VIVER EXISTINDO

No palácio de um lendário reino decidiram convocar os melhores músicos para formar uma grande orquestra real.

Todos os que se apresentaram surpreenderam o Maestro da Orquestra por sua destreza musical, exceto um participante que não possuía talento algum. Entretanto, embora obtivesse qualificações muito baixas, conseguiu convencer o Maestro de que se empenharia muito em aperfeiçoar-se, ao que lhe foi outorgada nova oportunidade.

Passaram os anos e o músico, em vez de esforçar-se por melhorar, dedicou-se a copiar os movimentos de seus companheiros até passar despercebido aos olhos e ouvidos de todos os membros da corte.

Finalmente, o rei morreu. Como seu sucessor preferia as participações solistas dos músicos a escutar a orquestra como um todo, a trapaça veio à tona. Aquele músico teve que abandonar o reino.

“Cedo ou tarde, a verdade vem à luz. Que idiota que eu fui ao não aproveitar a oportunidade que me ofereceram!”, dizem que ele repetia assim, a caminho do exílio.

*

A vida apresenta fatores comuns a todos, quais sejam, dentre outros: alimentação, higiene, trabalho, repouso, relações humanas.

Todos nós possuímos os cinco sentidos, que são como janelas que se abrem para o mundo, através das quais nos relacionamos e aprendemos sobre esse mundo.

Lecionado por Aristóteles: Não há nada em nossa inteligência que não tenha passado pelos sentidos.

A diferença no emprego e aproveitamento dos recursos que a vida nos brinda fica por conta de cada um.

Conforme o uso, ou o abuso, daremos contorno e conteúdo ao nosso modo próprio de ser, que se apresentará único, ou deveria ser assim.

A partir do momento em que deixamos de nos individualizar, assumindo postura acomodada de tão somente seguirmos o fluxo das circunstâncias, sem maior esforço para implementarmos conduta segundo objetivos e posicionamentos pessoais, nossa identidade vai se diluindo, se misturando com o estado comum das coisas, dos lugares, dos costumes, segundo os padrões vigentes traçados pelos outros.

Ficamos fazendo parte dos que vestem certas marcas, porque alguém as concebeu e propagandeou que todos deveriam usá-las; que comparecemos nos mesmos lugares que os outros; que consumimos as mesmas comidas nos mesmos restaurantes que os outros frequentam; ou seja, em resumo, vivemos o mesmismo dissolvente.

De nosso mesmo, autêntico, praticamente nada.

Se a moda dita que o azul é a cor do momento, sem qualquer cogitação ou exame de nossos gostos pessoais, lá estaremos nós, de imediato, todo de azul, desfilando nossas alegorias.

Acontece que, mesmo anulando-se a tal ponto, adotando-se o que os outros pensam para nós, os conflitos íntimos despontam, marcando presença em nossas vidas.

O ser humano guarda características naturais como a capacidade e a necessidade de realizações, com sua imaginação, seus desejos, seus objetivos, sua iniciativa, seu fazer e acontecer. Abafar esses impulsos, ainda que inconscientemente, não os extravasa, os represa, e essa pressão que vai se formando entre o que eu deveria ser com o que eu me acomodo em ser, trazem desequilíbrios emocionais, patrocinados pelo confronto entre a imitação de vida dos outros, adotada como se minha fosse, e a realidade intima que teima em assumir o controle do pensar e do agir, libertando-se das amarras da falsa identidade.

Saber dizer sim, saber dizer não. Entendendo que ambos posicionamentos fazem parte de nós mesmos, e que devem ser aplicados e validados conforme a nossa necessidade e conveniência pessoal, em nome de um bem-estar verdadeiro, cujo sentimento somente cada um conseguirá sentir quando e o quanto ele estará presente e ativo em nosso íntimo.

Opinião própria, conhecimento consistente, atitude correspondente, nos farão estar vivendo no mundo, sem estarmos misturados uns com os outros.

Juntos, sim, confundidos, não.

Afinizados sim, identificados com uma mesma causa, sim, porém cada um caminhando com suas próprias pernas, à custa do seu esforço pessoal, sem desprezo da luz da solidariedade e da fraternidade, quando ofertadas, mas sem estar na sombra dos outros.

