Eu sou de um tempo em que, aos domingos à tarde, o único cinema da cidade abria suas portas para a chamada “matinê”.
Filmes leves, histórias simples para as crianças e jovens, ali quase sempre acompanhadas pelos pais, ou melhor, pela mãe, pois o pai não se dispunha muito a isso.
Televisão começava a surgir. Cinema era a diversão.
Em uma dessas ocasiões, vi minha mãe chorar ao ouvir uma canção e ao se deixar envolver pelo filme.
Eu a observava com olhos curiosos e, na minha inocência, achava que ela chorava pelo que eu podia ver: uma cena triste do filme, uma melodia que se dissolvia no ar. Mas a verdade era outra, uma verdade vasta demais para meu entendimento infantil…
Minha mãe não chorava pelo que estava diante dela.
Ela chorava pelas coisas invisíveis, pelos mundos internos que não se explicam, pelas memórias que ela carregava como relíquias em seu coração.
Ela chorava pela eternidade que morava dentro dela – uma eternidade que eu, ainda pequeno e limitado aos momentos de distrações, brinquedos e brincadeiras, não sabia que existia.
… Os anos passaram, e o tempo, o grande escultor de nossas almas, moldou em mim essa mesma sensibilidade, a mesma capacidade de me comover diante das pequenas coisas…
Hoje, sou eu quem se emociona com uma melodia, com o brilho de uma estrela solitária, com o cheiro da terra depois da chuva, com o silêncio da madrugada, com os primeiros raios de sol de um amanhecer, com o canto dos pássaros, com o sorriso de uma criança…
Descobri, enfim, que a memória e o tempo não são aliados; são rivais, duelando como dois gigantes antigos.
O tempo corre, inquieto, querendo apagar cada traço de nossos dias, cada marca de nossos passos.
A memória, porém, resiste. Ela toma aquilo que foi e o guarda em uma fortaleza invisível, onde os momentos, ao invés de morrerem, transformam-se em eternidade.
Criança que fui, hoje me dou conta de que crianças são abençoadas pelo tempo; ainda caminham na superfície da vida, com a inocência dos que não sabem que o presente é fugaz.
Para elas, um filme é apenas um filme, uma canção é apenas uma canção.
Não imaginam que estão mergulhadas em um lago de eternidade em que cada riso, cada brincadeira, cada abraço se gravará para sempre nas profundezas de seu ser… e em um dia qualquer, tudo volta…
Mas o tempo, inclemente e inevitável, avança…
… Envelhecemos; nossos filhos crescem, nossos amigos partem, nossos pais se vão…
E ainda assim, dentro de nós, tudo permanece!
Na memória, somos eternamente jovens, eternamente cheios de esperança, eternamente prontos para amar e viver.
Cada instante que vivemos, cada pessoa que amamos, cada saudade que cultivamos no peito, constrói um templo secreto dentro de nós, um lugar onde o tempo não entra, onde o que é verdadeiro permanece, onde o que amamos se torna indestrutível.
A capacidade de nos emocionar vem dessa riqueza oculta…
E é por isso que às vezes, sem aviso, somos tomados por um enternecimento profundo, por uma lágrima inesperada, por uma alegria contagiosa, por uma saudade doída.
Em um dia qualquer, no meio da rua, ao ouvirmos uma música antiga, o coração subitamente se estremece…
Para os outros, é apenas uma canção; para nós, é uma lembrança que desperta o ontem, uma mão invisível que nos toca delicadamente o ombro e nos diz, sussurrando, que não estamos sós e nos fala dentro do coração: “ei, sou eu, e trouxe comigo aquele momento… Lembra-se?”
Então, o passado se abre diante de nós como um livro mágico, e somos transportados para um tempo distante, uma tarde perdida, um abraço esquecido, um toque de mão velado, um sorriso maroto, uma “arte” escondida…
A memória é implacável; ela é um farol que ilumina os recantos mais escondidos da nossa alma, lembrando-nos que tudo o que amamos vive eternamente em nós.
Há amigos que o tempo tenta arrancar de nossas vidas, mas a memória os segura firme.
E quando reencontramos um deles, depois de tantos anos, é como se, em um piscar de olhos, o tempo recuasse, como se estivéssemos de volta à juventude…
Nossas risadas ecoam com a mesma alegria de outrora, nossos corações se aquecem como nos velhos dias.
Podemos ter os cabelos brancos, as mãos trêmulas, as costas curvadas, mas ali, naquele instante, somos jovens outra vez, tocados pela magia de um tempo que não passa!
A memória guarda nossos amigos, nossos amores, nossas antigas loucuras e brincadeiras, como joias preciosas escondidas do tempo…, bem escondidas.
Com nossos pais, também, a memória lança suas raízes.
Não importa quantos anos tenhamos, diante deles sempre seremos crianças.
Para nossos pais, não deixamos de ser os pequenos que corriam pela casa, os que traziam a vida alegre ao lar, preenchendo e ocupando todo o espaço, os que pediam histórias e brincadeiras ao cair da noite, teimando em não querer dormir.
Porque, também para eles, o tempo não apagou aquelas lembranças; ao contrário, a memória se alimentou delas, se sustentou porque amou, e o que a memória ama, se eterniza!!
E é por isso que dizer adeus a quem amamos é uma dor que o tempo não cura. Dizem que o tempo acalma, mas a verdade é que o tempo apenas cobre a dor com um véu fino, frágil demais.
A memória, em sua obstinação, preserva aquilo que amamos e o traz de volta, quando menos esperamos, em um cheiro, uma palavra, uma melodia, um sorriso, um por de sol, uma velha fotografia…
Enfim, o que foi amado não desaparece, mas repousa nas profundezas de nossa alma, esperando o momento de renascer em nós.
Também nós, um dia, seremos memórias, lembranças queridas na vida dos que nos amaram…
Quando partirmos, nosso rosto, nossas palavras, nossos gestos permanecerão gravados no coração dos que ficam.
… E enquanto alguém se lembrar de nós com ternura, enquanto uma lágrima, uma brincadeira ou um sorriso nos recordar, viveremos além do tempo, como um sussurro que nunca se perde, como uma chama que nunca se apaga, iluminando o caminho de quem nos carrega no peito.
No final, somos feitos de lembranças, e é na memória daqueles que amamos e que nos amam, que nos tornamos eternos, vivos sempre, do outro lado do tempo, como estrelas que pulsam e brilham incansáveis, mesmo que invisíveis…!
Amar é o verdadeiro sinônimo de eternidade. O fio invisível que nos liga ao infinito…
É o amor que nos mantém vivos, não apenas no agora, mas na imensidão daquilo que não se vê, na eternidade daquilo que se sente.
Ame profundamente, sem medidas, sem reservas…
Ame e descubra, desde agora, a essência e o maior propósito da Vida: transformar o momento em eternidade, o efêmero em infinito, o amor em luz que nunca se apaga!
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