VIVER, É MAIS DO QUE ESTAR AQUI

Há questões da vida e do viver, com suas dúvidas pedindo respostas, com suas dores que pedem auxílio, com seus conflitos pedindo gestão, com suas angústias desejando esperança, com seus sucessos rogando manutenção e bom encaminhamento, com os conhecimentos novos pedindo passagem em nossa inteligência, a mudança de referenciais nas áreas do pensamento humano, convidando-nos a acompanhar os novos tempos.

Precisamos transpor certos limites de nossa visão e entendimento sobre as magnas questões da vida, a qual sabemos não se restringir ao bater do coração, mas abrange, inclusive, aquilo que nos faz acelerar os batimentos cardíacos: nosso pensar, nosso sentir, nosso agir.

Do mesmo modo, a vida é mais do que o simples pensar. Abrange a natureza do que pensamos, fatos que nos alteram as emoções.

A vida supõe poder enxergar, inclusive o que não queremos ver.

Só caminhar não basta para compor a vida, mas saber qual caminho escolher.

A vida tem gostos e desgostos, alegrias e tristezas, conquistas e derrotas, sonhos e pesadelos, medo e coragem, satisfação e insatisfação, bondade e maldade, saúde e doença, vazio existencial e plenitude, amor e ódio, paz e tormento, que mexem com nossos sentidos, mas estão além deles.

Há uma transcendência sentida que vai além da objetividade de tudo o que é material e palpável.

Há uma variação de aceitação e contentamento em nós mesmos, que ainda pede entendimento.

Nem sempre o alimento saboroso nos traz satisfação.

Tem dias em que vestirmos o mesmo certo traje de outro dia, não faz repetir a mesma satisfação daquele dia.

Há momentos em que os mesmos assuntos até então valorizados, não nos atraem o interesse.

Há situações em que estar com certas pessoas, mesmo fraternas, nos traz desagrado, do mesmo modo que há dias em que nossa vontade é não estar com ninguém.

O imponderável e o impermanente habitam nossos sentimentos.

E a carência de elementos mais consistentes e duradouros nessa fugidia área dos pensamentos e dos sentimentos, nos deixa sem chão, ou sem teto, ou sem os dois.

Sentimos um desconcertante vazio no peito, uma sensação de impotência, insegurança talvez, como que um véu encobrindo nossos olhos e dificultando identificar para onde irmos.

Porém, o que desejamos é assertividade comportamental, segurança decisória, claro discernimento.

Essa inconstância, antes de ser tida como indesejável, precisa ser reconhecida como um estímulo à uma viagem para dentro de nós mesmos em busca de respostas e diretrizes, já que fatores e condições materiais da vida não estão nos ajudando com respostas satisfatórias.

O nosso mundo íntimo é o mundo do imponderável, do subjetivo, pois é o mundo do pensamento, dos sentimentos, das emoções. O concreto nessa realidade interior está na sua essência, quanto mais autêntica e verdadeira, mais consistente e construtiva.

Porém, é daí que tudo vem, pois é aí que tudo começa.

Ensina-nos Siddharta, o Buda: Somos o que pensamos. Tudo o que somos surge com nossos pensamentos. Com nossos pensamentos, fazemos o nosso mundo.

Quanto mais exercitarmos essa introjeção e reflexão, com o propósito de autoconhecimento, sem receio de enfrentamentos e mudanças necessárias, mais seguros em nossas ações no mundo objetivo, no mundo das relações humanas, pois nos sentiremos em maior harmonia emocional.

A viagem pelas estradas do âmago do ser, do nosso cerne, onde tudo é imponderável, porém real, pode ser comparada como uma viagem em busca do espiritual, do Deus em nós, do despertar do curador interno, ou do autoaperfeiçoamento, conforme ensina a Psicologia Transpessoal.

Há quem prefira alcançar o interior pelos caminhos exteriores, como os Caminhos de Santiago, por exemplo, que são os percursos percorridos pelos peregrinos que afluem a Santiago de Compostela desde o século IX, para venerar as relíquias do apóstolo Santiago Maior, cujo suposto sepulcro se encontra na catedral de Santiago de Compostela.

Escolhas, percalços e lições de uma viagem que vai além de uma mera caminhada: percorrer o Caminho de Santiago é uma maratona espiritual transformadora, dizem os peregrinos.

Existem vários caminhos, talvez mais de cem, que saem de diferentes cidades da Europa, rumando para Santiago. Cada um com seus detalhes e atrativos.

