NOS BASTIDORES DO PODER

Existem posturas que são admitidas na sociedade atual, que causam danos tão extensos, que o reequilíbrio entre o dar e o receber, pode levar muito tempo para voltar a harmonizar os participantes.

O comportamento opressor se faz presente em quase todas as sociedades da Terra, com raras exceções, por terem sido aceitas muito facilmente, pela omissão de atitudes dos que sofreram sob seu domínio.

Esquecidos das forças maiores que criam as possibilidades de vida em harmonia, vem sendo apresentadas atitudes em dissonância com a verdadeira forma que se deve agir em relação aos demais.

Não se faz aqui apologia à revolta e ao inconformismo, somente se expõe uma situação que deve ser repensada e revertida o quanto antes, por estar desarticulando a harmonia entre seres que poderiam viver em estado de tranquilidade.

Ceder por necessidade pode ser justificável quando se apresenta em situação premente. Exemplo: passar privação de alimentos, não havendo outra forma de resolução imediata para o problema.

Mas as justificativas indicam que é cedido pela dificuldade da vida moderna, pela carência, pela falta de chances, pelas exclusões, abrindo as portas para a instalação do poder do homem sobre o próprio homem. E isso tomou dimensões inaceitáveis.

Justamente para avalizar o comportamento questionável no exercício da liderança, foram criadas algo como fórmulas, que usam da crueldade para o exercício das funções hierárquicas, como se os fins, sempre, justificassem os meios que são usados para alcançar objetivos.

Nada pode ter permissão de sobrepor a dignidade humana.

E qual sociedade sobreviverá a esse tipo de comportamento?

Um dos comportamentos apresentados pelas lideranças, dos mais agressivos e dissimulados, até mesmo tido como inconcebível, é o que exerce sobre os demais a indiferença e frieza!

C.E.Os., diretores ou qualquer outro título que se receba hierarquicamente nas organizações de trabalho, não dá permissão de abusar do poder e de tratar mal os colaboradores.

Como se tem sob observação e suposta liderança, centenas de outros seres, exerce-se o domínio com tirania, sem se deixar tocar pela simplicidade e pelo espírito de cooperação.

Usa-se de subterfúgios recheados de más intenções e jamais é mostrada por completo a intenção por detrás da ação. É como uma fera que se camufla na paisagem, aguardando a ocasião perfeita para o ataque.

Segue-se uma cartilha com valores irreais que ensinam a jamais usar de sinceridade. Devem ser listados inúmeros comportamentos deploráveis que mantém na total alienação a vida de relações, como se isso fosse algo de valor negativo.

Seguem-se exemplos, incontestáveis:

Ousar e ir além da restrição que é imposta pelo comportamento geral, significa exclusão do grupo dominante. Se houver modificação no modo de ação e alguma transformação surgir, é motivo de apreensão e medo.

A forma de interação na hierarquia vigente proporciona a não espontaneidade nas ações e sente-se a desvalorização do conceito de ser humano como um grupamento em evolução.

Age-se sem dignidade em busca do sustento. Altera-se a própria posição social culminando em um progresso hipotético onde o mais oprimido cede ao opressor.

A isso pode ser chamar uma sociedade em progresso?

Os inimigos são usados; são postos a trabalhar, sendo explorados e guiados pelas más intenções em relação a eles, ocultadas por um falso bom trato. E isso acontece, não por que se dê uma oportunidade de regeneração àqueles que alguma vez trabalharam em lados contrários, mas sim, por desconfiar dos amigos, que são mantidos em vigília contínua, desconfiando se a inveja do poder não os mudará!

Relacionamentos rotineiros são submetidos a menor comunicação possível, para que não haja a possibilidade de, em falando, se expor, e de ter uma forma definida, se tornando conhecido pelos outros. Quase tudo deve permanecer oculto quando se trata de interesses negociais.

A recomendação é que sempre se conquiste corações e mentes, pois dessa forma pode-se facilmente jogar com a necessidade que os colaboradores têm em acreditar em “alguma coisa”.  Desperta-se neles então uma dessas formas de fantasia.  Usa-se de muita ousadia, para posteriormente estar apto, dominante no controle das opções de escolha da maioria, fato que deixa o chefe, e só ele, capacitado em dar as cartas.

Indignação e pena dos que criam para si mesmos essa possibilidade de domínio, que nada mais traz do que infelicidade futura.

Quando se tem o foco mantido em descobrir o ponto fraco de cada auxiliar, se faz sugestões da necessidade premente de mudanças. Mas para que a liderança não pareça perfeita demais, sempre é desprezado o que é sugerido de graça.

Inaceitável, pois que na verdade a sugestão é acolhida, arquivada, para ser usada posteriormente. Só não se dá incentivo ao colaborador ou nem mesmo o reconhece capaz, através de um agradecimento.

E pode-se caminhar longe, nessa estrada dos comportamentos censuráveis, por serem usuais.

Há um diapasão que vibra sempre no mesmo tom quando se analisa os homens que alcançaram o topo por si mesmos (self made men). Esses, percebe-se com clareza, que são movidos por um maneirismo aristocrático após certas conquistas de certos cargos, que a mesmice chega a beira do insólito.

Todos, com raríssimas exceções, agem como se reis fossem, para atrair um séquito de seguidores vazios, mas totalmente manipuláveis.

-O manual de como ter poder também sugere que se tornem experts em criação de espetáculos atraentes que imantam, pois, propositadamente, as águas estão sendo agitadas, e assim o são, para que sejam atraídos os peixes, desavisados e sem malícia. Eles se tornarão importantes iscas colaboradoras para que outros possam vir até a fonte do poder, para idolatrá-lo.

