Como os mexilhões produzem uma cola que adere a qualquer coisa dentro da água? Como as aranhas tecem um fio de seda que, pedacinho por pedacinho, é cinco vezes mais forte do que o aço? Como um abalone produz uma concha que é duas vezes mais resistente que as nossas cerâmicas produzidas por alta tecnologia? Como essas criaturas fabricam seus materiais inusitados na água, em temperatura ambiente, silenciosamente e sem quaisquer subprodutos tóxicos?
Janine Benyus, naturalista e divulgadora científica, criou o termo “biomimética”, palavra derivada do grego bios (“vida”) e mimesis (“imitação”), significando “imitação da vida”, para o planejamento de estruturas e processos específicos inspirados na natureza, dentro do princípio da natureza como modelo e mentora.
Em seu livro, Biomimicry: Innovation Inspired by Nature i(Biomimética – Inovação Inspirada pela Natureza, publicado pela Editora Cultrix, São Paulo, 2003), ela nos leva a uma viagem fascinante por numerosos laboratórios e estações de campo onde equipes interdisciplinares de cientistas e engenheiros analisam a química minuciosa e a estrutura molecular dos mais complexos materiais da natureza para usá-los como modelos em novos projetos humanos.
Por exemplo, na Universidade de Washington estudaram a estrutura molecular e o processo de montagem do liso revestimento interno da concha do abalone (molusco gastrópode, herbívoro, que se alimenta de algas marinhas), que mostra delicados padrões coloridos e retorcidos e é duro como um prego. Eles foram capazes de imitar o processo de montagem à temperatura ambiente e criaram um material duro e transparente que poderia ser um revestimento ideal para os para-brisas de carros elétricos ultraleves. Pesquisadores alemães imitaram a microssuperfície irregular autolimpante da folha de lótus para produzir uma tinta que fará o mesmo para os edifícios. Biólogos marinhos e bioquímicos passaram muitos anos analisando a química ímpar usada pelos mexilhões azuis, que secretam um adesivo que cola sob a água. Eles estão agora explorando aplicações médicas potenciais que permitirão aos cirurgiões criar conexões entre os ligamentos e os tecidos em um ambiente fluido. Físicos se uniram com bioquímicos em vários laboratórios para examinar as estruturas e os processos complexos da fotossíntese na esperança de que, finalmente, consigam imitá-los, criando novos tipos de células solares.
Benyus sugere que deveríamos valorizar a natureza como modelo, medida e mentora, e não com a ultrapassada proposta de domarmos a natureza.
Leonardo da Vinci, o grande gênio da Renascença, é reconhecido como pioneiro dessa prática. Ele afirma em seus famosos Cadernos de Notas, que a engenhosidade da natureza era muito superior ao planejamento do homem. No trabalho de Leonardo como projetista e engenheiro, há numerosos exemplos de como ele usava os processos naturais como modelos para o planejamento humano.
O que distingue os praticantes modernos da biomimética de seus antecessores históricos é o fato de que eles analisam e tentam imitar as estruturas e os processos biológicos no micronível da bioquímica e da biologia molecular, às vezes até mesmo no nanonível de átomos e moléculas individuais. Nesses níveis, é evidente que há uma diferença crítica entre os processos da fabricação humana, que são barulhentos e fazem uso intensivo de energia, e que frequentemente geram resíduos tóxicos, e os organismos vivos, que produzem, silenciosamente, materiais de qualidade superior, à temperatura ambiente, e sem resíduos tóxicos.
De modo bem resumido, esse é um dos pontos que o ecoplanejamento estuda e divulga, a fim de convocar a sociedade civil global para uma alfabetização ecológica, de modo a que a união gere a força necessária e urgente de um replanejamento visando a restauração da Terra, remodelando conceitos de usos e costumes, de estrutura social, de modelo produtivo, de sistema econômico, de saúde social, de sustentabilidade da vida para que a essa vida nos dê vida, sem perdas e extinções de sistemas e espécies.
Olhemos mais detidamente para o replanejamento do uso da propriedade em prol de uma economia geradora.
A propriedade geradora, dentro de ecoplanejamento, tem um propósito vivo: criar as condições para a vida. Enquanto a propriedade extrativista, modelo atual dominante, tem um propósito financeiro: maximizar os lucros. A propriedade geradora tem membros arraigados, com a propriedade mantida por mãos humanas, com o controle daqueles focados na missão social. Já a propriedade extrativista envolve a governança por mercados, que mantêm o controle pelos mercados de capitais ligados no piloto automático.
O conjunto dos projetos de propriedade geradora está formando, uma economia geradora nascente, que envolve nada menos que replanejamento da arquitetura econômica fundamental nos níveis do propósito organizacional e da estrutura. É um fenômeno emergente, produzido por comunidades auto-organizadoras para sustentar e melhorar o florescimento da vida, em harmonia com natureza e com o próximo.
A nova visão da vida, sistêmica, como uma grande e solidária rede, humaniza o homem na relação com o próprio homem, e o integra à natureza, onde vivem juntos, em equilíbrio, advindo pelo respeito e pelo zelo.
