DA INTENÇÃO À REALIDADE

Imaginemos que estamos em pé dentro de um ônibus ainda parado.

Assim que ele arranca, ficamos para trás, e precisamos nos segurar com firmeza para não cair. Um pouco de movimento, e conseguimos nos reequilibrar. Porém, assim que ele freia, nós nos vemos ir para frente, e precisamos nos apoiar numa das pernas e nos segurarmos bem, para não cairmos. Ele arranca novamente e faz uma curva, e nós seguimos reto, em direção diferente à que ele tomou. Ele fez a curva, nós ainda não. Mais uma vez, toda uma ginástica nossa para não cairmos. Já, quando o ônibus mantém uma velocidade constante e numa mesma direção, podemos até soltar as mãos das travessas de apoio, que nada de mais significativo acontecerá, pois nós também estaremos com a mesma velocidade, em equilíbrio com o ônibus. Ele anda a 30 km/h, por hipótese, nós também.

Isso é inércia. A tendência que todo corpo tem de permanecer no estado em que se encontra, seja de repouso ou de movimento. Para vencer a inércia deve-se aplicar uma força no corpo para que ele mude de estado.

Falar de inércia pede que também falemos de força de atrito.

A força de atrito cinético é relativa ao objeto em movimento. Por exemplo, arrastar um armário. Ao empurrá-lo para frente, a força de atrito é inversamente proporcional à força que empregamos e da direção aplicada. Grosso modo, é como se alguém estivesse a puxar o armário, enquanto o empurramos, para impedi-lo que se movimente. Vamos conseguir deslocar o armário se a força de movimento (empurrar) for maior do que a força de atrito.

No nosso enfoque, o que desejamos é o alcance do equilíbrio.

Peguemos essa imagem e vamos trazê-la, como uma metáfora, para nossa vida comportamental.

Geralmente estamos acomodados em determinadas situações de nossas vidas, e ali estabelecemos zonas de conforto, mesmo num quadro de sofrimentos emocionais, doenças; ou paramos no tempo mental, intelectual, psicológico, social, profissional. A força da acomodação, do desalento, da tristeza, da desesperança, da apatia, da falta de objetivo, dos prazeres fugidios, dos vícios, da rotina, é maior do que a força da inovação, da mudança, da providência, da atitude, e nos retém indefinidamente num contexto nem sempre prazeroso.

Mudar essa situação de “inércia existencial” começa com o sentimento da insatisfação com o mesmismo, que será percebido ou por força das ocorrências, que podemos chamar de dor, ou em momentos de reflexão mais séria e profunda sobre nós próprios; sobre a vida, sobre o viver; sobre a realidade do estado presente; sobre o nosso entorno; sobre o porvir; sobre nós e sobre o mundo; sobre o interno em nossos corações e sobre o exterior – circunstância e possibilidades; sobre êxito e sobre derrota; sobre objetivos e razões da existência ou falta deles.

Ou seja, será necessária uma força, externa ou interna, suficientemente impactante para estimular o arranque que vença a inércia, e nos coloque em movimento ascensional, novamente. Retrogradar, jamais.

Se já estamos nesse estágio do desejo por mudanças, ótimo. Se ainda não, saibamos que se faz urgente uma revisão de nossa escala de valores, de como vivemos.

A força é poder fazer. A coragem é querer fazer, como bem apontou Lao-Tsé, filósofo e sábio escritor da Antiga China, autor do importante livro Tao Te Ching, e fundador do taoísmo.

A mudança acalentada precisa de um ponto inicial reconhecido e sabido, e do ponto final. Do estado existencial presente e do estado existencial futuro desejado.

Estado existencial futuro é resultado pretendido. O resultado pretendido depende de uma ideia primordial, de uma intenção, de um sonho, de um objetivo.

Antecipamos a afirmativa de que não basta anelar por esta ou aquela conquista. É imprescindível insistir e perseverar, de forma que a potência da ideia nova predomine, com força superior as que se encontram no domínio dos acontecimentos de agora, que são os que nos retém no estado indesejado.

E a ideia nova, o novo estado desejado, precisará ser cultivada, por autoindução permanente, com pensamentos vitalizadores do que se aspira, a fim de anular os nossos “terroristas” internos – ideias, crenças e valores antigos obstaculizando a mudança – que não desistirão com facilidade do domínio até então mantido de nossa vontade e senso crítico, e promovem boicotes regulares em nosso estado emocional. A ideia nova deverá ser nossa nova identidade, com novas fixações psíquicas e emocionais, a manifestar-se em novas atitudes.

A força-ideia nova tem de ser maior do que a força-ideia velha (força do “atrito”).

Já sabemos que não basta querer, é preciso saber querer. Uma das razões do sofrimento humano é querer equivocadamente.

