PENSAR BEM É UMA QUESTÃO DE HÁBITO

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos. – Fernando Pessoa

 

A caminhada prosseguia.

Os dois amigos se mantinham em marcha.

Logo após uma curva, o som de pequena queda d’água chamou-lhes a atenção. Não demorou e a viram, num pequeno recanto. Água fresca, sombra convidativa, o canto dos pássaros, chão recamado de pequenas flores de diversas cores.

Um deles, sentou-se para descansar.

O outro aproveitou para se refrescar no pequeno lago e caminhar em volta, apreciar detalhes, sorver o ar renovador, sentir o perfume e o frescor do ambiente.

Era preciso prosseguir.

Lá se foram, em conversa alegre.

De repente, uma cabra, assustada com a presença deles, correu e subiu algumas pedras, com muita agilidade. Distanciada, sentiu-se mais segura e parou.

Por trás da pedra onde a cabra se refugiou, elevação maior se destacava, e chamou a atenção dos dois.

O mais expedito deles saiu em direção ao lugar onde estava a cabra, enquanto o outro, em repetição de cena, preferiu sentar-se e descansar.

Uma pequena caminhada e o inquieto jovem subiu algumas pedras mais e se deparou com bela surpresa: além de exuberante mata nas encostas das terras elevadas, destacava-se um lindo vale, com encantador riacho, margeado por capões de mata espalhados aqui e ali, que formavam pequenos santuários como que dedicados ao encontro com o silêncio, a meditação, a integração com a natureza.

Irresistível, apesar de ser sacrificial descer até lá. Porém, tudo o chamava.

Gritou ao amigo que repousava, convidou-o para irem juntos explorar o pequeno paraíso. Ele sorriu, acenou que não e disse que preferia descansar.

Mesmo só, com a alegria de uma criança que ganhou um presente inesperado, desceu a íngreme encosta e acelerou o passo no campo que se ligava com o riacho, pequeno e caudaloso, que, com seu barulho envolvente, passava preguiçosamente por dentro de um natural túnel de galhos e folhas formado pelas árvores nas suas duas margens.

Chão de grama baixa, sombra refrescante, perfume agradável de mata úmida e flores silvestres, terreno que formava aconchego natural para se recostar e apreciar a exuberância entorno, ver os esquilos, as aves, o azul do céu por entre as copas das árvores, sentir a brisa.

Sem ter como se conter, o jovem emudeceu, reverente, em presença de tal beleza e harmonia.

Tudo irradiava mansidão e convidava ao silêncio e louvor ao Todo.

Tocado de doce emoção e colhido pela unção que de tudo exalava, sentou-se e se permitiu esquecer quem era para melhor sentir onde e com quem estava.

Passado um tempo não sabido, voltou a si de um sono não dormido, despertou de um sonho que ali já era realidade, onde o essencial da vida se vestia de natureza e permitia que cada um se sentisse ser pleno com o coração a pulsar em sintonia com mãe-terra, em unidade com ela.

Ali se presenciava a sutileza da realidade essencial, se respirava a vida em sua pureza, se experimentava o viver com pertencimento.

O jovem precisava ir, e não queria se afastar.

Se empenhou em guardar aquele momento-vida no âmago do ser, cujo vigor e substância da experiência jamais seria esquecida.

E se foi…

Sair do vale, a subida das escarpas, e encontro com o amigo que o esperava, deu-se num tempo não percebido.

Sorridentes, retomaram a estrada, caminhavam, enquanto o jovem narrava ao amigo o encontro com o inefável.

Por não poder nomear ou descrever a experiência em razão de sua natureza, força, beleza, a narrativa que fazia era quase que uma oração ao Indizível Poder.

Repetia sua percepção de que não se dera um encontro, mas o autoencontro.

Sentia-se outro ser, apesar de ser ele mesmo.

Por fim, chegaram ao lugar desejado.

Para o amigo que aproveitou as paradas para o natural descanso, chegar ao destino era findava a marcha.

Para o outro jovem, que, ao invés de descanso do corpo, preferiu refazer forças ao explorar e vivenciar cada momento, ao colher riquezas mentais e emocionais com as experiências únicas de cada lugar, não houve chegada ainda, mas começo, marco inicial do caminho do equilíbrio.

Era ele testemunha da afirmativa de que quando se começa a caminhar, o caminho aparece. Enquanto se caminhar, haverá sempre caminho.

