VIVER É CONSTRUIR-SE INTERIORMENTE
Como qualquer outra cidade alemã antiga, Bad Wimpfen é cheia de encantadoras casas de madeira de aparência medieval conhecidas como Fachwerkhäuser, que é um dos estilos arquitetônicos mais facilmente reconhecíveis.
Localizado no rio Neckar, a cidade é um destino historicamente renomado por seus recursos naturais de diferentes tipos de sais utilizados para terapia.
Aproximava-se o Natal, e com isso os preparativos devidos.
Durante a arrumação, a esposa percebeu que a cadeira de balanço estava quebrada.
A exata cadeira que seu pai tanto gostava de ficar, nos dias que os visitava, quando, ao seu redor, reuniam-se todos, à noite, para ouvir suas histórias encantadoras.
Ela não podia deixar a cadeira do vovô, como dizia seu filho, quebrada. Afinal, estava combinado que desta feita, juntamente com a festividade natalina, seu filho iria homenageá-lo, em nome de todos, em gratidão pelo maior bem que ele havia propiciado aos seus descendentes: a vida!
Assim que o marido chegou em casa, a pedido dela, colocaram a cadeira no carro e convidaram o filho para irem até uma marcenaria e levaram a cadeira de balanço do avô para conserto.
Uma marcenaria bem montada, ampla, clara, e o marceneiro, senhor Johann, muito acolhedor e simpático, que logo cativou a atenção do menino.
Enquanto os pais e o profissional conversavam sobre o problema na cadeira que trouxeram, o jovem andava pelo barracão, com fachada bem característica e original de uma típica Fachwerkhäuser.
Madeiras de diversos tipos e tamanhos, ferramentaria diversa, algumas máquinas, latas de verniz, tintas, e muitas coisas mais, tudo bem arrumado em um ambiente limpo e arejado.
Ao ver o interesse do rapaz parado diante de uma bonita mesa, rica de entalhes, ainda inacabada, o simpático marceneiro aproximou-se e logo puxou conversa: – Gostou da mesa, meu jovem?
– Muito, respondeu o menino. Um trabalho grande e delicado.
Por sua vez, o senhor Johann comentou: – Eu lhe digo que essa mesa é fruto do meu descanso. Nas horas de folga, me dedico a ela. Como não é encomenda de cliente, trabalho sem pressa. Me atenho aos detalhes e ao conjunto, até porque essa prática é regra na minha profissão. Não perco de vista o modelo idealizado e já visto no futuro.
O rapaz, num misto de surpresa e desentendimento, falou: – Modelo idealizado e já visto no futuro? Como assim?
– Vou lhe explicar meu jovem amigo – posso chamá-lo assim? perguntou o marceneiro:
Desde um simples conserto até a fabricação de um dos móveis que você vê aqui, o início está na intenção de bem fazer, que nasce lá dentro, em algum cantinho da alma.
O desejo firme me prende a atenção, pois onde está nossa atenção, ali estamos presentes.
Tanto o desejo como o objeto do desejo estão no coração e na mente, onde tudo nasce: o conserto, um novo móvel. Estão ainda sem forma, sem definição, sem modelo. É um desejo.
É preciso, então, dar tratos as ideias.
No caso de um conserto, preciso saber: qual o móvel, qual o seu estrago, para pensar em solução, no que vou precisar de material e em como fazer o serviço.
Observe meu jovem conterrâneo e amigo, que tudo ainda está na mente.
O mesmo se for um móvel novo: em resumo, ele precisa ser criado primeiramente, com todos os detalhes, na mente, que lança mão da imaginação e da criatividade, aliás, a criatividade é uma das forças da vida, que dá impulso renovador, enquanto a imaginação dá impulso modelador.
Imaginar é criar!
Imaginação e criatividade devem andar de mãos dadas.
Eu tenho de, primeiramente, idealizar o conserto ou o móvel, prontos, acabados. Ou seja, eu preciso vê-los mentalmente, prontos, com forma e nos mínimos detalhes. Isso é como uma ponte para o futuro.
