Um pintor olha o seu quadro pintado, pronto e reflexiona:
Na minha frente, a tela, e ao meu lado, tinta, pinceis, lápis, papel com estudos gráficos e rascunhos…
Peguei o pincel na mão para pintar, mas quem ou o que é que pinta?
É o pincel?
Sou eu?
São ambos ou nenhum?
Eu defino o contorno, escolho as cores, conduzo o pincel, mas o que é isso que me move?
E acaba por concluir que o valor essencial de uma pintura não reside nem na qualidade da tela nem nas cores; esses componentes materiais do quadro são portadores e transmissores de uma ideia, de uma imagem interior do artista, de onde vem o estímulo à ação.
A tela e a cor facultam a visualização do que nasce no invisível e são, por isso, a expressão física de um conteúdo metafísico.
A forma reflete o que os olhos não podem ver.
No dizer de Aristóteles, “a arte é a ideia da obra, a ideia que existe sem matéria”.
Será assim tão difícil compreender que por detrás de toda a criação existe um esquema invisível que apenas se manifesta no mundo material?
A natureza nos dá mais respostas.
As estrelas não caem do céu.
As estações do ano chegam e partem.
As flores desabrocham, os frutos amadurecem, as folhas caem.
As marés sobem e descem.
Consideremos as sementes:
O maior inimigo da semente é o tronco paternal.
A semente que cai ao pé da árvore ou da planta, está perdida ou germinará na miséria.
Daí o esforço imenso da semente para conquistar espaço e ir para longe, o que se vê nos maravilhosos sistemas de disseminação, de propulsão, que encontramos a cada passo na floresta e na planície.
As plantas desenvolveram diferentes estratégias para dispersar suas sementes: pela terra, pela água, interagindo com animais e até pelo ar.
Por exemplo, as sementes aladas.
Elas possuem uma anatomia aerodinâmica que lhes permite que voem, caiam ou planem e se afastem mais da planta mãe.
São diversos tipos, dentre elas, as conhecidas sementes: planadoras, paraquedas, helicópteros, cataventos, fiapos de algodão, salsolas e outras.
O pepino Java (Alsomitra macrocarpa), natural das florestas asiáticas tropicais do Arquipélago Malaio e Ilhas da Indonésia, solta da parte inferior de seus frutos, quando maduros, sementes aladas, com asas grandes, finas e transparentes, e deslizam no ar, planando por longas distâncias.
O Bordo (da família Aceraceae) e a Oleaceae, têm sementes do tipo aladas helicópteras.
São sementes com uma asa rígida ou membranosa em uma extremidade, com uma leve inclinação que a faz girar quando cai.
O giro é semelhante a autorrotação do helicóptero ao descer.
Um dos pais da aeronáutica, o inglês George Cayley, desenhou um propulsor depois de observar o voo das sementes de Bordo, que caem da árvore girando em alta velocidade e podem percorrer duzentos metros.
A reveladora inteligência reinante na natureza se apresenta, também, nas flores e na sua fecundação, com engenhosas cerimônias nupciais.
Um caso bastante original é o da Arruda (Rut graveolens), erva medicinal, bastante cheirosa.
Os estames, tranquilos e dóceis na corola amarela, esperam, dispostos em círculo, à roda do grosso pistilo.
Na hora conjugal, obedecendo à ordem da mulher, que, aparentemente, faz uma espécie de apelo nominal, um dos machos aproxima-se e toca no estigma; depois, vem o terceiro, o quinto, o sétimo, o nono macho, até o último que pertença à série ímpar.
Em seguida, na série par, é a vez do segundo, do quarto, do sexto etc.
É uma flor que indica saber contar e disciplina o ato da fecundação ao seu ordenamento sui generis.
Outro exemplo é a lendária Valisnéria, cujas núpcias constituem o mais trágico episódio da história amorosa das flores.
A existência da pequenina planta decorre toda no fundo da água, numa espécie de sonolência, até a hora nupcial.
Então, a flor fêmea desenrola lentamente a longa espiral do seu pedúnculo, sobe, emerge e vai pairar e desabrochar à superfície da água.
De uma haste próxima, as flores masculinas que a entreveem através da água repassada de sol, elevam-se também, cheias de esperança, para aquela que oscila, como a chamá-las para um mundo encantado.
Mas, chegadas a meio caminho, as flores masculinas sentem-se retidas: a sua haste, que é fonte da sua própria vida, é muito curta; e, portanto, nunca elas atingirão a estância de luz, onde se possa realizar a união dos estames e do pistilo.
Porém, se trata da manifestação do continuum da espécie, cuja função lhes cabe.
Depois de um esforço magnífico, para se elevar até à felicidade, as flores masculinas, impulsionadas pela força inerente a vida, deixam-se conduzir para a obra geral, e despedaçam o vínculo que os prende à existência.
Arrancam-se do seu pedúnculo, e, num impulso incomparável, as suas pétalas sobem e vão rasgar a superfície das águas.
Feridos de morte, mas radiantes e livres, flutuam por um momento ao lado das suas noivas; e efetua-se a união.
Depois, os sacrificados perecem, e são levados à mercê da água, enquanto a esposa, já mãe, cerra a sua corola, onde vive o último sopro do macho, enrola a sua espiral e desce de novo às profundezas, onde amadurecerá o fruto do beijo heroico.
Tudo aquilo que é visível é apenas a expressão do invisível, tal como a arte é a expressão visível da ideia do artista e a natureza reflete a Suprema Inteligência que a tudo e todos envolve.
Essa é a totalidade singular da vida, da qual a subjetividade e a objetividade são seus aspectos gêmeos.
Um não há sem o outro.
O aspecto subjetivo olha para o aspecto objetivo.
O invisível é experienciado no visível.
O alto contém o baixo.
O começo e o fim não são dois, mas sim aspectos iguais de um só.
A largada e a chegada fazem parte de um único caminho.
A fruta contém a semente que contém a fruta.
Esse é o princípio presente em todas as coisas.
O substrato de qualquer coisa é de caráter mental, onde tudo começa.
Se torne puramente receptivo, se afaste do falso e deixe o grande portal da realidade maior se abrir para você.
Aprenda a dar os próprios passos, mas sentir que é conduzido para a obra geral.
Aquilo que é e que os olhos não veem – o mistério que a tudo comanda e não é preciso nomear -, pode ser claramente percebido pela observação silenciosa com o coração.
Em silêncio, um olho interior e sutil se abre e vê o que é fundamental a todas as aparências.
O que a laranjeira tem que fazer para que as laranjas cresçam?
O que o céu tem que fazer para ser azul?
O que você tem que fazer para ser?
O maior privilégio da vida é ser quem você é.
A chave para o entendimento é a dissolução das barreiras entre o sujeito e o objeto, entre aquilo que é conhecido e aquele que conhece, entre aquilo que é visto e aquele que vê, o que se observa e o observador.
Não se localizam os marcadores da separação, mas é sensível a distinção.
Em várias ocasiões, nós olhamos profundamente no espelho, como quem se olha no mais íntimo do ser, em busca de nós mesmos, de quem somos.
O fracasso momentâneo que segue de nada enxergar é a verdadeira descoberta: você não é o observado no espelho, você é o observador-observado.
Saber que se é, é natural.
Saber quem se é, é o fruto de profunda investigação.
O que é comum a todas as experiências é a consciência da experiência.
Estar presente e consciente não é um estado.
É o fundamento existencial de onde todos os seres se erguem.
Levante-se para a Vida!
Se faça presente, olhe tudo com olhos que tudo vê, e experencie a vida e o bem viver.
Você é isso: um centro de pura autoconsciência.
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