A individuação é o tornar-se um consigo mesmo, e ao mesmo tempo, com a humanidade toda, em que também nos incluímos. – C. G. Jung
Conceitualmente, indivíduo é o ser social, o ser humano, assim visto de modo geral numa sociedade ou coletividade.
Individualidade apresenta conjunto de atributos que distingue um indivíduo de outro, com manifestação de originalidade, de identidade própria, o que se lhe faz único. É resultado de um processo chamado de individuação.
O processo de individuação, por sua vez, é a busca de quem somos, a que viemos, sem desconsiderar o nosso meio. É a arte de encontrar-se consigo mesmo sem isolar-se do mundo e das pessoas, sem ser individualista, mas com uma busca profunda de autoconhecimento e de individualidade, de plenitude. Ação intencional e pessoal de individualizar-se, ao assumir características que são apenas suas; e que, por isso, torna-se diferente, ou se distingue dos demais.
De indivíduo à individualidade plena, somente com empenho pessoal, consciente, num processo contínuo de individuação.
A figura da criança que, inicialmente dependente dos pais para os primeiros passos, começa a arvorar-se a caminhar por conta própria, nos dá ideia de uma vontade aplicada com esforço e persistência, sem se intimidar com os tombos.
Mesmo titubeante, agora vai aos lugares que deseja, ou, ao menos, tenta. Mas, finalmente, consegue sua autonomia.
Isso não faz com que ela desconsidere e deixe os seus pais, apenas altera modo de sua relação com eles.
Cresce, ganha o mundo com sua individualidade em formação, sem perder, em condições normais, seus vínculos com o ente coletivo que é a família; o mesmo acontece quanto sua relação com a sociedade em geral.
Não nos lembramos como nem quando foi nosso primeiro passo sem a ajuda das mãos dos pais. Mas o domínio da habilidade adquirida está em nós até hoje.
Talvez sejamos hoje velocistas, batemos recordes. Mas houve um primeiro e inseguro passo, que não desapareceu em nós: aprimorou-se.
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A atenção que convidamos ter é pela necessidade de nos identificarmos como indivíduo que pode e deve considerar a realidade prática vigente, os usos e os costumes do meio em que vivemos, com empenho, porém, para deixar de ser apenas mais um no contexto geral.
Ter pensamentos, sentimentos e comportamento próprios.
Falamos em fazer o que deve ser feito com aceitação consciente da empreitada em nosso favor.
Distinguir o que deve ser feito; do que pode ser feito; também do que pode, mas não se deve; e do que pode e deve ser feito.
Individuação é como um copo (indivíduo) em que escolhemos a água com que vamos preenchê-lo e deixamos de fazer uso da bica de água em praça pública.
Depois de uma noite em sono profundo, o abrir dos olhos é confuso, sem se saber ao certo onde está, nem que horas são.
Acordamos, tomamos ciência do espaço, assumimos o dia, começamos com os quefazeres da higiene, alimentação, arrumações, escola, trabalho etc.
Atendemos aos compromissos, nos arranjamos com os imprevistos, não perdemos de vista o restante do dia, e ainda estudamos melhoras ao nosso proceder.
Lembramo-nos do ontem, cogitamos do amanhã, mas prezamos o momento-agora.
Enriquecemos nosso dia com as relações de afeto, com as boas lembranças; sorrimos nossos sorrisos, choramos nossas lágrimas. Vivemos as virtudes e os pecados.
A força mesma das circunstâncias, quando não seja deliberação própria, leva-nos na busca de um viver cada vez melhor. A busca do bem-estar é lei natural do progresso.
Sentimos e percebemos que nossas escolhas fazem a diferença.
A melhor escolha decorre da significação daquilo que resulta no preenchimento de nossas expectativas, nossos desejos, nossos sonhos.
A cada dia, experiências novas que facultam a que nos reconheçamos, nos aceitemos e nos superemos.
À medida do nosso amadurecimento emocional:
O “eu” identifica-se com o “nós”.
A família, que é a mesma, se reveste de novos e reais valores.
Os afetos são vistos com a sensibilidade que o coração que ama alcança.
Aquele que era importante em sua vida, passa a ser essencial.
E muito do que era importante, passa a ser secundário, como moda, marcas.
O supérfluo cede lugar ao necessário. O necessário se contenta com o suficiente.
Ultrapassamos os limites e contornos da natureza, e conseguimos divisar o transcendente de uma inteligência não-local e superior que tudo rege harmonicamente, a qual, pela sua manifestação, também indica haver algo mais sublime que abre caminhos onde não havia caminhos, qual fenômeno alquímico que transmuta o “chumbo” dos sofrimentos em “ouro” de felicidade.
