SER QUEM SOMOS – O SUTIL CHAMADO DA ALMA!

Assim como o agricultor que lança a semente na terra, nós também somos chamados a semear a semente renovadora no solo da nossa própria alma.

Antes de qualquer plantio na terra do coração, é preciso cuidar do terreno: arrancar as ervas daninhas das ilusões, revolver as camadas antigas de crenças, nutrir a terra seca da nossa interioridade.

O agricultor não se apressa; ele sabe que o tempo é sábio, que a terra tem seus ritmos, que o céu e a chuva têm seu próprio compasso. E, por isso, ele prepara, ele cuida, ele aguarda.

Nós também devemos nos preparar, cuidar e aguardar, com a mesma paciência e dedicação, o florescer da renovação.

O agricultor conhece os obstáculos – a seca, as pragas, as intempéries que podem vir sem aviso. Ele sabe que, para que a semente germine, precisa estar atento, cuidando do que é essencial e removendo o que é supérfluo.

Do mesmo modo, nós devemos cuidar de nossa vida interior: há ervas daninhas que precisam ser arrancadas, pensamentos tóxicos que nos sufocam, medos que nos limitam.

O solo do nosso coração e mente precisa ser limpo, arado e renovado, pois a colheita depende da pureza do terreno em que semeamos, assim como da delicadeza e atenção no cuidado, para que as mudanças verdadeiras possam germinar e frutificar, sem ervas-daninhas-comportamentais indesejadas.

A vida nos oferece uma escolha: podemos nos contentar em ser espectadores passivos ou podemos nos tornar os agricultores do nosso próprio destino.

A mente humana é uma terra vasta e fértil, capaz de conceber tudo o que possa imaginar e acreditar.

Mas, para isso, é preciso que assumamos a responsabilidade por essa criação, que tomemos nas mãos o arado de nossa própria vontade, e que lancemos, com intencionalidade, as sementes do que desejamos cultivar.

Ser o agricultor de si mesmo é entender que cada pensamento, cada emoção, cada escolha é uma semente que brotará no jardim do nosso futuro.

Há, é claro, os desafios do caminho…

A vida nos apresentará obstáculos e adversidades, e em cada um deles seremos postos à prova.

Mas lembre-se: as grandes colheitas não nascem do acaso, mas do esforço contínuo, da atenção aos detalhes, da coragem de enfrentar as tempestades sem perder a fé na semente.

Tal como o agricultor que sabe que a semente precisa de tempo para brotar, também nós precisamos respeitar o tempo da nossa alma.

A transformação não é uma questão de pressa, mas de profundidade, de aceitação e interiorização, de enraizar-se no que é essencial.

Quantas vezes carregamos em nós a dureza de um solo ressecado pelas dores passadas, endurecido pelas mágoas não resolvidas, fechado por expectativas que nunca foram realmente nossas?

Assim como a terra que não absorve a água, nossa mente, quando sobrecarregada de angústias antigas e ressentimentos ocultos, perde a capacidade de nutrir o novo, de acolher o crescimento. E as sementes da transformação simplesmente não encontram espaço para criar raízes.

Precisamos amolecer essa terra interna, aprender a nos abrir com o mesmo cuidado que o agricultor que revolve o solo, com paciência, com reverência pelo tempo natural de cada processo.

Essa suavização não acontece através de uma força bruta ou de pressões impacientes. Ela ocorre quando escolhemos observar nossas feridas sem julgamento, quando permitimos que o sol da autoconsciência ilumine aqueles cantos sombrios de nossa alma onde escondemos fragilidades em forma de sombras.

E é preciso coragem para isso!

Porque, ao expor essas sombras à luz, somos chamados a encará-las, a compreendê-las e, por fim, libertá-las.

O sol da autoconsciência, tal como a luz do amanhecer, não surge de forma avassaladora, mas vai, aos poucos, dissipando a escuridão, revelando contornos, tornando visível o que antes estava oculto.

Cada raio de compreensão que permitimos entrar é um pouco mais de vida que acolhemos, um pouco mais de aceitação, um pouco mais de compaixão.

