O MEDIADOR DO INVISÍVEL

Inspirar e expirar. Um depende do outro para existir.

Dia e noite. A natureza entende a interdependência dos dois para manter a vida.

Saúde e doença. Um é a ausência do outro.

Ser e ter. Quanto mais eu for, melhor saberei ter.

Como pano de fundo, há uma unidade subjacente a dualidade, pois o mundo não é polarizado e sim a consciência com a qual estamos no mundo.

Inspirar e expirar formam a unidade vida orgânica.

Dia e noite compõem o ciclo diário da Terra.

Saúde e doença estão sob a tutela da harmonia.

Ser e ter são os pratos da balança do equilíbrio existencial.

Resta-nos desenvolver a capacidade de ver os dois pontos polares ao mesmo tempo. Hoje, vemos ora um, ora outro.

Se nos fixamos muito em um, o fazemos em detrimento do outro.

A pouca habilidade e acuidade da consciência, ainda em expansão, dificulta a melhor apreciação de conteúdo e forma de tudo.

Pelos padrões sociais modernos, a forma tem sido ovacionada, o corpo é mimado externamente, quase endeusado, as roupas pedindo etiquetas de renome para ser aceita pelo usuário e pelos demais, a cosmética e a estética a serviço da correção das formas do corpo ao extremo do exagero de quase se alterar a identidade visual da pessoa, força a conclusão de que hoje valemos mais pelo que carregamos e vestimos, e como nos locomovemos, do que por aquilo que somos em realidade.

Sobre o valor da forma, conforme os versos de Rumi, poeta, jurista e teólogo sufi persa do século XIII:

Tu correste atrás da forma, ó mal informado!

E por isso careces do fruto da árvore da substância.

Às vezes ela é chamada árvore, às vezes sol,

Às vezes lago e às vezes nuvem.

É uma, embora tenha milhares de manifestações (…).

Passa por cima dos nomes e olha para as qualidades,

Para que essas te possam levar à essência!

As diferenças das seitas surgem de seus nomes;

Quando elas penetram sua essência, encontram sua paz.

A forma suplantou o conteúdo.

Algo estranho como se valorizar a tela, as tintas e o pincel e a moldura de um quadro, sem se ater à pintura em si. É deter-se nos componentes que são meros veículos e mediadores de uma ideia, sem apreciar e reconhecer que a pintura expressa é a manifestação da imaginação, a pintura interior do artista, a expressão física de um conteúdo metafísico.

O conteúdo se expressa na forma e a consequência disto é que as formas se tornam repletas de significado.

A letra e o número são portadores formais de uma ideia subjacente. O mesmo quanto a tudo que registramos à nossa volta.

Tudo o que é visível, tudo o que é concreto e funcional, é, na verdade, a expressão de uma ideia, que podemos chamar de o mediador do invisível.

O nosso aprendizado das coisas se dá por comparação e interpretação.

Há muito aprendemos com Lao Tsé, em o Tao te King:

Se todos na Terra reconhecem a beleza como bela,

desta forma já se pressupõe a feiúra.

Se todos na Terra reconhecerem o bem como bem,

deste modo já se pressupõe o mal.

Porque Ser e Não-ser geram-se mutuamente.

O fácil e o difícil se complementam.

O longo e o curto se definem um ao outro.

O alto e o baixo convivem um com o outro.

A voz e o som casam-se um com o outro.

O antes e o depois se seguem mutuamente.

Apontamos a dualidade, natural, para conclamar à unidade.

A unidade, o pano de fundo, o porquê, é fruto da interpretação dos acontecimentos íntimos ou externos.

A manifestação que queiramos interpretar, pede uma referência, um paradigma exterior, distinto daquilo que queremos interpretar, para podermos comparar.

Um livro é interpretado pelo conteúdo, manifestação metafísica da ideia do autor.

A expressão visível de um processo invisível.

A presença constante do mediador do invisível.

Assim, vamos aprender a ver para além, para dentro, dos fatos, já que fatos em si mesmos necessariamente não tenha muito sentido. Somente a interpretação, exame de maior profundidade, é que nos revelará o significado de um acontecimento; é a interpretação, trabalhada com as referências devidas, que permitirá que tenhamos a apreensão total do seu significado.

Por exemplo, um bebê chorando.

O choro é o acontecimento, o fato. Mas qual a causa que leva o bebê a chorar?