Ao falarmos de ecoplanejamento, estamos falando de planejamento para vida saudável.
Não podemos nos manter alheios, abstraindo de nossas considerações os reais problemas que afetam a Terra, os rios, as matas, os animais, os alimentos, a saúde nossa, e os seus porquês, como se nada estivesse acontecendo ou como se não nos afetasse.
Ledo engano!
O simples respirar o ar poluído, o beber a água repleta de produtos químicos, para torná-la usável, o ingerir alimentos contaminados por agrotóxicos e repletos de hormônios, de antibióticos e muito mais, nos faz vítimas e cúmplices, ao mesmo tempo. Vítimas por sofrermos a agressão orgânica, silentes, e cúmplices, pelo nossa inércia e passividade, nada fazendo pelas necessárias reformas, se é que não estamos dentre os que rendem culto ao absolutista deus capital, sacrificando-lhe diariamente, como oferenda de reverência e obediência, o bem-estar da humanidade, inclusive dos próprios entes queridos, e o seu próprio.
Vale lembrar o alerta dado por Martin Luther King, pastor protestante e ativista político estadunidense. Um dos mais importantes líderes do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, e no mundo: O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.
É a fuga silenciosa que a indiferença impõe, inibindo a coragem do enfrentamento.
Certamente a transição para um futuro sustentável não será fácil. Há muitos interesses de poderes dominantes. Mudanças graduais não serão suficientes para virar o atual ciclo destrutivo do ecossistema; também precisaremos de alguns grandes avanços desbravadores.
O que precisamos é de vontade política e de lideranças. Essa liderança não se limita ao domínio político. No mundo de hoje, há três centros de poder: governo, empresas comerciais e sociedade civil. Todos os três (em graus variados) precisam de líderes ecologicamente alfabetizados, capazes de pensar sistemicamente.
Václav Havel, o grande dramaturgo e estadista tcheco, em uma meditação sobre a própria esperança, nos fala: Esperança não é a convicção de alguma coisa vai dar certo, mas a certeza de que alguma coisa faz sentido, independentemente do que virá a acontecer com ela.
Preservar a vida saudável faz todo o sentido. A esperança está presente.
Precisamos nós dizermos, de nossa vez: presente! e juntos enfrentarmos os magnos problemas do século 21.
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Se por ventura estamos olhando o futuro com descaso e desatenção, como estaremos, então, olhando para dentro de nós?
Atônitos e sem resposta imediata, seríamos incapazes mesmo de analisar com veracidade nossas atitudes em relação a nós mesmos.
Pois que, na maioria das vezes, são infelicitadoras e paralisantes essas atitudes, rumo à excelência buscada, quando nada surge no mundo interno, pessoal, em relação à semelhança desejada, por comparação, às maravilhas que a mente humana já executou com a tecnologia e as invenções nas mais diversas áreas.
E assim caminha o homem, solitário e infeliz, fruto de seu desespero por não conhecer e nem buscar a divindade que habita seu íntimo; por ele mesmo desesperançado, parte em busca de uma nada, que jamais o completará, e, assim mesmo, insiste em ir adiante, sem acessar a área do raciocínio analítico de si mesmo! Pobre criatura!
Será que permitiremos que esse nosso alheamento egoísta em relação às reais situações de nosso planeta, que estão acontecendo à olhos vistos, nos leve a supor que não gerarão danos significativos para nossos descendentes?
Onde anda escondida a causa verdadeira dessa invasão desnecessária e destrutiva feita nas matas, campos, baixios, rios, lagos, mares e oceanos, se somos completamente capazes de agir em equilíbrio, caso nossa prepotência assim nos permitisse!
E, ao compararmos, no atual momento deste presente de lutas e sofrimentos para a maioria dos que compõem a população da Terra, como é que nossos antepassados nos entregaram essa belíssima moradia, que gira através do nada, imantada no grande sol que nos permite a vida?
Envergonhados teríamos ainda a chance de recuperá-la o quanto antes, agindo em harmonia com toda a capacidade desinteressada daqueles que visam o bem comum.
E assim agindo, teríamos ainda uma outra chance: a de nos permitir estar recuperando o distanciamento feito propositadamente com os demais seres humanos, em prol de nós mesmos, e teríamos a chance de gerar uma sociedade consciente que procuraria, através da educação e de um aculturamento global, um aprendizado de tudo o que já foi experienciado por uns, por outros, por todos, em união, de mãos dadas, sem cor ou língua, sem interesse de domínio nem mesmo de poder, com a bondade em repartir o que já se domina para ilustrar beneficamente a vida dos que não conseguem ainda ter ampliados seus próprios conhecimentos.
Numa visão de uma grande harmonia, isso seria o mesmo que trazer, gradativamente, a implantação do Reino dos Céus na Terra, como proclamado nas Bem-aventuranças, esse verdadeiro hinário de exaltação a quem se entrega a Deus e nEle confia, regras de ouro para a aquisição da felicidade, poema exemplar desatado pela emotividade de nosso Grande Amigo, Jesus!
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Projeto INOVE – uma visão sistêmica da vida