Se estamos descascando laranjas e cortamos o dedo, logo o corte se cura, e, curiosamente, não ficamos maravilhados com isso…
O processo de cicatrização, desde a coagulação do sangue para fechar o corte, a formação de uma crosta e a regeneração da nova pele e dos vasos sanguíneos, tudo parece uma coisa simplesmente normal. E é. Mas também é um espetáculo da vida, ah, isso é!
O nosso corpo é palco de muitos shows da Vida.
A cada três meses, noventa por cento dos átomos de nosso corpo são renovados.
Se nos olharmos com nova visão, nunca veremos o nosso corpo se repetir.
Heráclito de Éfeso, um dos principais filósofos da Antiguidade pré-socrática, nos deixou sua anotação: “Ninguém entra no mesmo rio uma segunda vez, pois quando isto acontece já não se é mais o mesmo. Assim como as águas que já serão outras”.
Eis alguns destaques do corpo em renovação:
- Adquirimos um novo esqueleto a cada três meses.
- A pele se renova a cada mês.
- Um novo revestimento do estômago é adquirido a cada quatro dias; já, a superfície que entra em contato com os alimentos, se renova a cada cinco minutos.
- Um novo fígado se forma a cada seis semanas.
- Depois de um ano, é totalmente alterado o teor do carbono, nitrogênio, oxigênio e outros, que compõem o cérebro, onde as células que morrem não são substituídas.
Não é metáfora, é fato: ao longo das décadas de uma existência, mudamos diversas vezes o nosso corpo.
No entanto, o corpo humano continua parecendo o mesmo, dia a dia,
É como num edifício cujos tijolos fossem sistematicamente trocados a cada período, só que, por seguir a planta original, continua com a aparência do mesmo prédio.
É como um rio, que aparenta ser sempre o mesmo, mas suas águas se renovam incansavelmente a cada instante.
A vida é o próprio propósito de nos ensinar a bem viver.
O espetáculo da vida continua…
Vamos trazer ao palco das realizações pessoais, além do corpo físico, também o nosso pensar, sentir, agir, e o nosso relacionamento com as demais pessoas e o meio-ambiente. É um universo.
Examinemos mais detidamente essa nossa inconfundível e cativante realidade.
Vamos juntos.
Afirmo que não há quem saia dessa reflexão amadurecida sem ter firmado um compromisso consigo mesmo de reconsiderar a vida, o viver, dando-lhe novo e legítimo significado.
Bem como, de cuidar adequadamente do corpo e da mente, com atenção e zelo pela alimentação, exercícios físicos, respiração, hábitos, sentimentos etc.
É visível que toda a nossa vida é um movimentado evento único, indo de um momento para o próximo momento, tão naturalmente que até parece que nada tem causa, tudo apenas acontece.
No entanto, a vida não é medida pelo número de momentos e experiências, mas pela profundidade e significado de cada instante vivido, pelo seu impacto emocional causado, se suficiente para imprimir esse seu significado no âmago do ser.
Deixemos o costume de avaliações pela quantidade de alguma coisa em nosso bem viver, mas, sim, pela qualidade do que se dá.
Voltemos a falar do nosso corpo.
O corpo é nosso companheiro inseparável na nossa jornada de todos os dias.
Exige zelo e cuidados adequados!
Desde pequenos, fomos levados a nos identificarmos com o nosso corpo, não só por hábito e cuidados, mas como se fôssemos o corpo.
O corpo físico é fundamental para o nosso existir e seus propósitos existenciais, porém ele é instrumento para a ação, não agente com vontade própria.
Quebrar esse hábito e essa identificação e adotar uma nova visão da vida é como a borboleta ao romper o seu casulo: que mundo maravilhoso a espera!
Então, ao se sair do casulo, nada mais se parece como era…
Para começar, somos desafiados a questionar e verificar todas as crenças, pressupostos, paradigmas, valores, costumes de até então.
Todos eles tiveram seu valor, mas cada coisa no seu tempo…
O novo não é fruto de reforma, mas de inovação.
Não se trata de melhoria do antigo, mas de mudança efetiva.
Ecoa em nosso íntimo a assertiva colhida em Bhagavad-Gita: “O homem é feito de sua crença. E o que ele acredita, ele é”.
Novas crenças, nova escala de valores, mundo renovado.
Se veja como num renascimento.
De repente, o mundo deixa de ser externo, lá fora, e passa a ressoar em nossa intimidade, e ali é visto e sentido com as cores com que colorimos nosso mundo interior…
Percebemos que o ‘aqui dentro’ é capaz de modificar e influenciar o ‘lá fora’.
E as coisas ficam diferentes…
Damos ao mundo, agora com liberdade mental e emocional, a nossa interpretação, com significados pessoais que lhe atribuímos, predominando o entendimento de que: ele, o mundo, é como eu sou.
O que vejo e sinto, é. O que outro veja e sinta, ele é. Juntos na caminhada, livres, mas não misturados.
Vendo essas mudanças, percebemos que o tudo que imaginávamos ser a vida, é bem mais.
Curiosamente, nos damos conta de que nada mudou. Nosso olhar desperto é que agora vê tudo acrescido de nuances até então não vistas.
Esse ponto de inflexão não sinaliza um fim, mas um recomeço.
Sim, nossos olhos começaram a ver…
Saímos das conjecturas e adentramos o reino da realidade que permanece.
Cai a ficha para nós!
O corpo muda, mas eu não.
A mente muda, mas eu não.
A personalidade muda, mas eu não.
