Um certo olhar para o mundo e nele se observará as dores trazidas pela fome, pelas enfermidades, pelas guerras, pela dissolução de valores pétreos como a família, os bons costumes.
Um outro olhar e nos depararemos com aqueles que trabalham exaustivamente para medicar, para pacificar, para ensinar, para orientar, para consolar, para reconstruir, para alimentar, para dar de beber e comer, para prevenir, para sobreviver, para suprir.
O olhar se voltando para outro ângulo do mesmo mundo, nele veremos aqueles que estão atentos, ocupados e dedicados na construção de um mundo melhor, trabalhando com altruísmo, solidariedade e compromisso com o bem-estar social geral.
Mais um passeio com o olhar, e encontraremos os que dedicam preocupação e desgaste físico e emocional, no empenho desordenado para poder adquirir coisas e mais coisas, numa alucinada correria na acumulação de coisas-mortas, sempre em busca do que não têm, esquecendo-se do que já têm.
Veremos o sofrimento trazido pela ansiedade em estar presente em tudo e notado por todos do meio social que frequenta, mesmo não sendo este o seu meio habitual e compatível com seus recursos.
Pularão diante de nossos olhos os atormentados com vestir as exigências da moda e os inquietos para estarem inteirados das novidades dos famosos e midiáticos, sem nenhum interesse com os efetivos problemas da sociedade e suas possíveis soluções.
Se destacarão na multidão os desequilibrados emocionalmente, que tanto nada fizeram para vencer o nada, que se desestabilizam diante do vazio existencial consequente; que se dedicaram a muito parecer, e se perderam no alcance do ser; que em nome do livre-pensar e do livre-fazer (liberdades próprias e legítimas, se alicerçadas na responsabilidade correspondente), porém sem compromisso, ao invés de horizontes de satisfação saudável, se veem encarceradas em prisões sem paredes das paixões, vícios e suas consequências.
No uso do artificialismo para mascarar o que deve ser, assumindo o que os outros desejem que seja, confirma auto-ilusão por opção, e perde sua real identidade, vivenciando uma segunda natureza, desumanizada pela própria desestruturação pessoal que provoca, diante da confusão de valores que adota, decorrentes dos variados papéis que se vê constrangido a representar no palco da vida.
A onda do ir e vir dos interesses e dos interesseiros, provoca a dissimulação dos sentimentos, para ter que se apresentar como se tudo estivesse bem com ele, como sendo o próprio protótipo da vitória permanente, se desidentifica ainda mais de si mesmo, pela distonia entre o que demonstra e aquilo que realmente é, não se dá conta que se encontra submetido aos grilhões constritores da angústia velada, por agora.
São quase que como manequins com movimentos próprios, mas sem vida própria; robôs com automatismo de sensações, desconhecendo sentimentos e emoções; autômatos cujos rumos são dirigidos por terceiros, sem nunca saber para onde vai, nem poder ir para onde deseja.
Suas forças psicológicas pessoais são suficientes apenas para vestir o figurino vigente no dia, de acordo com o estado momentâneo das coisas, que outros estabelecem como padrão geral e ditam comportamento que se adeque ao exclusivismo das paixões predominantes e desejadas pelos demais… e satisfeitas por nós, fruídas por eles.
Vive-se em meio a relações em que se finge gostar do outro. Que se olha nos pés de uns para com os outros (pois dificilmente conseguem se olhar olho-no-olho), sorridentes quando frente a frente, mas em verdade se detestam, e se colocam como competidores em maratona de insensatez, disputando taça da vitória do nada em disputa de coisa nenhuma.
É o exercício da arte de agradar seus próprios egos atormentados, e dos muitos que assistem nas arquibancadas do circo máximo ilusório de uma vida sem vida, em cuja arena, iluminada pelo fogo fátuo da vaidade, se digladiam por resultados inglórios, cujas medalhas conquistadas são revestidas de ouro-de-tolo e cravejadas de falsos brilhantes.
Brilho sem resplandecência. Glória sem triunfo. História sem páginas escritas. Preço sem valor. Tempo exaurido na paralisia da irrealidade.
No entanto, a estrada da vida, tem suas curvas, suas encruzilhadas.
Há um instante em que das fantasias, caem os véus.
A saúde desborda em doença.
A alegria se depara com a tristeza.
A tranquilidade descobre a existência da conturbação.
As fortalezas do ânimo de enfraquecem.
As resistências físicas se corroem.
Olhos embaçados se vêm limpos pelas lágrimas que não tardam.
O coração descobre a desdita.
O sorriso vem substituído pelo choro.
A obscuridade da ilusão vai sendo aclarada pela luz da realidade.
Quase sempre isso se dá pela chegada da dor, pressagiando a urgência da reversão de falsos valores em preciosidades de legítimo bem-estar, convidando a que se abram os olhos e se desperte do sono da indiferença e da ilusão, cujas janelas da alma acabam abertas pelo sacudir da verdade que chega e se impõe. Por essas janelas também entram os ventos renovadores que chegam e espalham os scripts, cujo enredo enaltece o volúvel, o desvalor, interpretados até então pelos atores com máscaras onde o sorriso vem pintado pela tinta da falsidade, vivendo em uma sociedade sem destino, inerte.
No entanto, os verdadeiros lábios voltarão a ser vistos, não necessariamente rindo.
Os olhos desfeitos dos enfeites e lentes postiças, voltarão a serem vistos, talvez sem brilho, exceto pelo rápido faiscar de lágrimas que não tardam.
É a chegada em importante encruzilhada na estrada da existência.
Para que possamos escolher os rumos que poderemos seguir a partir daí, lentamente, vai se desfazendo diante de nós a aparência das simples conveniências e do verniz social, do agradável manipulado, dos desejos de conformidade com o instante e o contexto. Logo depois, vemos as placas indicativas dos caminhos possíveis: uma indicando retorno ao mundo do faz de conta, iluminado pela luz de néon, fugaz como a eletricidade, mas com agravamento das dores a cada dia, de cujo resultado ninguém escapou até hoje. Outra surge, indicando o mundo onde se viverá segundo realmente se é, com dores trazidas pelas mãos das consequências, mas ali se trilhará por uma estrada iluminada de esperança e com encontro marcado com a paz duradoura, caminhando por veredas recamadas pelas flores dos sentimentos nobres, abrigadas pelas árvores das amizades verdadeiras e edificantes, com frutos de bem-estar, sob o sol da consciência desperta.
Somos livres para pensar, para escolher, para realizar, ou não.
Há rumos e rumos. Uns libertam e trazem felicidade. Outros escravizam e trazem martírio.
Plotino, um dos principais filósofos de língua grega do mundo antigo, anotou: despertai os homens do sono das palavras e levai-os a contemplar as coisas, mostrando o caminho a quem queira contemplar.
Acordemos nosso eu profundo e verdadeiro, para que passe a reger o nosso pensar e nosso agir, dando-nos espaço mental e sentimental, para que identifiquemos o magnético e atrativo Norte Existencial, referência do verdadeiro sentido da vida. E com a bússola do bom-senso e as adequadas ferramentas comportamentais: da determinação, da permanência, da constância e do esforço pessoal, alcancemos a nossa terra prometida, onde o nosso coração pulse no ritmo da harmonia, e nossos olhos reconheçam de que lado fica a felicidade.
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