A partir da construção mental é que saio em busca da execução material.
Quando se trata de móveis novos, faço anotações, com desenhos, estudos de materiais, ergometria e outros pontos necessários.
Projeto o desejado dentro de minhas habilidades e ferramentaria.
Há ocasiões em que, durante a feitura, vejo-me sem a devida habilidade para executar certo detalhe, ou me falta ferramenta apropriada.
Desisto?
Não, jamais.
Me aplico no desenvolvimento da habilidade faltante, aprimoro técnica, e, no caso de ferramenta que falte, saio em busca e, se não encontrar, improviso uma.
Sei o que precisa ser feito. Supro o que falta em cada passo. Tenho objetivo bem traçado.
Olhe o barracão em que estamos, a rua pela qual você chegou aqui, as casas no caminho, os carros que circulam, as roupas que as pessoas vestem, enfim, a realidade em seu entorno.
Tudo o que você vê ou viu, nasceu primeiro no pensamento de alguém.
– Mas, me permita, senhor Johann, uma pergunta, interferiu o jovem: o cérebro é a fonte imaginativa e criativa?
Respondeu e continuou o marceneiro: – Pensamento é força viva e atuante. Procede da mente que, por sua vez, tem sua sede no nosso Eu, aquele que somos de fato em profundidade, que é mais de quem nos vemos quando olhamos num espelho.
Em essência, o ser pensante, o Eu profundo, transcende o cérebro, os pensamentos e a mente.
O cérebro funciona como um instrumento decodificador do pensamento, que é a roupagem que veste as expressões da mente, cujas ideias são aquelas manifestadas pelo Eu profundo, ou o ser pensante, ou a consciência pura, ou outras mais designações. Você escolhe.
Porém, o fato de elaborar-se uma ideia, só por isso não quer dizer que acontecerá como se quer ou como se planeja.
A ideia é fator modelador que propicia direcionamento das ações, e pede vontade, empenho, esforço, dedicação para se tornar real.
Se mudarmos a ideia matriz, os pensamentos se modificarão, acompanharão o novo modelo.
Consegui me fazer compreender? questionou o aprazível senhor.
Nessa altura da conversa, os pais já estavam junto do filho, atentos também.
– Sim, muito claramente, senhor, disse prontamente o rapaz.
– Pois bem, meu jovem amigo, continuou o marceneiro, do mesmo modo acontece quanto a vida de cada um de nós.
Viver é construir-se interiormente!
Conforme a construção, a vida.
Algo não vai bem? Refaça a ideia matriz, modique pensamentos, imprima novo modelo existencial, novo estilo de vida.
Falta habilidade ou “ferramentaria”, ou seja, recursos pessoais? Aprimore-se continuamente, adquira novos recursos.
Vida é ação, movimento.
Você me perguntou sobre modelo idealizado e já visto no futuro, não foi?
Construir-se interiormente também pede imaginação e criatividade, sob diretrizes da consciência que pensa – o Eu profundo que lhe falei há pouco.
A inteligência é que faz a diferença entre a casa projetada pelo arquiteto e uma pilha de tijolos.
Se não se souber aonde quer chegar, não há caminho que sirva.
Reconheça a vida como um depósito de oportunidades, idealize o seu futuro, crie-o com sua imaginação nos mínimos detalhes, autoprojete-se com a devida autovalorização.
Sem se conhecer, sem aceitar-se, não há como superar-se.
Imperfeitos somos todos nós. Isso não é demérito, é reconhecimento, fruto da lucidez. É estímulo para as devidas renovações com inovação.
Inovar não é reformar, guarde sempre essa afirmativa!
Inove para construir o diferente.
Reforma mantém o passado, repetido com maquiagem nova.
Saber para onde ir, estar ciente de quem se é, permite estabelecer escala de valores com forte significado para o porvir desejado, a partir de agora.