Por pensar unicamente em seu próprio sucesso, jamais poderá demonstrar ser seguido modelo algum, nenhum grande homem.

A pior atitude para com os demais é sempre reforçada e garantida como ideal: “Ataque o pastor e as ovelhas se dispersarão”. Se existem colaboradores que se destaquem com capacidade identificada e que possam vir a causar problemas, agitando a normalidade, lhe permita as ações antes que ele se fortaleça, e depois o demita. Esse o comando geral.

Outra forma que pode ser taxada como desconcertante e desumana é a que segue: manter-se isolado representa um perigo muito grande. É certo que chamar atenção sempre traz bons resultados, a qualquer custo. Mesmo que seja necessário, para tal, subtrair recursos de importantes direcionamentos, já que o “poderoso” não pode abrir mão de ser notado.

Discutir é um verbo completamente obsoleto, não é usado de maneira nenhuma. Use sempre da dissimulação e vença com atitudes o possível “adversário”.

E indo um pouco mais além: Evitar o infeliz e o sem sorte é dever de todos os que buscam o poder, para se transformarem em líderes. Cada um com seus problemas tornou-se jargão fixo nas contratações, que excluem totalmente qualquer manifestação anterior de fracasso.

Maquiavelicamente, recomenda-se, sem dó, que se selecione e use cuidadosamente as atitudes honestas e generosas, para que possam ser desarmados os que agem de forma sincera; se envolver com a misericórdia e a gratidão de que eles são possuidores é um risco que não se pode correr. Substitui-se essa atitude de alto risco, apelando pelo auxílio e colaboração dos egoístas. Essa é a opção mais aplaudida.

Deve-se também dominar a técnica de aniquilar totalmente os inimigos, seja de que forma for. Uma das mais indicadas: a de bancar ser amigo e agir como espião, colocando-se sempre em estado de alerta para conhecer com que e como ele lida e se envolve dentro da organização. Jamais deve-se correr o risco de ofender o colaborador errado.

E a ousadia vai ainda mais além, na sugestão destruidora do ideal de sociedade democrática e evoluída.

Quantos mais estiverem sob o guante do regime de terror administrativo, menos serão os que a imprevisibilidade não afete. Essa atitude concentra forças e torna desnecessário o comprometimento com os demais.

E essas não são táticas de guerra, são apenas comportamentos aceitos nas chefias de quase todas as organizações de trabalho em todo o mundo. Não se chega ao topo, sem ter que experimentar esse tipo de comportamento.

Importantíssimo, por incrível e doente que possa parecer, nesse código de atitudes reprocháveis, é a atitude de se ter sempre “mãos limpas”. A própria participação em casos problemáticos deve ser assessorada por bodes expiatórios que auxiliem no disfarce da ação.

Transformar fraqueza em poder é uma questão de tempo e dedicação. Facilmente se aprende a conviver com a rendição, que em se comportando falsamente derrotado, se ganha tempo para desequilibrar os que se encontram em mais altas posições, e, assim, ter a chance de substituí-los com facilidade.

Fechando as propostas absurdas que desequilibram todos os que, sem conhecimento de causa, buscam tanto o poder individual como o cargo top das organizações como um todo, é a norma a ser levada a sério, sem nem mesmo poder discordar que: tudo deva ser planejado em passos certos, até o fim que se busque seja alcançado. Mas com o dever de parar quando alcançar a vitória, fazendo com que essa conquista pareça fácil demais. Se assim não for feito, ofuscaria o brilho daquele que antecedeu a quem agora exerce o mando. Não há a opção que se torne público, ou se revele, ou que seja demonstrado, que foi necessário sugar quase todo o sangue existente, para se alcançar o temporário status do poder.

***

Foi extinto ou deixado de lado o ideal do grupamento humano, composto de seres que buscam ter equilíbrio em uma vida compensadora, rica de bons valores, onde reine não só a harmonia, mas que se construa a paz?

Pode-se afirmar que exista mesmo a necessidade de uma liderança que permita a condução de todos por alguns poucos, que admitem ações tão fora dos parâmetros que definem o termo humanidade, como sendo o conjunto dos seres humanos? Sendo a definição de “seres humanos” aqueles dotados de inteligência e linguagem articulada, que possuem consciência e discernimento?

Como será que reagiriam outros modelos de sociedade, mais desenvolvidas, se existentes, vendo essa forma prepotente de domínio de uns sobre os outros?

E qual de nós teria condição de indicar um modelo novo, que proporcionasse trabalho com dignidade, que neutralizasse a ambição de poucos e fortalecesse a colaboração de muitos?

Os que defendem o posicionamento atual diriam que: quem observa dessa forma não sabe a dificuldade existente em defender interesses de milhões de indivíduos, que têm forma de agir e de pensar diferentes. E afirmariam que, se assim não forem conduzidos, o caos se instalaria e nada mais seria organizado.

Sugestões e críticas não cessariam de aparecer a cada hora, de forma a satisfazer os mais diversos interesses, mas todas sob o enfoque da parte, nenhuma que beneficiasse o todo.

Mesmo que soluções excelentes, completas, fossem sugeridas para resolver a situação do poder, relacionado ao domínio e não à condução dos demais, a cegueira do grupamento humano não permitiria fossem vistas.

E caso fossem visitas, não seriam aceitas, por não se adaptarem aos interesses egoístas que ainda dominam a maioria dos líderes.

Então se conclui que a modificação que falta nas sociedades, é que o grupo compreenda que o equilíbrio só aparecerá quando todos se dispuserem a abrir mão de seus próprios desejos, e passem a agir pelo bem-estar comum.

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Projeto INOVE – por uma sociedade mais humana e justa

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