Todos eles oferecem e pedem simplicidade, desapego, soledade, objetivo, determinação, persistência. A estrada, o campo, a natureza, o belo e outros valores esquecidos no agitado dia a dia das cidades, nos convidam a estar só conosco mesmo, a pensar e repensar onde está a verdade e onde está a ilusão. Quais são os caminhos enganosos, quais são os caminhos da transformação para melhor.

É uma caminhada que objetiva a integração do seu mundo externo com o seu mundo interno. Também a integração do “Eu” e o “Outro”, para, ao final, sentir e sentir-se integrado com o Todo Cósmico. Diríamos nós, alcançar a realidade espiritual ao final da jornada.

Existem outras peregrinações em diversos recantos de nossa Terra, como, ainda, apenas para citar, pois não é esse nosso foco neste artigo, a odisseia que leva vários dias e muitos quilômetros, até uma altura de 3.888 metros acima do nível do mar, no Himalaia, sempre na segunda quinzena de junho, quando os indianos visitam um dos santuários mais importantes da religião hindu – a gruta Amarnath. Segundo a lenda, foi nessa gruta que o Deus Shiva revelou à sua esposa Parvati, os segredos da vida e da eternidade. A entrada dessa gruta está localizada a poucos quarteirões dos paredões de gelo, que são considerados a encarnação de Shiva, conhecidos como “Swayambhu Murti”.

Quando se apresenta o tema Espiritualidade para nós, logo o associamos às religiões conhecidas. Não estaremos equivocados, sob certo ponto de vista, mas limitando nosso enfoque.

A amplitude e o sentido do termo Espiritualidade, visa levar-nos a pensar para além da matéria, dos corpos físicos. Nesse caso, se utilizado o termo imaterial e não espiritualidade, a ideia ficará prejudicada, pois permitirá entendermos que nada há além da matéria. Incorpóreo poderia ser outro termo a ser usado, mas ele nos levaria a conjecturar de deixarmos de falar de alguma coisa circunscrita na matéria, um corpo qualquer, para outra forma também circunscrita, fora da matéria conhecida. Enquanto o termo Espiritualidade é a ideia de tudo o que existe fora do visível e fazendo parte do mundo visível, como a energia, por exemplo, em seu sentido próprio, a mente, o pensamento, a memória, os sentimentos e muito mais.

Se você, leitor, for religioso, e, por exemplo, for católico romano, protestante, ou outro, entenderá a sutileza que o termo Espiritualidade realmente traz como ideia, ao consultar Gênesis: Faça-se a luz, e a luz se fez.

Já, se você guarda conhecimento mais voltado à ciência, entenderá o alcance do termo Espiritualidade, acompanhando o raciocínio de Nikola Tesla, por exemplo, inventor dos campos da engenharia mecânica e eletrotécnica, ao afirmar: Se você quer conhecer os segredos do Universo, pense em termos de energia, frequência e vibração.

A espiritualidade é uma experiência humana muito mais ampla e mais básica do que a religião, como comentado por Fritjof Capra e Pier Luigi Luisi, constante em artigo que publicamos em outra ocasião em nosso Blog: www.projeto-inove.com.br, sob o título A sinfonia da vida.

Diante do que as ciências vêm nos apresentando nos dias atuais, desfazendo antigos postulados como o de que a realidade é iminentemente física, material; diante do que a física quântica vem demonstrando atualmente, onde, segundo o físico Sir James Jeans: O fluxo do conhecimento está seguindo em direção a uma realidade não mecânica, o Universo começa a se parecer mais com um grande pensamento do que com uma grande máquina. A mente já não parece ser um intruso acidental no reino da matéria, devemos antes saudá-la como a criadora e governadora do reino da matéria, (cuja abordagem foi examinada em artigo também publicado no nosso Blog, com o título: Síntese de um novo “Eu”), precisamos reconsiderar nosso entendimento sobre a vida, sobre nós mesmos, e nossos propósitos atuais sobre a vida e o viver, dando-nos a oportunidade de ampliar nossos conhecimentos, visando aqueles que nos enriqueçam a bagagem com recursos orientativos ao equilíbrio emocional, à satisfação que plenifique, ao nosso bem-estar.

Há novos horizontes, notadamente em nosso mundo íntimo. Precisamos sair da zona de conforto, quase sempre inibidora, ou zona de amolentamento.

Nossos comentários não objetivam fazer oposição às religiões em geral, pois, contrário a isso, entendemos que toda religião é boa e necessária, desde que conduza as pessoas à Deus. Importante não se confundir religiosos com as religiões.

Mas focamos sim, que o assunto Espiritualidade não é de domínio exclusivo das religiões. É da natureza da vida, tão básico como respirar. Basta alargar um pouco a visão das coisas.

