O medo integra a existência humana e mostra que somos seres capazes de discernir entre o que seja bom ou não, para se viver bem. Auxilia a perceber os limites que, se atravessados, possivelmente causarão danos.
A história do medo e do ser humano traz fatos, realidades, nas quais ele foi muito mais benéfico do que limitador.
Através dos tempos, quando o desenvolvimento intelecto-moral foi sofrendo modificações, trouxe a diminuição da impetuosidade, a modelagem das habitações, a limitação do território de atuação e, por conseguinte, também maior sobrevivência, se visto sob o aspecto da não exposição aos perigos e complicações que porventura fossem enfrentados. A presença do medo indicou o melhor caminho, aquele que era livre de maiores complicações, dificuldades e que proporcionava maior bem-estar.
O resumo dessa presença é a clareza da afirmação: nunca se tem a vida, os sentimentos, nem mesmo o corpo, sob total controle.
Experiências são vivenciadas, sempre num crescendo de compreensão, que mostra como o medo aparece tal qual ferramenta que amplia a visão do ser, fazendo com que ele use novos critérios, e os ponha em prática para adquirir uma postura mais segura, e uma vivência melhorada.
Quando se teme algo ou alguma situação e não se permite compreendê-la, alimenta-se o fenômeno, tornando-o gigantesco.
À medida que se permite entender os fatos que amedrontam, são cortados os liames do desconhecido e abre-se um novo horizonte de possibilidades que auxilia o sucesso e até o domínio, sobre o que antes era limitador.
Essa familiarização resulta em tornar neutra a sensação de impotência frente ao acontecimento, que, muitas vezes, leva a paralização, tanto do pensamento quanto das atitudes.
Por muitas vezes ele afronta de tal forma, pelo desconhecimento de sua consistência, que temporariamente não se toma a menor atitude para dele se livrar, passando a viver sob o guante do incompreensível temor.
Viver pode ser considerado como mudar.
A cada instante as alterações se fazem presentes e a tudo modificam.
Se for necessário englobar o novo, o medo se faz presente, da mesma forma que, se a situação indicar a necessidade do abandono do habitual, do antigo, do já existente ou do bastante conhecido, lá estará ele de novo, pedindo o enfrentamento, a protelação.
E nem sempre há o devido preparo para tal situação, por ser o medo algo para o que não há controle absoluto.
Pode acontecer que prevaleça o domínio dele em situações inesperadas, que se mostram como uma realidade desagradável. Apresentada uma resistência à mesma situação, ele se mostra mais forte.
Conclui-se que a resistência não seja terapêutica de excelência, já que se torna impotente contra algo maior e mais forte.
Então, investir na compreensão do fato, na tentativa de conhecer os mecanismos pelos quais o fato incomoda, entender o que causa o mal-estar e o pânico, pode ser de grande valia.
Lentamente vai se desvendando a causa de tanto desconforto, e, com a integração do que acontece agora com o que já era dominado anteriormente, faz cessar o incômodo, que se transforma em experiência, em resolução, em determinação.
Acontece que há várias formas erradas de se julgar o medo.
Uma das piores é a que afirma ser necessário tirá-lo das experiências de vida, por ser ele e suas sensações, um fator doentio.
O ser humano como um todo sente medo, e na maioria das vezes, muito medo, e nada mais próprio do que desejar livrar-se disso.
E esse é um caminho que só traz maiores desconfortos.
Jamais haverá o completo destemor.
Aparecerão, vez por outra, situações em que prevalecerá algum tipo de medo, que deverá ser enfrentado pela razão, para que possa ser resolvida e removida a insegurança e todas as outras sensações perturbadoras que ele causa.
O medo aparece em diversas nuances e pode se mostrar, entre outras, como: perdas consideradas insubstituíveis, abandonos que demonstram necessidades, insegurança que expõe as fraquezas, medo da morte que faz parte da essência do ser humano por induzir a própria finitude, adoecimento que mostra a necessidade de nova opção e novo método de vida, rejeições que assinalam as posturas erradas e as escolhas malfeitas.
Mas também acontecem os medos que não possuem forma real, como o de temer o escuro, o de monstros inexistentes, o dos ruídos inexplicáveis, o das contradições dos fatos reais que levam a temer o ilusório, que muitas vezes enlouquecem o indivíduo, lhe tirando o equilíbrio emocional.
Aparece o medo das perseguições imaginárias, o das afrontas não feitas, o das verbalizações jamais ditas, que vão aparecendo em um crescendo absurdo e desgastam as resistências emocionais do ser.
Quantas são as formas do medo? E de quantas formas ele se faz presente? Perguntas sem resposta exata. Vagamente conhecidas.
Ao se passar pelo medo, descobre-se a segurança que há dentro de cada ser humano.
E não existe ninguém que seja só coragem, muito menos, só medo. Somos um misto de sensações.
Sem medo, portanto, de viver, de ir em frente.
Pelo aproveitamento das oportunidades que vão se apresentando, é que se vence o que antes limitava, o que não deixava ver, muito menos sentir.
As iniciativas racionais de compreensão do medo são os melhores caminhos para vencê-lo. Incentivar o seu enfrentamento lentamente, para que o incômodo se dilua e em seu lugar possa aparecer uma nova visão, que define novos critérios, os quais encaminham o ser ao bem-estar esperado por todos os que se esforçam por mudar.
Num sentido mais transcendente, o Mestre asseverou: Nada tema. Nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se.
____________
Projeto INOVE – a vida sob novo prisma
@projetoinovi