LIÇÕES DA ÁGUIA

Ministrando a aula, o professor seguia com seus comentários:

Ao apresentar-lhes a importância da visão sistêmica da vida, dentre os exemplos que venho dando, acrescento a teia de aranha, que nos permite ali constatar que uma simples vibração em qualquer ponta da teia, repercute em toda a teia; o rompimento de um setor da teia, compromete a estabilidade do conjunto.

No entanto – continuou com a explicação -, para bem observarmos a teia em sua real abrangência, é preciso que a olhemos de uma certa distância, pois, se muito próximos, somente veremos um pequeno segmento do todo, e o que ali possamos ver de movimento, de alteração, ficaremos sem saber da origem da causa, de que lado da teia ela partiu e o que foi que o provocou. E ainda, estando a distância condizente, poderemos antever certas ocorrências, como o voo de um inseto que se dirige na direção da teia, e irá enredar-se nos seus fios. O impacto será registrado em toda a teia. Ou seja, a vida, como um sistema que é, é como uma teia onde tudo está interligado.

Paulatinamente, todos os ramos do conhecimento humano passarão a se autoexaminarem e se autorreconhecerem como parte de um sistema, cada qual se vendo, por sua vez, interligado com todos os demais conhecimentos, formando o sistema cósmico do conhecimento, da sabedoria. Do mesmo modo ao olharmos a Terra, que faz parte do sistema solar, que faz parte da Via Láctea, que faz parte do infinito Cosmos.

O ecossistema contempla a natureza como um todo, inclusive o homem, bem como as energias que cada parte desse todo menor interage com os demais, e ainda, das que lhe chegam da Lua, do Sol, dos astros estelares em geral, os quais, como já dito, fazem parte do Cosmos universal.

Bem diz a poesia de que não se colhe uma flor sem macular uma estrela.

No campo do conhecimento-sabedoria, sob certo olhar, a necessária visão amplificada da vida sempre esteve presente nos conceitos da humanidade.

Detendo nossos olhos na mitologia grega, para referência rápida, identificaremos a representação de diversos aspectos da vida diária em necessária visão maior, com cada deus representando um aspecto do todo maior, e juntos, atendendo o contexto geral: Apolo – deus da luz; Deméter – deus da terra fértil; Hermes – deus do vento; Poseidon – deus dos mares; Hélios – deus do sol; Selene – deusa da lua; Héstia – deusa do fogo; Horas – deusa que representavam as estações do ano, e os demais deuses.

Veremos que a mitologia egípcia, nórdica e de todos os demais povos, viam a vida em sua amplitude própria, denominando suas partes conforme suas funções, entregando-as aos seus deuses.

Tanto para as partes, como também para o Todo:

Rá (ou Ré): deus da criação, sendo um dos principais deuses do Egito.

Odin: maior dos deuses vikings, o pai dos deuses.

Zeus: deus dos deuses, na mitologia grega.

Júpiter: senhor do universo, para os Romanos.

Nanih Waiya: o criador, para a Grande Nação Indígena da América.

Todo os alunos estavam atentos, acompanhando cada palavra.

O professor prosseguiu.

O simbolismo faz parte de nosso cotidiano. Uma letra nada mais é do que um símbolo, uma representação gráfica da expressão sonora.

A mitologia designa o conjunto dos mitos que pertencem a um povo, a uma civilização, a uma comunidade, assim como o seu estudo. O vocábulo grego mythos (mito) significa “palavra”, “fala”, “conto” ou “história”. E toda a história é uma fantástica herança para a vida em cada momento-presente.

Toda observação atenta leva-nos a associações do que se observa em correspondência ao nosso conhecimento a tal respeito, ou mesmo o desconhecimento.

Assim, na antiguidade mais remota, ao se observar a fertilidade do solo e as maravilhas nascidas dele, sem se compreender sua natureza, mas reconhecendo seus efeitos, atribuiu-se-lhe a ação de uma divindade. Divindade: o não visto, mas o desejado, o sentido, o oculto manifestado. Do fruto se remontando à árvore. Pelo efeito cogitando-se da causa.

Falamos de visão sistêmica, que pede abandono de um ponto de vista restritivo, para poder abranger a grandeza e complexidade existente em muitos pontos quando interconectados entre si, cuja compreensão só será possível levando-se em conta todos eles em conjunto, o que significa pedir-nos expansão das nossas mentes, onde tudo começa.

Distância e altura. Céu, ar e liberdade. Voo e visão de distância certa.

Não nos vem à mente a lembrança dos pássaros? Por que não a Águia?