O astrofísico britânico do início do século XX, Arthur Eddington, afirmou: o substrato de qualquer coisa é de caráter mental.

Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz, como dito por Platão, célebre pensador grego.

Negar-se à luz do conhecimento e melhor entendimento da vida, deixando, por isso, de vivê-la em sua verdadeira grandeza e inteireza, ou, ainda, empobrecer a existência com os obstáculos que os preconceitos – todos filhos da ignorância – impõem ao comportamento, não é condizente com a lei do progresso e da evolução humana.

Quanto mais luz você deixa entrar, mais brilhante será o mundo em que vive, anotou Shakti Gawainm, reconhecida autora, palestrante e professora, nos Estados Unidos da América do Norte.

O apelo e convite da Vida nesse momento é de nos voltarmos para dentro de nós próprios, refletirmos mais demoradamente sobre a vida, as razões do viver, nossos objetivos de vida, nossos sonhos, nossos pensamentos dominantes, nossos valores éticos, sobre o que mexe com nossas emoções.

Precisamos dar nova conceitualização e significação às coisas importantes, aos sonhos, à vida.

A fala suave de Antoine de Saint-Exupéry, diz muito: Eis o meu segredo: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. Os homens esqueceram essa verdade, mas tu não a deves esquecer.

Se enriquecermos nossa mente com conhecimentos edificantes, veremos a vida sob um novo prisma. Teremos olhos de ver e ouvidos de ouvir. Veremos o que está à frente e ao alto. Teremos olhos para olhar para dentro e para fora, para o lado e para baixo.

Nossos ouvidos aprenderão a ouvir a música das estrelas e o estalar do crescimento das árvores. Ficarão tão sensíveis que aprenderemos a ouvir mais do que falar; a escutarmos o próximo com o coração e junto com ele rirmos ou chorarmos, pois, nossas vidas estarão conectadas pela transcendência comum, caminhantes da vida que todos somos.

Sem nos apercebermos, ao olharmos para dentro de nós, descobriremos o próximo como um igual, e a tudo e todos valorizaremos, preenchendo enfim o vazio de nosso peito. A partir de então, nossa caminhada terá por objetivo a satisfação em viver, para a completude existencial.

Isaac Newton, notável cientista, asseverou que a Física se uniu à religião ao tentar explicar o nosso lugar no Universo.

Max Planck, Físico, considerado o pai da Física Quântica e um dos físicos mais importantes do século XX, laureado com o Nobel de Física de 1918, por suas contribuições na área da Física Quântica, considerou: Para os crentes, Deus está no princípio das coisas. Para os cientistas, no final de toda reflexão.

*

Narram que um homem sábio se dispôs a transmitir os seus conhecimentos, reunindo a sua volta inúmeros interessados.

À medida que as aulas se sucediam, decrescia o número dos candidatos ao aprendizado, ao ponto de, em pouco tempo, haver ficado apenas um.

Disse-lhe, então, o mestre:

– Somente prosseguirei se houver um número maior de discípulos.

Interessado em aprender, o candidato recorreu aos desertores e instou para que voltassem, o que redundou em total fracasso.

Ele meditou longamente e tomou a decisão de levar à aula vários manequins vestidos, que conseguiu em uma casa comercial. Colocou-os na sala e convidou o mestre para retornar às lições.

Surpreso, ele respondeu:

– Todos esses bonecos são incapazes de entender-me. São apenas bonecos…

– Isso mesmo – esclareceu o adepto, imperturbável. Eles representam aqueles que se foram e que, mesmo quando aqui estavam, eram mortos, sem interesse. As vossas aulas eram-lhes muito profundas e eles não as queriam, mas eu estou interessado nelas, apenas eu.

Sensibilizado, o sábio dele fez o aprendiz ideal que se lhe tornou continuador das experiências.

*

Viver é muito mais do que simplesmente estar aqui ou ali. Temos que estar em todo lugar, com todas as sensações que, vivenciadas intensamente, se tornarão sentimentos!

Aproveitar cada instante para o aprimoramento, como se não fosse haver um seguinte.

Assimilar cada conhecimento novo, como se fosse o derradeiro.

Reconhecer que a vida é única, transcendente e imorredoura, e é formada de momentos. E fazer de cada momento uma grande oportunidade de crescer em entendimento, nos dará certeza de que nossa vida então estará sendo vivida com sabedoria.

O passado não é mais e o futuro não é ainda, disse-nos Santo Agostinho.

Nós somos cada momento. E cada momento é o construtor do momento seguinte, num continuum natural.

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Projeto INOVE – visão da vida sob novo prisma

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