A transformação genuína, aquela que enraíza, sustenta e se expande, requer um compromisso com o tempo. Requer que nos desvencilhemos da pressa, que não é nada além de um reflexo das expectativas do mundo exterior.

Ao invés de nos apressarmos em mudar, em arrancar à força as partes de nós que não nos agradam, precisamos aprender a escutar com o coração, a entender com discernimento o que cada dor nos revela, o que cada cicatriz nos ensina. Ouça as lições das dores, porque cada mágoa, cada expectativa que carregamos sem perceber, é como uma camada de terra que precisa ser amolecida, cuidada, transformada.

Quando o agricultor observa seu campo, ele não pede que a semente apresse seu brotar. Ele apenas a alimenta, a protege, a deixa à mercê do ritmo natural da vida.

Precisamos dar a nós mesmos o espaço do acolhimento e o tempo para amadurecer valores, permitir que as raízes de nossa verdadeira essência se aprofundem, aguardar o desabrochar de nossa alma, sem forçar, sem atropelar o processo.

Esse é o respeito que devemos ao nosso próprio crescimento: reconhecer que há um tempo certo para cada transformação, que as flores não brotam no inverno, que os frutos não amadurecem antes da primavera.

A jornada interior pede tempo e entrega, porque a verdadeira mudança ocorre no silêncio, nas profundezas, onde o que é essencial brota com força e propósito.

Esse respeito pelo tempo da alma não é um adiamento, não é uma desculpa para permanecer na inércia. Pelo contrário, é um compromisso profundo com o que realmente somos, com a clareza de que cada passo é uma preparação para o próximo. E que, ao respeitar o ritmo do nosso próprio solo interno, nos abrimos para uma transformação que não apenas altera a superfície, mas enraíza profundamente a nossa verdade.

É um ato de amor consigo mesmo…

É a prática da espera ativa, da disciplina que alimenta a persistência e da aceitação que sustenta a determinação, porque transformar-se verdadeiramente não é uma questão de velocidade, mas de autenticidade.

E, no entanto, quantas vezes fugimos dessa responsabilidade? Quantas vezes preferimos fechar os olhos para o que é doloroso, colocar máscaras sobre o que é desconfortável, fingir que o solo de nossa alma está fértil enquanto, em silêncio, ele clama por cuidado? Quantas vezes nos iludimos, escondidos atrás de aparências que nada dizem sobre quem realmente somos, buscando fora de nós o que só pode ser encontrado dentro?

É um paradoxo estranho, mas nosso conhecido de muito tempo, chamado de autoengano: fugimos de nós mesmos enquanto clamamos por autenticidade. Alimentamos ilusões enquanto ansiamos por clareza!

Mas ignorar o que está em nossa essência não nos salva da verdade latente…

Da mesma maneira que o sol não deixa de brilhar porque decidimos fechar as cortinas, a nossa verdadeira natureza continua ali, esperando, mesmo que a tentemos ocultar sob camadas de distrações e de aparências.

Ignorar a presença do sol não apaga sua luz!

Ignorar o que somos não silencia o chamado de nossa alma…!

Quantas vezes, em nossa pressa por respostas fáceis, tentamos pintar de verde o solo árido da nossa vida? Quantas vezes recorremos às distrações, aos caminhos mais curtos, aos atalhos que nos poupam do trabalho dedicado de revolver a terra, de descer ao âmago das nossas dores, de enfrentar as sombras que habitam em nós?

É fácil dizer a nós mesmos que está tudo bem, que somos suficientes assim, que as feridas podem ser deixadas intocadas, que as cicatrizes podem ser cobertas.

Mas nada que é ignorado desaparece!

Cada fragmento de dor enterrado, cada emoção sufocada, permanece ali, como sementes que esperam pacientemente o momento de germinar, transformando-se em ervas daninhas que sufocam o nosso campo interno.

Como podemos nos transformar se não estamos dispostos a olhar para o que precisa ser mudado? Como podemos esperar colher frutos se não estivermos prontos para remover as folhas secas, para desbastar as ilusões que nos impedem de florescer?

