SOBRE RESILIÊNCIA
Neste mundo, nada é mais maleável e frágil quanto a água. Contudo, ninguém, por mais poderoso que seja, resiste à sua ação (corrosão, desgaste, choque de ondas), ou pode viver sem ela. Não é bastante claro que a flexibilidade é mais eficaz que a rigidez? Poucos agem de acordo com essa convicção. – Lao-Tsé
Resiliência é um termo usado na linguagem acadêmica, que veio migrado da física.
Significa a resistência de uma substância a fortes pressões, temperaturas extremas e a quaisquer outros fatores externos, e que, ao final de tudo, o estado inicial voltará a prevalecer.
A água é um exemplo clássico de alta resiliência. Tomemos o seu exemplo para nossa melhor compreensão.
Esta substância é totalmente passiva quando as necessidades lhe pressionam a mudar de forma ou de estado. Com o calor torna-se vapor; com a ausência do mesmo se solidifica. Adapta-se ao meio. E basta novamente só um comando para voltar a ser o que era antes. Sem problema! Temos tido nós essa sabedoria, flexibilidade e renúncia?
A água também vai aonde deva ir. Viaja pelo mundo, sendo tomada por correntes a lugares às vezes paradisíacos, e outras tantas para os confins mais inóspitos da Terra. Mas se for necessário dar uma parada, pode ficar ali para sempre sem reclamar. De uma grande onda havaiana, belíssima e imponente, ou uma majestosa cachoeira, a um remoto e profundo iceberg.
Ela ainda também nos dá outro ensinamento: Se envolve com qualquer tipo de substância mais não perde sua essência. Com certos até convive de perto mais não se mistura. O óleo bem que tenta. Pela aparência pode até parecer que se perdeu, mais continua água. Juntos, mas não misturados.
Esta é a força de resistência que observamos neste composto maravilhoso. Mesmo com toda esta capacitação, ela não exige lugares de glória. Seja qual for o espaço que lhe estiver reservado, pequeno ou grande, estreito ou largo, de difícil ou fácil acesso, ela irá se acomodar com perfeição. Estará satisfeita, pois foi designada para isso mesmo.
Assim, pessoa resiliente é caracterizada por um conjunto de atitudes adotadas pelo ser humano para resistir aos embates da vida.
A análise dos comportamentos leva à ideia de que todo ser humano traz dentro de si essa capacidade inata.
Alguns a estimulam por si mesmos sobrepujando guerras, maus tratos, conflitos diversos. Outros precisam de ajuda externa, seja de comunidades religiosas ou não, da família ou de terapeutas para ajudá-los a criar os fatores de proteção que suavizam os fatores de risco. Ou seja, são as forças internas e externas que contribuem para minorar esses fatores de risco. E a essa força chama-se resiliência. Assim, diz-se que um indivíduo é resiliente quando consegue superar (e não necessariamente eliminar) as adversidades, encontrando forças para superar e aprender com elas.
A forma como lidamos com os agentes estressores é que determinaria o grau de resiliência alcançado. O ser resiliente não foge das opressões e consegue neutralizar seus efeitos sem que necessariamente as mesmas sejam afastadas ou diminuídas.
Dá a volta por cima e segue adiante.
Ser resiliente também implica em aceitar as coisas como são, se não puderem ser modificadas. A angústia leva algumas pessoas ao desespero enquanto outras procuram consolo e resposta para os acontecimentos.
Aprendemos com Lao-Tsé: O rio atinge seus objetivos porque aprendeu a contornar obstáculos.
Mediante a coragem de defrontar os sofrimentos e os reveses e trabalhá-los corajosamente com os instrumentos da realidade, podemos modificar o nosso estado íntimo de aceitação ou não das circunstâncias, ensejando-nos ressignificar as ocorrências e seus efeitos em nós, mudando nossa forma de pensar e de ser.
Quanto maior a lucidez da consciência, melhor equipado o indivíduo na superação da amargura, do desespero, da infelicidade.
Um exemplo caracteriza bem o tema.
Terry Fox foi um atleta canadense e, mais notavelmente, um ativista para o tratamento de câncer em seu país.
Depois de perder uma de suas pernas para um sarcoma, Terry Fox, decidiu cruzar o país de costa a costa, para arrecadar fundos para a pesquisa do tratamento do câncer, pretendendo um milhão de dólares canadianos. Ele começou sua jornada em São João da Terra Nova, em Terra Nova e Labrador, na costa atlântica, em 12 de abril de 1980, e pretendia ir até Vancouver, Colúmbia Britânica, na costa pacífica, numa jornada que acabou conhecida como Maratona da Esperança.
Terry Fox correu durante a Maratona da Esperança, em média, o equivalente a uma maratona – 42 quilômetros – por dia. Após 143 dias consecutivos, e de ter percorrido aproximadamente 5.300 quilômetros, Fox foi obrigado a parar sua jornada, quando soube que seu câncer havia se espalhado para seus pulmões. Fox acabou morrendo alguns meses depois, aos 22 anos de idade.