Encontrar a causa é trabalho interpretativo.

A causa sabida evidencia o significado, que nos leva a considerar o grau de urgência em providências (o decurso do porvir), e o que deveremos fazer (objetivo).

Rumi, o poeta, descreve para nós:

O mar é uma coisa, a espuma, outra;

Esquece a espuma e contempla o mar com teus olhos.

Ondas de espuma erguem-se do mar noite e dia,

Tu olhas para a ondulação da espuma e não para o poderoso mar.

O significado pleno demonstrará causa e efeito do fato, dando indicativo do porvir, em decorrência do acontecimento.

Em nossa existência, quando deixamos de interpretar os acontecimentos do mundo em que vivemos, das escolhas, de nossa escala de valores, dos nossos relacionamentos, de nós mesmos, e o decurso do nosso destino, nossa vida mergulha na insignificância e na falta de sentido.

Carl Jung, o notável psicanalista, também nos convida à introspecção, ao encontro do real significado da vida e propósito de viver: Sua visão se tornará clara somente quando você olhar para o seu próprio coração. Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.

No mesmo sentido, Antoine de Saint-Exupéry, autor do livro O Pequeno Príncipe, diz: Aqui está o meu segredo: só com o coração você pode ver bem. O essencial é invisível aos olhos. O coração vê muito além das aparências, permite o acesso à essência.

O futuro não deve ser motivo de preocupação, mas de ocupação, sim, pois o simples viver no dia presente, formata o dia seguinte.

Onde quer que você esteja, aí, aí mesmo, é o ponto de entrada, recitou Kabir, um dos grandes poetas místicos ou santos-poetas da Índia medieval.

O que hoje semearmos, amanhã colheremos.

Quando uma flor se abre, nunca é apenas uma flor – ela ativa um processo; então, flores continuam a se abrir. A primeira flor pode ser difícil, mas as outras simplesmente virão. A primeira experiência é difícil, porque você não a permite. Uma vez que a permitiu, então não é só uma flor que se abre – mil e uma flores se abrirão, ainda Kabir.

Os acontecimentos, a sua interpretação bem referenciada, destilará significado, dando-nos antevisão do porvir, ao tempo em que nos convoca a então definirmos objetivos maduros, ricos de resultados saudáveis, saindo em ação construtiva, pois falamos de razão e significado existencial, ou ressignificação da vida e do bem viver.

Santo Agostinho sintetiza o processo para nosso alcance de ideia própria de ação, que estimule nossa vontade e formule nossa capacitação realizadora: Conhece-te, aceita-te, supera-te.

Assim a vida terá novo significado e as oportunidades para as quais éramos cegos até então, serão possibilidade de nova atitude que o pensamento bem direcionado nos proporcionará, e nosso esforço contínuo nos brindará com o êxito.

Estabelecer propósito de vida saudável é alcance de novo estado de consciência.

Até que você torne o inconsciente em consciente, aquele irá direcionar a sua vida e você irá chamá-lo de destino, aponta Jung, traçando a ideia matriz – o mediador invisível – de que devemos assumir a feitura de nosso porvir, já não mais apenas aceitando passivamente os acontecimentos da vida, mas, bem interpretados, nos dar segurança de afirmar e decidir que somos e seremos o que escolhemos ser, refletindo em nosso viver o significado da harmonia, do equilíbrio, do bem-estar permanente.

Aguçando mais a visão interna e sob novo prisma, concluiremos que o mundo material em que vivemos, só adquire significado na mesma proporção em que tenha um ponto de referência além de si mesmo, um ponto referencial além do físico, no metafísico, levando-nos, a partir daí, naturalmente, ao encontro da Consciência Cósmica, a Referência pontual que sempre flui, e leva a fluir tudo o que é fixo.

Teremos então, por fim, descoberto, que viver é muito mais do simplesmente estarmos aqui.

Seremos os pintores de nossos quadros da vida, e repetiremos com Rembrandt van Rijn, o aplaudido pintor neerlandês, considerado um dos maiores nomes da história da arte europeia: Uma pintura só está acabada quando o artista diz que está acabada.

Como apontado por Viktor Frankl, neuropsiquiatra austríaco e fundador da terceira escola vienense de psicoterapia, a Logoterapia e Análise Existencial: Quem tem um “porquê” enfrenta qualquer “como”,

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