Assim se dá com todos nós, na jornada evolutiva a que estamos sujeitos.

Qual caminho seguir, que aproveitamento damos às oportunidades que surgem e a utilidade ao tempo de que dispomos, é da escolha pessoal de cada um.

No conto acima, ambos amigos atenderam o objetivo elegido, descansaram em momento próprio, e se depararam com as mesmas oportunidades de aprendizado e benefício. Apenas um deles, no entanto, aproveitou cada instante da jornada, fruiu ao máximo cada lição, enriqueceu-se com elas, se tornou ainda mais lúcido, mente mais desperta.

Ambos realizaram a caminhada.

Um deles chegou ao final sem nenhuma novidade edificante no imo. Chegou como começara.

O outro, porém, recolheu experiências que o transformaram para sempre, para melhor. Para este não houve chegada, mas principiou uma nova vida.

Não existe um caminho para a paz. A paz é o caminho.

A singeleza do conto nos convida a fazermos escolhas certas a cada instante do nosso existir.

Ao invés do pessimismo, por que não o otimismo?

Por exemplo, manter conceitos construtivos a respeito de pessoas, coisas e acontecimentos; construir e alimentar a ideia de realizador exitoso, com esforço para que as tentativas se coroem de resultados positivos; alimentar a fonte de irradiações mentais de energias regenerativas, com foco de atenção assertivo, franco e saudável; recarregar de energias realizadoras os centros da vontade, condicionar-se ao ânimo, com coragem e proatividade benfazeja.

Manter visão otimista da vida, e assim sustentar o campo das ideias lúcidas e estabelecer padrões positivos a respeito de situações e pessoas, e dar nova forma de pensar e de agir e manter o viver com a leveza do bom humor.

A constância do esforço e permanência da determinação pessoal nesse sentido, enriquece os pensamentos de clichês mentais que sustentam limpidez psíquica e visão aclarada a respeito da vida e das demais criaturas.

Do mesmo modo, faz do psiquismo um campo revigorante do idealismo enobrecedor, qual uma mola propulsora que leva ao que é justo, bom, bem e belo.

Insistir e perseverar na construção desse estado íntimo, abre novo espaço mental virtuoso, onde germinam facilmente as sementes do entusiasmo e da esperança, e alimenta estado de bem-estar duradouro.

Tudo à volta recebe novo valor e é visto com novo padrão de compreensão, de significação, de importância.

O novo hábito mental em construção implanta-se lentamente no subconsciente e se torna parte integrante do comportamento renovado.

Pensar bem, portanto, é uma questão de hábito.

E hábitos são formados por escolhas e interiorização do condicionamento desejado, que se dá pela constância e permanência na alimentação da ideia.

Sempre que ocorrer um pensamento degenerativo prejudicial ao estado de equilíbrio em construção, de imediato substituí-lo por um condizente com a saúde emocional almejada, e dar-lhe sustentação com ondas de irradiação do desejo permanente, intenso, com poder e supremacia sobre tudo o mais, certo de que assim é que se realiza a construção de hábitos saudáveis.

Pensar bem e corretamente, por ser ele – o pensamento – a diretriz da conduta, deve ser o grande desafio de todos os que almejamos a autossuperação e a edificação de estado de saúde psicoemocional, bem-estar orgânico, alegria existencial e maturidade do senso moral.

A flor de lótus, apesar de manter raízes fincadas no leito escuro das lagoas, sai para a superfície e se abre em encanto para a claridade e o céu infinito.

A flor da maçã, não se intimida com o rigor do frio. Faz da agudeza da baixa temperatura bem precioso para uma frutificação suculenta e doce.

A tempestade não é fúria destruidora, é força renovadora da natureza.

O caminho de agora, por mais difícil que aparente ser, o bom hábito brevemente o tornará fácil e agradável.

As construções mentais superiores, produzem os hábitos saudáveis, renovam-se com a nossa renovação para melhor, e crescem no ser, na medida em que se dá o despertar de nossa consciência.

Ouçamos o bom conselho dado por Buda, para uma caminhada em beleza e alegria:

Viva na alegria, no amor, mesmo entre os que odeiam.

Viva na alegria, na saúde, mesmo entre os angustiados.

Viva na alegria, na paz, mesmo entre os atormentados.

Olhe para dentro de você, fique calmo.

Livre-se do medo e do apego, conheça a doce alegria do caminho.

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