O estresse não é o mal do século. O mal do século é não saber administrá-lo. – Leila Navarro
O estresse, cuja palavra traz no bojo do seu significado a figura emblemática de um mal que aflige boa parte da humanidade, fruto dos tempos modernos, do qual não temos escapatória.
Ele é um mal presente dentre nós, sim. Mas podemos superá-lo, com certeza.
Há fatores geradores do estresse, bem identificados por nós. Por exemplo: as grandes cidades e o trânsito caótico; a carestia financeira; o desemprego; a luta por melhoria salarial; os conflitos familiares; a insegurança urbana; o esforço pela formação escolar; o sonho de empreendimento próprio e outros mais.
No entanto, há outros fatores que se escondem na nossa intimidade, alguns tão bem escondidos, que nem nos damos conta deles. É o caso de mágoas e de ressentimentos, por exemplo.
Sem dúvida há ressentimentos guardados no coração que regularmente nos lembramos dos motivos e dos personagens, e até por isso eles não nos dão trégua, pois recebem permanente alimento da lembrança e das emoções sofridas, levando-nos a um sofrimento constante.
E há ressentimentos amargados que o nosso dia a dia, nossos compromissos, nosso pensar e agir perante a vida, provoca como que um abafamento, um superficial esquecimento deles.
Esses casos são os mais complexos motivos do estresse, pois nem sempre são levados em conta em nossas reflexões sobre os fatores que estejam nos mantendo num estado estressado e estressante. Supomos que eles não mais existam.
Porém, basta um pequeno indutor psicológico em nossas lembranças, um distanciado reencontro entre as pessoas envolvidas, uma música, uma frase, e eis que, qual vulcão adormecido, volta a erupção das lembranças que nos impõem reviver as emoções adoecidas e marcantes.
Tais ressentimentos estavam lá, no fundinho do coração. Não lembrados, mas latentes, em estado de hibernação.
Mesmo latentes, pela ação do inconsciente, se mantinham fazendo pressão – ainda com a metáfora do vulcão dormente -, expelindo fumaça ora em forma de irritação, ou de melancolia, ou de insatisfação, ou de mau-humor, ou de cansaço sem explicação, enfim, de estresse.
Razão pelo que é também necessário lançar mão do perdão, do autoperdão, para superarmos de vez as mágoas e os ressentimentos, exemplos de sentimentos destruidores que nos ocupamos por agora. Há outros. Mas esses bastam para demonstrar que temos fatores estressantes visíveis e invisíveis, atuais ou remotos, que agasalhamos em nosso ser.
O conhecimento de nós mesmos, com revisão de nossas crenças e valores; apurada reflexão, assumindo o controle da mente; a meditação profunda e regular, continuam sendo excelentes antídotos para o estresse, tanto para os fatores ditos visíveis quanto para os invisíveis.
As máscaras que vestimos, desidentificando-nos com nosso próprio Eu, é o que nos faz infeliz.
E sentimento de mágoa e de ressentimento nos desidentifica do nosso estado íntimo de harmonia, que sabemos possuir, para nos manter imantados, identificados, atados, as ocorrências infelizes de um momento passado.
Bem disse Martin Luther King: O perdão é um catalisador que cria a ambiência necessária para uma nova partida, para um reinício.
Por que continuar amarrado ao seu passado?
O passado já não é mais e o futuro não é ainda, conforme Santo Agostinho.
Hoje é o dia. Agora é o momento de trilharmos um novo caminho, em viagem pela estrada que nos leva para dentro de nosso ser, onde nos encontraremos conosco mesmo, retomando nossa identidade.
Perdoar é lembrar do fato sem se ferir e sem sofrer. Isso é cura. Por isso é uma decisão, não um sentimento.
Recordemos que o Mestre dos mestres era tão tranquilo que talvez tenha sido o único na história a ter coragem de convidar pessoas a beber da fonte de sua tranquilidade. São dele essas palavras: Venham a mim todos os que estão cansados sob o peso do seu fardo e eu lhes darei descanso.
Em certo diálogo com Pedro, este perguntou à Jesus quantas vezes deveria ele perdoar aquele que o magoasse, sete vezes? E o Psicoterapeuta Ideal respondeu-lhe: não digo à você até sete, mas até setenta vezes sete vezes.