Não a águia das simples imagens e vídeos. A Águia viva, com a vivacidade observada e que faz parte das tradições dos povos Choctaw, Lakota, Seneca, Asteca, Yaqui, Cheyenne, Cherokee, Iroquês, Maia, Hopi e mais outros que formam a Grande Nação Indígena Americana.

Na sucessão dos séculos, esses povos indígenas observaram os animais e anotaram padrões de comportamento capazes de transmitir mensagens ocultas a qualquer pessoa atenta o bastante para captar suas lições de vida. Cada lição promovendo ideias mais abrangentes, levou-os a interpretar cada animal segundo o conjunto de suas lições, sempre dentro da natureza própria de cada um deles, lhes sublinhando características comportamentais bem marcantes, constantes e permanentes. E mais, com suas análises e reflexões, concluíram ser a vida comportamental dos animais ensinos para todos, dados pela natureza, com sua inteligência, com seu equilíbrio e pureza, devendo ser aprendido, reconhecido e também aproveitado em benefício geral.

Ora, os homens são parte integrante do grande sistema-vida, tanto quanto tudo o mais que há acima nos céus e sobre e sob a terra. Logo, colheram as lições da natureza e, no exemplo, dos animais, dando-lhes aproveitamento em benefício do aprimoramento do comportamento e do bem-estar humano.

Convidaram a conhecer e aplicar a energia correspondente a esse ou aquele comportamento assertivo de um animal, aliando tais qualidades com nossa inteligência e sentimento, para suprir-nos alguma carência emocional-intelectual.

Orientaram quais nuances seriam melhores para nossos planos de ação, e nos harmonizaram com aqueles com os quais vivemos e conosco mesmo.

Exemplo ligeiro e oportuno que serve para todos nós: aprender a viver em a natureza, integrados – pois somos também natureza -, mas sem destruí-la, consumi-la irresponsavelmente como tem sido a prática do homem nos dias atuais. Os animais servem ou não como modelo?

Vejamos que não se trata de adotar como modelo o rastejar pelo chão ou subir em árvores, mas as qualidades da energia que move cada animal em seu viver em harmonia com as leis que regem a vida. Aprender a viver em a natureza, do exemplo acima, preservando-a, é colher o estímulo, nos vermos energizados pelo senso de respeito, pelo sentimento de integração e pertencimento, pelo reconhecimento da interdependência, tão próprios e espontâneos em cada habitat natural de cada animal e de cada elemento desses habitats.

E seguia o amigável professor com sua fala.

Hoje se sabe que cada substância ativa de um medicamento é energia específica, extraída do composto químico material pela esplêndida maquinaria do corpo humano, quando ingerido, e como energia que é, age energicamente no complexo biológico, que também é um complexo energético na unidade corpo-mente. Do mesmo modo cada pensamento, cada sentimento, tem seu correspondente teor energético, benéfico ou não, conforme seja o seu teor predominante correspondente.

Pelo mesmo princípio, evoca-se um pensamento positivo a fim de combater, pela sua natureza benéfica, um pensamento negativo, que produz efeitos doentios. É a lição implícita no mundialmente reconhecido princípio: Mente sã em corpo são.

A mesma sabedoria indígena, aqui servindo de exemplo, evoca a sintonia com a energia daquele animal associado a determinada lição de vida promotora de bem-estar, de certos valores comportamentais, de certos padrões psicológicos, de certos modelos existenciais.

Voltemos à Águia que, no seu voo nas grandes alturas, tem visão de largos horizontes, bem como dos detalhes de cada ponto focado, dando-lhe segurança de ação. Ela vê os altos e baixos, as montanhas e os vales, os rios e as florestas, as flores e os frutos, o fixo e o móvel, os homens e os animais.

Comparada a um lagarto, que registra um pequeno espaço apenas a sua volta, o ângulo de visão da Águia é inúmeras vezes maior, de tal modo que o lagarto não tem nem como imaginar a grandeza de visão de uma águia.

Trazendo a Águia para nosso tema de hoje, que é a visão da vida como sistema, ela exemplifica-nos a necessidade e a capacidade que temos de voar alto e ver a vida com a consciência ampliada, desperta para a realidade que os novos horizontes nos apresentam e revelam o pensamento humano moderno. Alargando a mente para além do morro da ignorância que até então era obstáculo para nós enxergarmos o existente desde sempre, mas desconhecido para nós, nos verdes vales da vida.

