Os alunos estavam reunidos na sala de artes, com a tarefa de usarem a argila e moldarem um vaso conforme um modelo que estava exposto sobre uma banqueta, à frente da turma.
Entre risos, comentários e brincadeiras, os alunos trabalhavam e falavam do seu e do trabalho dos outros.
Momento de descontração e de constatação: não eram exímios artistas.
O professor os deixou bem à vontade. Sem nenhuma cobrança.
Tarefa concluída, o professor e seu assistente foram de um por um dos alunos, em análise de cada trabalho.
Professor e assistente comentavam detalhes de cada peça, com destaque de pontos e contornos que davam graça e beleza ao trabalho.
Cada aluno recebeu elogios e comentários estimulantes. Nenhuma crítica depreciativa.
Surpresos, questionaram o professor.
Um deles falou: – Professor, estamos sem entender. Reconhecemos que os vasos que moldamos têm tamanhos distintos, nada regulares, pouco se assemelham com o modelo. Mas ouvimos apenas elogios, quando esperávamos reprovação.
O professor retirou os óculos, colocou-os sobre a mesa, levantou-se e olhou tranquilamente cada rosto à sua frente, que expressavam certa apreensão, e comentou: – Sei que vocês expressaram criatividade e habilidade própria de cada um. Deram seu máximo. Perseguiram um modelo e demonstraram um resultado.
Isso já é motivo de elogio.
A autenticidade do trabalho de cada um, também é positivo.
Por que tudo tem de ser idêntico a um determinado modelo?
Será que beleza só o é se seguir certo padrão ou modelo estabelecido por outra pessoa?
A beleza está no objeto ou na mente de quem aprecia o objeto?
E o conceito de beleza que aquela mente detenha, será seu, autenticamente, ou foi adotado de outros, daquilo que certo grupo de pessoas ou a sociedade dita como belo para certo momento?
Já ouviram falar do conceito Wabi Sabi, a arte da imperfeição?
O Wabi Sabi tem origem no Zen Budismo e está relacionado à imperfeição, um conceito totalmente contrário ao que geralmente buscamos em nossa vida.
Na realidade, trata-se de uma filosofia onde aprendemos a ver a beleza mesmo nas coisas imperfeitas, impermanentes e incompletas.
Podemos notar a essência do Wabi Sabi em várias artes japonesas como Ikebana (arranjo floral), os jardins zen japoneses, bonsai, cerâmica japonesa e outros.
O Wabi Sabi significa aceitar a imperfeição, a assimetria, a irregularidade e a modéstia como atributos de beleza. É conseguir ver a beleza em tudo, até nas coisas mais insignificantes da vida, mesmo que estas estejam repletas de falhas e rachaduras.
É uma beleza escondida bem na frente de nossos olhos e que damos pouco valor.
Ao nos desapegarmos dos conceitos e definições traçados pelos outros, conseguimos praticar o Wabi Sabi.
Autenticidade, opinião própria, leva a que se observe detalhes discretos e esquecidos e é preciso ter muita humildade e sensibilidade para captá-los e externá-los.
É de grande significado adotarmos a essência dessa filosofia da arte, e aprendermos a aceitar a nós mesmos, com nossas falhas, imperfeições e fragilidades.
Todas as pessoas têm defeitos, e a imperfeição faz parte do nosso ser, da nossa alma.
Exercitemos ver o mundo com uma ótica diferente, miremos o verdadeiro sentido da vida, com desapego da realidade que outros criam para nós e das razões de viver que não nos diz respeito.
Precisamos reconquistar nossa identidade e vivermos nossa individualidade.
Individualidade não como seres egóicos, mas como aqueles que estamos no mundo sem ser do mundo, juntos com outros tantos, mas não misturados.
Ser autêntico significa respeitar a própria essência, isto é, reconhecer que a nossa vida, nossa individualidade, merece ser honrada, reconhecida, protegida, cuidada e nutrida.
A árvore dá seu fruto, sem comparar-se com as demais árvores ao seu derredor.
A natureza acarinha as flores por igual, mas cada uma manifestará seu próprio fruto.
O sol nasce para todos, mas há quem prefira as sombras.
Com suas origens nas cerimônias de chá e com raízes no Zen Budismo, a filosofia Wabi Sabi preza a arte de apreciar a beleza em um mundo naturalmente imperfeito.
No ritual do chá japonês, o que é valorizado ali é a pureza e simplicidade do ato e, principalmente, estar presente, participar, aceitar, conviver.
A bebida é servida em xícaras feitas à mão e de formas irregulares. As xícaras são admiradas como são, por causa de suas rachaduras e imperfeições, e não apesar delas.
Em nossa cultura, se valoriza uma vida extremamente organizada e perfeita.
– É o caso do perfeccionismo? indagou um dos alunos, num aparte.