Do mortal se revela o imortal.
Ontem, somente o concreto, indicava vida; agora o abstrato da força mental assume existência e passa a ser primordial, objetivo, palpável, alcançado por nós, sentido por nós.
O “suor” do trabalho deixa de ser somente atividade exaustiva em função de conseguir coisas, e passa a ser atividade útil em favor do alcance do bem-estar, da completude pessoal, familiar, social: consciência, mente, corpo, integram-se em nós e consideram a permanência do próximo e seus anseios e necessidades, ao nosso lado, para, juntos, fortalecidos pela união – condição para caminhada com segurança -, apoiados um no outro, nos apresentarmos diante da Vida, como filhos do cosmos, sem deixarmos de ser, de cada um, quem somos, do mesmo modo que a gota de água no oceano, se faz oceano, ao integrar-se nele, sem perder-se nele.
Nasce o sentimento e o respeito pelo comum de todos, da vida em comunidade, com fraternidade e solidariedade como diretrizes.
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Certa feita, crianças brincavam numa estrada de ferro abandonada. Divertiam-se ao se equilibrarem sobre os trilhos e disputar quem chegava mais longe. Não excediam as margens de um lodo adiante, que os trilhos cruzavam por sobre uma ponte também antiga, sem parapeitos. Insegura portanto.
Havia uma lenda de que do outro lado do rio, tinha uma mina de ouro, que, antes, enchia os vagões de riqueza por ali transportados.
Claro que as crianças desejavam muito ir para o outro lado. Nenhum, no entanto, sentia-se em condições de cruzar sozinho a velha ponte sobre um trilho.
Certo dia, um deles, saiu do lugar comum das ideias dos demais amigos, resolveu atravessar. Sabia que seria arriscado ir só.
Então convidou um outro amigo e propôs-lhe caminhada em conjunto.
Um em cada trilho, lado a lado, apoiados um no ombro do outro. Cadenciadamente, passos combinados.
Com cautela, mas com destemor, os dois cruzaram, finalmente, a ponte.
Os demais, encorajados pelos pioneiros, formaram as duplas e enfrentaram o desafio, com êxito.
Agora, todos juntos do outro sonhado lado, era ir ao encalço da velha lenda.
Da velha mina, nada de valor aparente encontraram.
Passos adiante, uma gruta, que dava mostras de que ali alguém teria vivido largo tempo, pelas sujeiras e restos que estavam pelo chão. Além de uma experiência na pobreza, quase míngua, pois o que se via eram sobras do que se colhia da natureza naquela região, também demonstrava relaxo, por acumular tanta sujeira e permitir-se viver com quase nada de alimento.
Sem tesouro, as crianças resolveram fazer daquela gruta um abrigo para suas brincadeiras, como símbolo da conquista de novas terras, que a ousadia de uns, permitiram conquista de todos.
Assim, sempre que quisessem, para ali viriam para brincar.
Começaram a limpeza.
Como primeira providência, enquanto outros buscavam velha gamela que havia ficado na mina, para que tivessem água sempre que precisassem, começaram retirar os primeiros entulhos e fazer a varrição do chão.
Qual não foi a surpresa ao se depararem com evidentes marcas de um novo veio de ouro que se destacava no chão, surgido pela movimentação do solo causada pelas explosões com dinamite na velha mina ao tempo da produção.
E foi voz comum entre eles: – um andarilho havia dormido em pobreza extrema, talvez por anos a fio, sobre um grande e valioso tesouro, que teria sido por ele descoberto e o teria enriquecido para as gerações seguintes, se ele tivesse tido a iniciativa de simplesmente limpar o lugar em que morava, remover as primeiras camadas de sujeira e jogado fora sobras inúteis.
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O nosso processo de individuação começa com o tesouro que descobrimos em nós mesmos, desde o primeiro passo, sozinhos, e ao longo da jornada.
Já como resultado da individuação, constamos que é preciso remover o inútil de nossas vidas acumulado até hoje – crenças, valores, hábitos, comportamentos, inclusive coisas -, e assumirmos nova condição, individualidades que somos, com ciência da interdependência com o próximo e com a natureza.
Caminharmos juntos, apoiados pelas ações comuns, rumo a mesma destinação. O que hoje, para um ser, nada significa de útil, poderá ser o tesouro sonhado de outro ser, que valorizará imensamente essa doação. Desapegar-se, desprender-se da inutilidade em todos os âmbitos da vida é essencial para a libertação!
Aprendemos que enxergaremos mais longe se apoiados em ombros de gigantes.
É premente nos tornarmos a mudança que desejamos para o mundo.