Concluímos – tomados de uma certa surpresa, mas nem tanto –, que é disso que sempre se falou ao longo das eras!
Estamos, mas não somos!
Eu sou e permaneço!
O mundo está e muda sempre!
Eu passo pelo mundo, mas não sou o mundo. Eu faço o meu mundo e venço o mundo da ilusão.
Simples, porém plenificador.
O Todo é tudo. Eu sou parte do todo…
Pensemos juntos: o eu, aquele que reclamava a posse do corpo, da mente e dos sentidos, providencialmente é o mesmo que aponta para a verdadeira natureza inerente a nós todos!
Essa verdadeira natureza nos faz ver, por conseguinte, que o mundo exterior é reflexo de nossa expressão emocional-energética interior, conforme a manifestemos: se alegres, um mundo com alegrias, se tristes, um mundo de tristezas; e o nosso corpo físico é o nosso instrumento de percepção e ação no mundo.
E mais: diante disso, por sermos os conhecedores de cada sensação, sentimento e pensamento, assinamos a autoria de cada ação e somos os receptores das reações!
O que se semeia, se colhe.
Experimentamos a experiência, mas não somos a experiência.
Sorvemos o primordial da fruta, descartando o secundário dela.
Enquanto se acredita que se é o corpo, se mantém prisioneiro de uma cela com quatro paredes: intelecto, mente, corpo e sentidos.
Para se sair desse encarceramento, não é necessário planejar fuga alguma de uma cela cujas portas sempre estiveram destrancadas.
Basta se fazer presente e atento ao seu próprio ser, ao seu viver: descobrir-se que é.
Ninguém precisa se libertar para vir a se tornar, pois se é livre para ser!
Uma apercepção tão clara da própria e verdadeira natureza não acontece de modo gradual e não depende do tempo.
É instantâneo. Ela depende de você atribuir significado legítimo ao percebido e compreender a nova situação edificante, aquela que lhe conduz do irreal para o real, da escuridão para a luz.
Esse instante surge ao se abandonar o comportamento compulsivo, e se adotar comportamento consciente.
Abra-se para a vida e ela acontecerá em toda a sua inteireza e beleza, num instante!
Consciência, eis a palavra-chave capaz de romper todos os grilhões forjados pela ilusão.
O despertar da consciência é o passaporte para um mundo onde todas as portas não têm fechadura.
Um jovem aprendiz perguntou ao seu mestre: – Diga-me, qual o segredo da sua serenidade, dessa Paz que nada parece abalar?
Respondeu o velho Sábio: – A irrestrita cooperação com o inevitável.
Assim como não se pode conhecer a acidez do limão, sem antes tocá-lo, nem o seu azedume, sem antes prová-lo, não se pode conhecer nossa condição essencial de ser e de existir apenas pela razão, mas, especialmente pela prova do sentir no imo do coração.
Abstraia-se de conceitos, pois são limitadores.
Deixe-se sentir quem você é.
No reino dos sentimentos, não se trabalha com conclusões nem interpretações, apenas se vive as emoções da compreensão alcançada, quando, então, se preenche o vazio existencial, e, por conseguinte, cessam as buscas, acabam os questionamentos. Se vive a vida abundante!
No sentir, você se depara com quem você é. No pensar você busca caminho para tornar-se.
A resposta para a vida não está em ‘tornar-se’, mas em descobrir ‘quem se é’ … e ser!
Autenticidade e assertividade representam a coerência ativa do equilíbrio entre coração e cérebro.
Conhece-te a ti mesmo, é a síntese a ser alcançada para uma vida plena e feliz.
As palavras não conseguem descrever o sabor da água, menos ainda o sabor da vida.
Somente através da experiência saudável direta, no imo d’alma, alcançam-se ambos.
Além do mais, a clareza da compreensão de que não somos o corpo, mas que o corpo é apenas um instrumento, desfaz a preocupação com a morte.
A morte morre!
O mergulhador nas profundezas dos oceanos não faz uso de um escafandro?
Dele se desfaz quando retorna ao barco.
Guarda consigo o fruto das experiências, mas não tem por que carregar junto o oceano e o escafandro para poder ser.
Aprendemos com a narrativa de um velho Koan:
Nan-In, um mestre japonês durante a era Meiji (1868-1912), recebeu um professor de universidade que veio lhe inquirir sobre Zen e a visão da vida.
Este iniciou um longo discurso intelectual sobre suas dúvidas.
Nan-In, enquanto isso, serviu o chá.
Ele encheu completamente a xícara de seu visitante, e continuou a enchê-la, derramando chá pela borda.
O professor, vendo o excesso se derramando, não pode mais se conter e disse: – “Está muito cheio. Não cabe mais chá!”
“Como essa xícara,” disse Nan-in, “você está cheio de suas próprias opiniões e especulações”.
“Como posso eu lhe demonstrar o Zen sem você primeiro esvaziar sua xícara?”
Pois é, o aprendizado novo deve anular o velho.
Eis, leitor amigo, material para enriquecimento do seu coração e da sua mente. Mais uma contribuição do Projeto Inove para seu dia a dia feliz.
Todos somos aprendizes da Vida…
Assim anotou Lao-Tsé, filósofo e escritor da Antiga China, fundador do taoismo filosófico: “Para ganhar conhecimento, adicione coisas todos os dias. Para ganhar sabedoria, elimine coisas todos os dias”.
O vaso que guarda outras coisas, precisa ser esvaziado e limpo, para, então, se tornar um lar para flores.
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