Funciona como se a escala de valores fosse sua caixa de ferramentas, a ser vivenciada de forma edificante e positiva, ensejadora do autodescobrimento e maturidade psicológica, que são os “móveis” interiores que irão decorar a sala principal dos corações de todos nós.
Direcionar a força mental para a sua autorrealização, em paulatina, porém ininterrupta construção interior, lançar mão da razão lúcida e do equilíbrio emocional, é o passo certo que puxará outro passo e mais outro, sem cessar, rumo aos patamares mais elevados da vida, o magno finalismo para todos os seres.
Todos os opostos, dia e noite, bem e mal, ter e não ter, ganhar e perder, eu e os outros, alto e baixo, dividem a mente.
O dualismo desenvolve a capacidade de discernir.
Quando adotados, aceitos, praticados um ou outro dos opostos somente, afastam as pessoas da mente original, e leva-as a sucumbir ao dualismo.
A sabedoria está no meio, que é o caminho.
Não perder de vista a necessidade fundamental para o êxito existencial, que é harmonizar emoção e pensamento, a fim de que se ajudem mutuamente.
Nem um nem outro em predominância.
Equilíbrio é o termo exato. O caminho do meio.
A emoção deve dar calor à razão que, por sua vez, deve oferecer entendimento ao coração.
Nós temos dois cérebros num só: o emocional e o racional.
Desenvolvê-los ambos com zelo, forma a unidade harmônica, responde pelos sucessos de todos os dias, ou, se descuidados, pelos prejuízos que afetam as criaturas humanas.
A harmonia que predomina no Universo igualmente se encontra no ser humano.
Não se iludir que a vida é um mar calmo sempre.
Há momentos complexos, como um mar revolto, aflitivos, transtornantes, que, se não forem bem administrados pelo equilíbrio entre a razão e a emoção, advirão dramas pelo desequilíbrio, com risco de perder-se no emaranhado das paixões e dos tormentos, que alienam e descontrolam.
Na imagem do mar que usei, tudo indicaria, com o desequilíbrio, o naufragar da embarcação-existência pessoal.
Em situações assim, voltar a acontecimentos da vida, felizes e confortadores, é possível.
A volta ao bem-estar, ou sua primeira experiência prazerosa, começa ao se alterar a maneira de elaborar as ideias, construindo-as de forma edificante ou positiva.
Sorrir com os problemas, reunir forças na angústia e ganhar coragem na reflexão, é atitude que faz a diferença.
Encolher-se, anular-se, desistir, em fuga, é coisa de pequenas mentes.
Aquele cujo coração é firme e cuja consciência aprova sua conduta, perseguirá seus objetivos sem renunciar a seus princípios nobres.
– Obrigado, senhor schreiner. Entendi. É sair daqui e enfrentar a vida, considerou o jovem.
– Refaça, meu rapaz, o sentido da afirmativa: sair daqui e enfrentar-se a si mesmo até a vitória do seu autoencontro com a Fonte do Equilíbrio e da Sabedoria, é a melhor aplicação do seu empenho, e tudo o mais lhe virá por acréscimo, disse o gentil marceneiro.
Exercite sua consciência consciente e passe a agir, evitando reagir; pensar antes de atuar; reflexionar, conjugando intenção, imaginação e criatividade, como passo inicial para qualquer empreendimento; promover a paz, ao invés de investir na violência constituem os passos decisivos para comportamento desperto, portanto saudável.
Os seus pais precisam ir.
Vá e absorva os valores que a Vida oportuniza, mas não permita que o viver consuma seus valores.
Vai e ama intensamente a Vida.
Sabiamente viva a Vida.
Quem ama se interessa, cuida, dá atenção, se faz presente.
Vá, meu filho – posso chamá-lo assim? – e volte sempre que quiser.
Lembre-se que viver é construir-se interiormente.
Vá e se torne uma formosa construção.
Ame-se, ame e sirva a Vida e o viver dos demais, indistintamente.
A felicidade mora em seu coração.
Deixe-a se manifestar no seu viver.
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