemos escolher guardar em um recipiente restrito, que somos nós, e deixar que o sabor estranho imponha-se como novo tempero, desvalores como se valores fossem, ou, diferentemente, por nossa escolha, soltá-lo na corredeira do rio da vida, certos de que o fluxo das ocorrências levarão para bem longe de nós, tudo o que não nos diga respeito existencial.
O conflito se instala pelo impasse entre o que somos, o que gostaríamos de ser, o que outros desejam que sejamos e o que devemos ser realmente.
Devemos lutar, sim, em nosso favor, pois a luta, o esforço, é ferramenta do progresso, se bem dirigida.
Mas não nos escravizemos numa tentativa de querer mudar o que não se pode mudar, por não ser de nosso domínio, nem de nossa iniciativa, nem de nossa responsabilidade.
E o conto zen finaliza sugerindo:
– Empenho, sim, e incansável, em mudar o que, de fato, podemos mudar.
O sal e água não são criações nossas, imutáveis por esse aspecto.
Acolher as ocorrências da vida num copo ou as entregar ao rio é de nossa escolha.
Não gastemos energia na tentativa de mudar o mundo. Vamos nos empenhar em mudar nosso mundo íntimo, onde somos senhores e temos liberdade e opções.
Mudemos nosso estado de consciência, e a visão, o entendimento, o significado do que se passa a nossa volta, mudará também de patamar, para mais elevado, com alcance de compreensão ampliada e maior liberdade e segurança na jornada.
Você vê aquela castanheira ali e sabe que ela veio de uma semente, e que retribuirá à Natureza com novas sementes.
Ao tomarmos uma de suas sementes, sabemos que dentro da semente estão a castanheira, as flores, as castanhas, e a sombra da árvore.
Uma ideia aceita ou acalentada é como uma semente que plantamos em solo íntimo. O que essa ideia contém será o fruto que será servido.
Plantemos um pensamento e, se alimentado, logo colheremos uma ação correspondente.
Tudo aceitar, agir sem refletir, é o mesmo que comer sem digerir.
*
É natural haver dias que se fazem mais difíceis de serem enfrentados do que outros.
Aparenta que tudo conspira contra nossa harmonia, o ordenamento de nosso dia a dia, nossos propósitos.
Os problemas chegam, nem sempre com aviso prévio.
Podemos não ter controle sobre o nascimento de sentimentos, mas temos condições de saber o que fazer com eles.
Podemos agasalhar, como exemplo, o sentimento de tristeza, de mágoa, e fazer do episódio que o tenha causado uma nuvem que anuncia tempestade e faz anoitecer em pleno meio dia nosso bom humor.
Podemos ainda, permitir que o sentimento tóxico mude o tempero da vida de tal modo que, agravado pela permissão que dermos, conscientemente ou não, faculte que a depressão chegue ameaçadora e se assenhoreie das nossas emoções mais belas e ponha um freio em nossa vontade de melhoria e anestesie as forças de reação.
Ou, então, ao não permitir o progresso do sentimento de tristeza e mágoa, nos imunizarmos de imediato com a vacina composta de pensamentos construtivos, embalada com reflexão profunda, enriquecida com o bem estar da meditação, que recompõe os bases da atenção, da lucidez, da coragem e da determinação.
Com o “sal” das adversidades ainda em nossas mãos, é nossa escolha mergulhá-lo no “copo” do coração e deixar que macule o tempero do otimismo, do equilíbrio, da esperança, da saúde, ou, em melhor escolha, entregá-lo ao fluxo do “rio” da vida, com os pés firmados na margem do discernimento e da autoconfiança, fruto da certeza de que a cada um será dado segundo suas próprias obras.
Nós não somos o que acontece conosco, que gere tristeza, mágoa, decepções, exaltação de momento, nem as circunstâncias em isso ou aquilo se dá em nosso dia a dia, no mundo de relações. Não somos nem o acontecimento, nem as circunstâncias. Nós somos o que escolhemos ser.
Quando diante de uma situação que não podemos mudar, somos desafiados a mudar a nós mesmos.
Entre o que acontece conosco e nossa reação ao que está a acontecer conosco, há um lapso, um espaço temporal.
Neste espaço temporal está nossa capacidade em escolher nossas respostas e definirmos o nosso porvir. Entre um pensamento e outro é que nossa inteligência atua.
Do mesmo modo que há liberdade em se semear a ventania da discórdia e da intolerância – certos de que esses semeadores colherão a tempestade da amargura e as dores do padecimento -, há liberdade em se buscar abrigo seguro contra as intempéries da existência, num coração lúcido e resoluto pelo bem, pelo justo e pelo bom – certos de que colheremos a saúde e a paz.
Seja nosso lema nos conhecer, aceitar, superar e nos manter em contínua renovação moral para melhor.
A árvore cresce depois que suas raízes crescerem e lhes deem sustentação para tanto.
Não podemos conviver com a mudança renovadora se não houver um centro de sustentação dentro de nós.
A chave para acionar a faculdade de mudar é a sensação impressa em nós pelas nossas fortes raízes existenciais- o nosso centro – que sustentam o que somos, o que fazemos e o que valorizamos.
Razão pelo que o segredo da mudança é focar toda a nossa energia para atuar com atenção e vigilância, tranquilidade e confiança, de acordo com nossa consciência, em benefício de nosso bem-estar, do próximo e da natureza, como um todo, pois do Todo fazemos parte.
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