Do mesmo modo a Águia baila nas alturas e faz voos rasantes certeiros, nos ensinando que somos capazes de viver uma vida mental na esfera das percepções ampliadas, sutis como o espiritual, e, manter os pés no chão, aqui resolvendo o que se pede em cada passo, pois a Águia não saltita quando no chão, ele dá um passo de cada vez, com assertividade, destemor e coragem. Luta valentemente pelo que quer, para não perder a oportunidade, e depois retorna para o ar, vencendo-lhe a imponderabilidade, respeitando-lhe suas leis e, aproveitando-as, delas se utiliza para plainar, depois de, com todo esforço de asas, ter alcançado a altura devida.

O voo da Águia se dá conforme a realidade que lhe é própria e mantém visão do próximo e no distante, não tendo lugar para ilusões de ótica e de ponto de vista. Mais um ensino que daí podemos colher, que é reconhecer nossas competências e visualizarmos realizações possíveis, despertando para a vida em seu verdadeiro sentido e razão, deixando as ilusões de quem rasteja sem olhar um metro à frente, tomando ciência de que pode voar, permitindo-se alcançar um plano mental superior.

 A Águia constrói seu ninho no topo das montanhas altas, onde o ar é mais limpo e os movimentos são mais livres.

O ninho para nós, simbolicamente, é o nosso coração, que precisa estar arejado pelo ar superior que o equilíbrio emocional gera, conquistado com um estilo de vida saudável, livre e refazente.

Na altura de uma mente livre das amarras dos preconceitos, enriquecida de conhecimentos edificantes, desperta e lúcida, própria de quem vive conscientemente muito acima da dimensão mundana e comum, é que alcançaremos a “corrente de ar” da intuição, que nos facultará perceber, a qualquer momento, que aspectos de nossa alma, de nossa personalidade, de nosso nível emocional ou psicológico, necessitam ser reforçados, aperfeiçoados ou corrigidos. Para isso, a energia da Águia, evocada pela lembrança e desejo, virá em nosso auxílio, nos afirma a tradição dos índios americanos.

E eles nos falam: “A magia da Águia é o presente que concedemos a nós mesmos para mantermos sempre em mente a lembrança da liberdade existente no céu. A Águia deseja que você permita a si mesmo gozar a liberdade segundo os desígnios de seu coração, e pra encontrar a felicidade que ele ambiciona”.

Finalizando, concluiu o professor:

Não percamos de vista nos nossos mais altos ideais, e a iluminação ocorrerá com toda certeza!

A sabedoria será sempre sabedoria, não por quem a tenha alcançado, mas pelo conteúdo edificante que contenha.

Oriente e ocidente, gregos, europeus, chineses, mongóis, africanos, hindus ou índios, a sabedoria é encontrada onde quer que a busquemos, pois tudo faz parte de um grande e único sistema a que chamamos Vida.

Olhemos com a profundidade e abrangência do olhar da Águia, nossa vida de relação com os nossos afetos, como sendo o pequeno, porém fundamental, sistema-família, e observemos a movimentação de cada um, sem perder de vista o outro, de modo a podermos compartilhar da existência deles, presentes, ativos, assertivos, amorosos.

Da altura da tolerância, visualizemos o nosso ambiente de trabalho, outro pequeno e importante sistema, e ali participemos, sabendo que nossas ações gerarão repercussão no conjunto, sempre. Então, nos façamos agentes positivos, pousando em cada coração com a suavidade de quem vem para ajudar, colaborar, participar pelo bem do conjunto.

Como quem voa nas alturas de uma consciência desperta, lúcida e sensata, participemos do grupo social de relacionamento e experiência diária, sistema formador da sociedade, com a realidade de quem vê novos e promissores horizontes, logo ali à frente do “mesmismo”, ensinando pelo exemplo, que o bem-estar é possível e aguarda cada um que se resolva por romper com o cotidiano doentio das rotinas infelicitadoras, dos hábitos limitadores e constrangedores, do convívio com usos e costumes viciantes e escravizadores, do abrigo íntimo do amolentamento e desânimo, da miopia intelecto-emocional que não permite ver, aceitar e adotar a verdadeira razão de ser, dando sentido a uma vida sem sentido.

Do simples voo exemplar de uma Águia, sua energia comportamental nos dá a lição, dentre outras,  de que a vida é um sistema edificador, solidário, em que a natureza somos nós e cada um, fazendo parte da natureza, devemos respeitá-la, como devemos nos respeitar e desejamos que os outros também nos respeitem, assim como também, e primeiramente, devemos respeitá-los.

Do mesmo modo que a vida exterior deve ser vista dentro de uma visão sistêmica, a nossa vida interior também o é, em que corpo-mente forma um sistema único e indivisível, pedindo o mesmo carinho e respeito, e aplicando a energia curativa da Águia para sanar eventuais distorções comportamentais que ainda adotemos, a fim de alcançarmos o bem-estar duradouro.

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