Alcançaremos a individualidade – plenificados – se suprirmos nosso existir com a nossa integração harmônica espírito-matéria, mente-corpo, conscientes de que é condição evolucionária para todos, o amor a si próprio, ao próximo e ao Todo, quando, então, não mais nos veremos como “eu” em lutas para vencer os outros, mas transformados em “nós”, em luta para vencermos a nós mesmos.
De indivíduo à individualidade, tudo começa com o despertar para a vida, seu significado, sua razão de ser, conscientes de nós mesmos e do quanto ainda precisamos crescer em espírito rumo ao ilimitado, de nos expandirmos para além dos cinco sentidos, não mais escravos do ego dominante, mas como consciência livre, com infinita capacidade imaginativa, laborativa, criativa, realizadora.
Nosso caminhar não cessa e vai para além da curva final da existência. Somos filhos do Infinito. A eternidade é nossa companhia.
O “tesouro” da existência não está numa gruta, ali, depois da ponte. Está a um passo, no tempo de apontar o dedo indicador em direção de nosso coração, onde desparece espaço-tempo, dia-noite, feliz-infeliz. Ali, no coração, nós já somos unidade. Basta encontrarmo-nos.
Retiremos os véus da ilusão.
Somos construtores da realidade que desejarmos.
Saber escolher é discernimento compatível com uma mente desperta.
Escolher a riqueza do espírito, escolher ser e não só ter, é usar a inteligência em nosso favor.
A utilidade de um vaso não está na sua aparência, mas no vazio do seu interior. Com o que preenchê-lo é opção nossa.
Diz o senso prático que abastecê-lo com a “linfa refrescante” da saúde, da paciência, das virtudes, que servirá para nos dessedentar ao longo da jornada redentora da evolução, uma vez que é certo que o “calor causticante” das provas e das vicissitudes não dispensará ninguém, é não só providência devida, como medida de sensatez.
Muitas pessoas se apresentam em nosso dia a dia, por força das circunstâncias; com quem continuar a caminhar é decisão nossa.
As ideias e os modelos existenciais são fartos e disponíveis a qualquer um. Adotar estilo de vida saudável e com leveza moral é aquiescência de nossa lucidez.
Viver, todos vivemos. Viver com sabedoria é diretriz de quem quer não somente o melhor para si próprio, mas para todos e tudo.
Sobreviver é lei da vida. Bem viver é encontro da melhor escolha com a consciência do dever.
Caminhar em constante superação para alcançar a plenitude do ser, não é se esforçar para ser perfeito, mas para ser o melhor possível, em todos os sentidos, a cada dia, e sempre mais.
Não conseguir mudar o vento para direcionar a embarcação, é o óbvio; no entanto, ajustar as velas do barco para colocá-lo no rumo ao destino desejado, é trabalho factível ao marinheiro desperto e experiente.
Saber do porto que desejamos atracar a embarcação que nos conduz pela vida é condição para navegarmos com inteligência e assertividade.
Este é momento de decisão, de escolhas.
Somos livres no mundo mental. Tracemos o adequado plano de ação e nos ponhamos a caminho, permanente caminhar rumo a plenitude.
Desejemos e realizemos um dia a dia:
em estado de equilíbrio emocional, mental, físico;
com relacionamentos pessoais simpáticos e amenos;
em manifestação e recebimento de afetividade sincera e intensa;
com vivência sexual responsável e saudável;
dedicado ao trabalho com o vigor do ânimo em alta;
com períodos de sono refazentes;
abastecido por uma alimentação nutritiva e amiga do corpo;
rico de respiração correta e tonificante;
em constante elevação do foco mental, do raciocínio mais ágil e claro, dos movimentos com autodomínio de coordenação e propósitos, que a meditação regular proporciona;
premiado por exercícios físicos que não onerem as resistências e consumam a energia que dá suporte geral;
com tempo para apreciar a natureza;
com sentimentos devotados ao belo, ao bom, ao belo e ao justo;
focados nas razões do existir;
em garimpagem de valores no exercício do autodescobrimento;
integrados e pertencentes à Consciência Cósmica, consciência infinita que somos.
Esses são resultados práticos que o processo contínuo da individuação nos dá.
Olhemos uma semente. O seu embrião, naquele momento, é símbolo de pura promessa, e conduz no seu invisível, a essência de tudo o que produzirá. Com tempo, em condições normais, eis a árvore frondosa, repleta de frutos.
A plenitude de nossa individualidade repousa adormecida em nosso coração, em nossa consciência, qual a essência no embrião da semente. Bom aproveitamento do tempo, a vida a fluir como deve ser, e eis-nos, para logo, a resplandecer os frutos da saúde, da paz, da felicidade.
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