A Maratona da Esperança arrecadou um total de 360 milhões de dólares canadianos para pesquisa sobre o tratamento de câncer.
Ato de coragem próprio de quem tem objetivo de vida, propósito de viver, resiliência.
Certa feita, questionado por um repórter se a sua meta de cruzar a pé todo o seu país não era ousada demais em face de sua deficiência física, respondeu-lhe que em momento algum ele anunciara que tinha esse compromisso (cruzar todo o seu país caminhando uma maratona por dia). Proponho-me sim, continuou ele com outras palavras, ao me levantar cada manhã, caminhar em direção a próxima árvore ou ao próximo poste, e assim sucessivamente, buscando vencer o caminho parte por parte, poste por poste, árvore por árvore. Se ao final de um dia caminhei 1, 30 ou 42 quilômetros, é consequência apenas, pois, na manhã seguinte guardarei o firme propósito de ir sempre em direção à próxima e seguinte árvore. Se caio, busco forças em Deus e me levanto, continuando a marcha. Os percalços, as dores, tolero-os e sigo em frente sem destemor. E concluiu dizendo: a vida para mim faz sentido, pois eu tenho um propósito de viver alcançável, já que o vejo sempre próximo, e, se não conseguir chegar ao grande final almejado, assim mesmo terei chegado ao meu ponto máximo, pois terei dedicado o meu máximo. A determinação é minha força motriz. Esforço e sofrimento que me custem, é o preço da passagem para a viagem que resolvi espontaneamente empreender.
A compreensão que o ser demonstra em torno dos objetivos de sua existência, facilita-lhe entender e aceitar o sofrimento e a necessidade de mais de empenhar em fortalecer suas resistências e melhor exercitar sua flexibilização sobre suas crenças, valores e critérios de vida. Reconhece que a única constante na vida é a mudança. E que seja para melhor, então.
Essa aceitação e superação dos desafios que a vida terrena nos oferece é que demonstram atitudes resilientes.
Bem observado, veremos que a resiliência pode nos levar a ser pessoas bem realizadas e resolvidas.
Em síntese, resiliência é:
- Suportar com dignidade os acidentes da vida.
- Enfrentar contrariedades e manter a integridade.
- Ter plena consciência de que vida é complexa e, como tal, possui fatos imprevisíveis e inevitáveis.
- Desenvolver flexibilidade diante das adversidades.
- Não culpar os outros pelas derrotas, mas usá-las para expandir a maturidade pessoal.
- Transformar o caos em oportunidade criativa e crescer diante da dor.
- Traçar pontes entre os projetos de vida e a disciplina perseverante.
- Dar utilidade à própria vida.
- Simplificar o modo de viver.
- Valorizar o próximo.
- Redescobrir o valor do trabalho também como fator de equilíbrio emocional, da solidariedade como fonte de bem-estar e refazimentos das forças mantenedoras da vida, e da tolerância, como rede de amortecimento das atitudes insensatas ou desgostantes.
Por mais que os Céus demonstrem a formação de forte chuva, e os raios e trovões prenunciem momentos de apreensão e possíveis estragos, anteveja o após a tempestade, com atmosfera mais limpa, os campos, as árvores e as plantações, verdejantes e promissoras, como se agora sorrissem em resposta aos Céus, agradecendo.
Assim em nossos dias. Que a esperança ocupe o nosso tempo e autoconfiança preencha nossos sentimentos.
Deixemos nossas lembranças reverem o Grande Poeta de Deus, Trovador da Esperança, com sua ética que era uma poesia e exalava como perfume, com quem a natureza foi destaque com seus exemplos vivos, dando-nos elementos simples para compreensão do mais complexo, o que demarcou suas lições para ficarem entre nós para sempre.
Ele apontou os lírios no campo, falou de como eles crescem e não trabalham, nem fiam; no entanto, afirmou, que nem mesmo o Rei Salomão, em toda a sua glória, se vestiu em beleza e graça como um deles.
Apontou as aves do céu, lembrando-nos, os que vivemos ansiosos pelo dia de amanhã ou pelos prenúncios de problemas que talvez nem cheguem, que elas nem semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros; mas o Grande Zelador da Vida as alimenta. E, com suavidade de Mestre sábio, nos deixa a pergunta no ar: Você não tem muito mais valor do que elas?
Não estamos em desamparo perante o Grande Todo, o Rei de Jade do taoísmo.
Confiemos, prossigamos, realizemos.
E, por fim, fala-nos também ao coração, Lao-Tsé:
Seja humilde, e permanecerás íntegro.
Curva-te, e permanecerás ereto.
Esvazia-te, e permanecerás repleto.
Gasta-te, e permanecerás novo.
Equipe INOVE