É preciso coragem para olhar com honestidade para o solo de nossa alma, para reconhecer onde ele está infértil, onde ele precisa de umedecimento, onde há pedras que dificultam o crescimento.

Fugir de nós mesmos é escolher a estagnação, é permanecer em um ciclo de ilusões, é negar o direito de florescermos! É o caminho errado para os que desejam a renovação!

Mas o que é essa coragem? É uma força heroica? – Não, ela é mais sutil, mais silenciosa. Ela é a aceitação de que o crescimento não é linear, de que a jornada é feita de altos e baixos, de estações que se sucedem.

A coragem que precisamos não é para grandes gestos externos, mas para uma quietude interna, uma disposição para escutar as dores que abafamos, para acolher as sombras que escondemos, para olhar para o que é desconfortável sem desviar o olhar.

É a coragem de um agricultor perspicaz que, antes de semear, se abaixa para sentir a terra em suas mãos, a fim de perceber suas necessidades, para ouvi-la em seu silêncio. Essa coragem não é audaciosa; é humilde e sábia.

No campo pessoal, a mesma coragem nos convida, com a ousadia de quem quer florescer e frutificar, a descer das alturas de nossas ilusões e a encontrar a verdade no solo comum de nossa humanidade, humanos que deveríamos ser!

E, ainda assim, muitas vezes damos as costas… dedicamos atenção ao barulho do mundo, valorizamos as expectativas alheias, corremos atrás daquilo que os outros dizem que precisamos.

Tentamos fugir porque o caminho para dentro parece ameaçador. E, no entanto, é apenas no silêncio do nosso ser que a transformação verdadeira pode acontecer.

Fugir de nós mesmos é um gesto precipitado, mas voltar-se para dentro, olhar para nossas próprias raízes, é um ato de amor, esperança e renascimento!

Porque, veja, o solo da alma tem uma sabedoria própria!

… Ele conhece o tempo das coisas. Ele sabe que cada semente precisa de um período de escuridão, de uma profundidade onde a luz não chega, antes que possa brotar.

O solo não teme o silêncio; ele o acolhe…!

Precisamos aprender a ser como o solo, e acolher nossos invernos internos, aceitar que há momentos de dormência e de silêncio. Porque é nesse espaço de quietude que as raízes se fortalecem, que as sementes se preparam para sair do estado vigente, romper a terra e buscar a luz!

Ignorar a nossa essência, mascarar o que somos, é trair esse processo sagrado. É negar a beleza de nossa própria jornada, a sabedoria das nossas dores, a profundidade do que podemos vir a ser.

Transformar-se exige uma entrega radical, uma abertura que vai além das aparências. É preciso coragem para permitir que a luz da consciência ilumine os recantos escuros de nosso mais íntimo ser, para que possamos reconhecer que o solo de nossa vida, mesmo com todas as suas falhas, é fértil quando estamos dispostos a cuidar dele.

É essa honestidade com nós mesmos que nos torna inteiros, que nos devolve a nossa verdadeira face, despida das máscaras que tanto nos pesam.

E talvez, ao final, seja isso o que buscamos:

Não uma perfeição inatingível, mas a beleza simples de sermos quem somos

Não um solo sem falhas, mas uma terra viva, que aceita cada estação com a sabedoria de quem sabe que a vida se renova em ciclos…

E, ao abraçarmos essa verdade, ao reconhecermos o valor da nossa própria essência, nos tornamos, enfim, jardineiros conscientes de nossa própria existência, dispostos a zelar pelo solo de nossa alma com paciência e amor.

Porque, no fim, é apenas assim que florescemos. Não pela fuga, não pela pressa, não pelas aparências – mas pela coragem de sermos, finalmente, nós mesmos.

Quando acolhemos nossa realidade interna, quando abraçamos o compromisso com nossa autenticidade, começamos a plantar um jardim de força e verdade.

E como o agricultor que observa pacientemente suas plantas crescendo, devemos ser vigilantes com o que cultivamos em nossa mente. Cada pensamento pode ser uma erva daninha ou uma flor; cada emoção pode nos fortalecer ou nos enfraquecer.

O caminho para a liberdade interior começa com a clareza de que somos a força criativa de nossa própria existência!

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