Reféns de Nós Mesmos (parte 1)

“Além das ideias de certo e errado, existe um campo. Eu te encontrarei lá.” – Rumi

A frase “a minha luta é vencer a mim mesmo” ressoa profundamente em muitos de nós, evocando a imagem de um enfrentamento contínuo, onde nossas qualidades superam o que não nos agrada tanto, incorporando em nossa personalidade o resultado alcançado.

No entanto, será que essa luta é realmente necessária? E mais: devemos tomar essa ideia de imediato como um guia para nossa jornada de desenvolvimento pessoal?

Embora essa citação carregue um significado poderoso, ela também traz à tona uma série de pressupostos que merecem ser analisados com cuidado.

Antes de nos lançarmos em uma empreitada de “superar” o que fala mais alto dentro de nós, devemos saber se já nos conhecemos o suficiente para identificar o que precisa ser mudado?

Sem o devido autoconhecimento, é fácil cair em armadilhas, entre elas a de tentar modificar aspectos de nossa personalidade ou comportamento, sem sequer compreender as razões mais profundas que os sustentam.

E, nesse caso, que tipo de mudança seria essa? Será que realmente estaríamos promovendo uma transformação genuína, ou apenas reprimindo partes de nós que ainda não compreendemos plenamente?

Talvez nossa verdadeira missão não seja lutar para vencer, mas lembrar para compreender…!

Lembrar quem somos por trás das máscaras que acumulamos, das camadas de condicionamentos que vestimos ao longo da vida.

O Autoconhecimento Como Ponto de Partida

O ponto de partida para qualquer processo de transformação verdadeira é, invariavelmente, o autoconhecimento.

Não podemos empreender mudanças significativas se não estamos plenamente conscientes do que precisa ser transformado.

Mas o que significa “vencer a si mesmo”? Seria sufocar nossos desejos, extinguir nossas fraquezas, silenciar nossas emoções? Ou seria mais sábio reinterpretar essa ideia como uma jornada de integração e compreensão?

O autoconhecimento não é uma prática esporádica de introspecção. Pelo contrário, ele exige coragem para confrontar nossas verdades internas, sem máscaras.

Ele implica em perceber que as falhas, muitas vezes vistas como inimigos, são oportunidades de crescimento.

Quando compreendemos por que agimos de determinadas maneiras, ou por que repetimos certos padrões, começamos a perceber que lutar contra nós mesmos pode não ser o caminho mais produtivo.

Afinal, qual é o sentido de uma batalha se o inimigo não é realmente um inimigo, mas uma parte esquecida ou incompreendida de nós mesmos?

Muitas das batalhas internas que travamos ao longo da vida não são realmente lutas contra nós mesmos, mas sim contra os condicionamentos que carregamos desde a infância, desde os primeiros passos na sociedade.

A vida nos molda de maneiras sutis, molda nossos comportamentos, nossas crenças e expectativas, que muitas vezes não refletem nossa verdadeira essência.

E, sem perceber, vestimos essas camadas de influência como se fossem nossa própria pele.

Desde cedo, somos bombardeados com ideias sobre o que devemos ser, como devemos agir, o que é considerado certo ou errado.

Muitas vezes, internalizamos essas ideias sem questioná-las, acreditando que elas são nossa identidade.

O resultado? – Lutamos contra o que acreditamos ser, quando, na verdade, estamos apenas travando uma batalha contra modelos externos que aceitamos sem perceber.

Uma pessoa pode passar a vida inteira tentando superar um sentimento de inadequação, sem entender que esse sentimento foi plantado por expectativas familiares ou por padrões de sucesso da sociedade.

Nesse caso, a luta não é realmente contra ela mesma, mas contra essas estruturas invisíveis que a afastam de quem ela é de verdade.

Desapego é a chave: desapegar-se das ilusões que foram impostas sobre nós e que aceitamos sem questionamento.

Muitas vezes, aceitamos ideias trazidas por terceiros e as transformamos em nossas próprias, sem refletirmos profundamente sobre elas.

Empenhamo-nos em nos moldar para se adequar a essas ideias, e nos vemos em conflito constante, pressionados pelos limites impostos por uma perfeição inalcançável, ao menos por agora…

E o que acontece quando usamos esses moldes como uma fuga de nossos conflitos internos, na esperança de que “mergulhando de cabeça nessa proposta, não haja tempo para se lembrar dos problemas mais afligentes e invalidadores que habitam nosso ser”? – Uma maior desconexão entre o que somos e o que aparentamos ser.

A Educação Insuficiente e o Autoengano

Parte dessa desconexão está enraizada em uma educação insuficiente – não apenas uma educação formal, mas uma educação emocional e espiritual.

A maioria de nós aprende a seguir fórmulas, a buscar metas externas, mas raramente somos ensinados a explorar as profundezas do nosso próprio ser.

Por ignorância, e não por falta de capacidade, acabamos criando versões de nós mesmos que se conformam com as expectativas externas, enquanto sufocamos o que realmente sentimos e desejamos.

Adotamos papéis impostos, buscando a aprovação dos outros e construindo identidades frágeis que podem ser aceitas pelos outros, mas nunca refletem quem somos de verdade.

Assim, o que parece ser uma “luta” para vencer a si mesmo é, na verdade, uma luta contra o autoengano.

Esse autoengano frequentemente nos leva à inflexibilidade comportamental.

Com o tempo, nossas crenças e hábitos se cristalizam, nos tornando rígidos, fechados à mudança, esquecendo que a verdadeira natureza do ser é fluida, mutável. Esse endurecimento nos distancia da nossa essência.

As crenças erguem-se como muralhas ao redor do coração, uma fortaleza que nos separa do horizonte infinito.

Até que essas pedras sejam derrubadas ou transcendidas, não poderemos tocar a vastidão do outro lado.

O Perigo de Se Tornar Refém da Própria Luta

Na ânsia da “luta comigo mesmo”, podemos nos tornar reféns dessa própria batalha.

A ideia de superação, quando mal compreendida, transforma-se em obsessão.

Passamos a acreditar que precisamos estar sempre corrigindo, sempre vencendo, sempre consertando nossas imperfeições.

Assim como um exército que sitia outro, ficamos tão presos à estratégia da batalha que nos tornamos reféns de nós mesmos.

A batalha contra o que percebemos como nossas falhas pode nos desconectar da verdadeira grandeza da Vida.

No esforço constante de corrigir, de melhorar, de vencer, perdemos de vista que a vida já está acontecendo.

“Quando estamos imersos na mentalidade de luta, esquecemos de viver plenamente!”

Será que essa luta incessante é realmente necessária?

Estamos focados em vencer nossas “fraquezas” sem perceber que, muitas vezes, esse foco estreito nos impede de perceber as soluções, as oportunidades e as experiências que estão à nossa volta, a um passo fora do círculo escravizante. E o pior, nos impede de ver nossa fortaleza!

A vida, com suas infinitas possibilidades, está esperando para ser vivida, enquanto nos distraímos com o que acreditamos ser nossas imperfeições.

Não é necessário criar caminhos para florescer; basta varrer o pó que encobre a alma, o véu que embaça a visão!

Quando os obstáculos caem, a luz da consciência desperta por si mesma, iluminando o vasto campo do ser com sua própria claridade.

Se é preciso buscar, procure não pelo que lhe falta, mas pelo que deve ser abandonado.

Desapegue-se! Ao soltar esse peso, você se verá mais leve para novos voos.

***(Este artigo terá continuidade na próxima publicação)

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