– Em certos momentos, ele é aplaudido, respondeu o professor.
E continuou.
No entanto, perfeccionismo não é virtude, é um modelo defensivo para minimizar ou evitar a dor da culpa, do julgamento e da vergonha, adotado em face do medo de falhar, de cometer erros, de não corresponder às expectativas dos outros e de ser criticado.
É a crença de que fazer qualquer coisa com perfeição significa que você nunca passará vergonha.
É a imperfeição vestida com trajes do perfeito.
Abandonemos a perfeição, ela não existe.
Existência onde errar não é uma opção, não existe aprendizado, criatividade ou inovação.
Vamos assumir com coragem a imperfeição e aprender a valorizar as “rachaduras” em nossas vidas.
Diz o poeta Rumi, persa do séc. XIII: A ferida é por onde a luz entra em você.
Escolher a simplicidade, escolher estar presente, escolher amar e aceitar a você e o outro exatamente como são: imperfeitos, inacabados e mortais.
Ser autêntico é a capacidade de olharmos para nós, sentirmos o que queremos e assumirmos o que precisamos para nos sentirmos bem.
Viver nossa vida de forma que faça sentido para nós, não para os outros, apenas.
Nossa grandeza não está em refazer o mundo, mas em refazermos a nós mesmos.
Somos vulneráveis, suscetíveis ao erro, a sermos feridos, as dificuldades do existir, as enfermidades, ao fracasso, as falhas.
Não é manifestação de fraqueza. É reconhecer a incerteza, os riscos e a exposição emocional que enfrentamos todos os dias.
Ser imperfeito, suscetível a falhas, vulnerável, sentir medo, faz parte da verdade daquele que também é corajoso, se esforça pela melhoria pessoal, busca novas habilidades, constrói bem-estar, é merecedor de amor e aceitação.
Ao invés de se envergonhar, reconheça, com coragem, ser imperfeito.
Aceite-se e supere-se.
Vá em frente!
– Seria adotar o erro como companhia, professor? Perguntou um aluno.
– Não meu jovem. Erro é sempre erro. Nossa meta existencial é a renovação. Identificado um erro, corrija-o.
Ter por meta a melhoria contínua é diferente de almejar a perfeição.
O perfeito é chegar ao limite máximo, enquanto a excelência é grau superior conquistado, é superação dos próprios limites, com indicativo de se poder ir além, sempre além.
Alterar para melhor e buscar sempre a renovação, é a dinâmica da vida.
Dispender energia mental, emocional e física, para fomentar autovalorização, melhoria íntima, superação de dependências que amesquinham o dia a dia.
Não se perde tempo com galhos apodrecidos de uma árvore. Cuida-se bem de sua raiz, e outros tantos galhos vigorosos e produtivos nascerão.
Fazer do existir uma experiência iluminativa.
Saber o que realmente deseja para a sua vida.
Entender onde está e aonde deseja chegar.
Viva com ousadia e persiga seu sonho, mesmo quando outros digam que é impossível.
Alimente a chama da esperança, que traz na sua essência a indignação e a coragem.
A indignação ensina a não aceitar as coisas como estão. A coragem, a mudá-las.
Reacenda o estímulo pelo novo edificante, pela paixão que desperta o entusiasmo.
Reumanize a vida.
Faça uso abundante de “nós” e “nosso”, e diminua, quase a extinção, o uso de “eu” e “meu”.
Saiba quem é e seja você!
O que somos e como somos, é o que importa mais.
Amanhã, sejamos mais!
– Para vocês refletirem e como fixação do conteúdo de nossa fala de hoje – disse o professor -, um conto Zen:
Nan-In, um Mestre japonês durante a Era Meiji, recebeu um professor universitário, que veio lhe inquirir sobre Zen. Este iniciou um longo discurso intelectual sobre suas dúvidas.
Nan-In, enquanto isso, servia o chá.
Ele encheu completamente a xícara de seu visitante, e continuou a enchê-la e derramou chá pela borda.
O professor, viu o excesso a derramar e não pode mais se conter e disse:
– Está muito cheia! Não cabe mais chá!
Então, o Mestre Nan-in disse: – Como esta xícara, você está cheio de suas próprias opiniões e especulações. Como eu posso lhe demonstrar o Zen sem que você primeiro esvazie a sua xícara?
– Meus jovens amigos, arrematou o professor, nunca desistam de vocês mesmos.
Somos seres imperfeitos em jornada ascensional.
Façam da imperfeição um catalisador de coragem e de força renovadora.
Se sentirem vergonha em algum momento da caminhada existencial, se refaçam, se superem e revertam esse sentimento para uma ousadia construtiva.
Acertos e erros fazem parte da equação do aprendizado.
Reconheçam-se humanos, e, por isso mesmo, dignos de amor, aceitação.
Paz!
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