Ao mirarmo-nos num espelho, que ali vejamos a nossa personalidade refletida, não apenas nossa feição exterior, aliás, no geral, bem transformada pelo superficialismo dos artifícios estéticos.

Integrados e pertencentes à vida, em seu sentido de riqueza e abundância de oportunidades, bem aproveitadas e valorizadas, dando-lhe sabor de conquistas alcançadas, êxito conseguido, vitórias de nossas atitudes e de nosso próprio empenho. Assim nos sintamos.

Igualdade de direitos entre todos os seres, de qualquer lugar da Terra, mas cada um com sua função própria diante do viver.

Assim pensando e assim agindo, seremos agentes da harmonia, quais as diferentes notas musicais, que bem combinadas, compõem as belas sinfonias.

Já, se misturados e confundidos com os outros, na orquestra da vida, conforme o personagem do nosso conto que abriu este escrito, sob o véu da imitação e mistificação, quando em nada estejamos contribuindo para o concerto musical que a partitura do momento, posta no tripé do dia a dia, nos pede executar, a frustração existencial será resultado certo.

Saibamos que em dado momento da nossa existência, seremos chamados pela vida para nos apresentarmos como solistas da peça musical escrita especialmente para nós, pela Consciência Cósmica, no palco da existência.

Despreparados, apartados do que deveríamos ser, mas acompanhados somente do que aceitamos ser, nós nos veremos tomados pela insegurança psicológica, comportamental, existencial, nascente na ilusão que nos permitimos cultivar em nosso cotidiano.

Tínhamos tudo para alçar voos, mas preferimos rastejar no lugar comum dos que se regozijam por nos manter dentre os desidentificados consigo próprios, dentre os que não se reconhecem ao se mirarem no espelho da consciência, igualados pelo existir não existindo, viver sem vida própria.

Por que não aceitar que cedo ou tarde a verdade existencial vem à luz, nos cobrando a adoção do sentido natural e edificante da vida?

E, qual o personagem desse conto, repetiremos também: Que idiota que eu fui ao não aproveitar a oportunidade que me ofereceram!

Sim e não, para as proposições da existência, podem significar amor-ação ou dor-restauração.

Escolhas. Todos temos livre-arbítrio em pensar, decidir e fazer, ou não fazer!

Assumirmos a condição de musicista-solista, tomando o controle do pensar e do agir, como gestor das emoções na construção de vida saudável, útil, construtiva, identificada conosco mesmos, fiel ao que somos, que tenha “a nossa cara e nosso jeito de ser”, ou ficar com o mesmismo exaustivo, deprimente, devorador do ânimo, diluidor da identidade pessoal.

Somos livres para ser e atuar. Respeitemos – e façamos respeitar – os nossos valores, nossas crenças legítimas, nossas opões de discernir, decidir e aplicar, sempre dentro, é claro, do melhor código ético-moral e social, sem submissão aos padrões de conveniência dos grupos dominantes, sem acomodação de postura de um sem-identidade, que é, na prática, uma vida anulada.

Esse é o momento de sacudir a poeira do abandono íntimo a que nos submetemos, pelo desaviso ou pela indiferença.

Esse é o nosso momento de partida rumo à plenitude mental, emocional, espiritual. Saúde e bem-estar. Fiquemos de bem com a vida.

Eventuais feridas que se abriram n’alma, consideremo-las simples arranhaduras, cientes de que ações edificantes serão bálsamo que as cicatrizarão.

É da razão existencial de todos nós a renovação incessante para melhor, mudando hábitos e atividades, trabalhando o aprimoramento íntimo intelecto-moral, movimentando-se rumo ao progresso pessoal e, por conseguinte, social.

Sair da rotina planejada pelos outros para nós como sendo o padrão de vida exemplar, romper com os limites do habitual, abrindo espaço para enriquecimento da mente e das emoções, da solidariedade, dos serviços de enobrecimento humano, abraçando o idealismo do amor a si mesmo, ao próximo e ao Todo Existencial, eis atitudes de quem quer reconquistar sua verdadeira identidade.

Toda mudança traz resistências. Superemo-las!

Somos diferentes uns dos outros pela própria natureza.

Façamos a diferença, por nossa vez.

Nós nascemos para realizações triunfantes.

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Projeto INOVE – por uma vida viva

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