Sintetizemos assim: ideia nova pede exame da sua possibilidade, da sua conveniência, pois nem tudo que podemos, devemos, e nem tudo que devemos, nos convém, e, do mesmo modo, nem tudo que devemos, podemos. A ideia amadurecida pede a visualização do resultado desejado, com contornos e conteúdo, com ensaio mental de seu alcance, condições, uso e pertencimento.

Se você construiu castelos no ar, o seu trabalho não está perdido; agora coloque os alicerces debaixo deles, aponta George Bernard Shaw, George Bernard Shaw, dramaturgo, romancista, contista, ensaísta e jornalista irlandês.

Compreendido que podemos, devemos e nos convém, prossigamos.

Aqui é momento da usarmos nossa assertividade. Assertividade é uma competência emocional que determina que um indivíduo consegue tomar uma posição clara, ou seja, não fica “em cima do muro”. Uma pessoa assertiva afirma o seu ‘eu’ e a sua autoestima, demonstra segurança e sabe o que quer e qual alvo pretende alcançar. A assertividade está relacionada com o pensamento positivo e proatividade, alguém que assume as rédeas da sua vida. Assertividade não significa que uma pessoa está certa ou errada, mas indica que a pessoa anuncia e defende as suas ideias com vigor e respeito pelos demais, mas firma seu desejo.

Entre o estado presente (onde estamos mas preferimos não estar) e o estado desejado (onde e como desejamos estar e como desejamos encontrar), há o conjunto de recursos que precisaremos para construir a estrada da conquista (como, por exemplo, as estratégias de ação, as condições de saúde, o ânimo e demais estados emocionais, as crenças e conhecimentos devidos, os valores de tempo, de habilidade, de capacitação, e outros).

Da simples ideia-sonho, começamos agora, com as variáveis antevistas na estrada da conquista, a formular nosso plano de ação, pois a ação é o coroamento das disposições íntimas, a materialização do pensamento nas expressões do êxito.

O plano elenca rol de necessidades e de recursos disponíveis, com destaque ao que falte.

Alexander Graham Bell – cientista, inventor e fundador da companhia telefónica Bell -, registrou sua recomendação: Antes de mais nada, a preparação é a chave para o sucesso.

Necessidades, disponibilidades, complementariedade, arrumação e preparo.

Em linhas gerais, sabemos a direção que devemos seguir e mapeamos o caminho para chegar lá.

Antes de prosseguir, revisemos: o porquê estamos a caminho; se os valores que nos guiam nessa jornada transformadora valem o quanto pesam; como nos sentiremos ao final exitoso da empreitada; e como se sentirão meus amores.

Toda resolução pede coragem, que não quer dizer total ausência do receio e do medo, pois este, se bem considerado em nossas ponderações, se faz oportuno conselheiro, no entanto, coragem pede determinação.

Considero mais corajoso alguém que conquista os seus desejos do que aquele que conquista os seus inimigos, já que a vitória mais difícil é a vitória sobre si mesmo, comentou Aristóteles, filósofo grego.

Resolvido ir, vamos então.

O primeiro passo, a primeira atitude, é alavancada pela vontade, a qual, quanto mais firme, maior a persistência, e a persistência é a base da vitória.

A persistência deve ter a lucidez do discernimento e a inteligência da flexibilidade.

Flexibilidade é a capacidade de oferecer mudanças diante das eventualidades, dos imprevistos.

Lembramo-nos do comentário de Bertha Calloway, ativista e historiadora da comunidade afro-americana em North Omaha, Nebraska: Você não pode controlar a direção do vento, mas pode ajustar as velas.

Dificuldades preparam pessoas comuns para destinos extraordinários.

Não provoque a luta, aceite-a; é melhor recuar um metro do que avançar um centímetro, ensina o sábio Lao-Tsé.

Estar acima, sobressair, redobrar ação, atitude de superar, passar mais além, são todos significados de superação. Vamos precisar interiorizar esta capacidade, cuja base estrutural está no controle que tenhamos de nossas emoções.

O filósofo e psicólogo William James ensinou que, quando mudamos nossa forma de pensar, mudamos nossas vidas.

Porém, não apenas uma nova mentalidade, mas um novo conjunto de habilidades e das novas ferramentas e recursos que decorrem delas.

Novos estados desejados: saúde, harmonia familiar, equilíbrio emocional, mudanças profissionais, e tudo o mais, têm o começo em nós mesmos, em nosso mundo mental, onde somos, ou deveríamos ser, senhores.

Da intenção à realização, tudo cabe na extensão de nós mesmos, do que somos e do que podemos ser.

De pensamento à palavra, à ação, passo a passo a intenção se converte em realidade.

Somos os artífices do nosso amanhã

Ora fazemos dele dias sombrios, repletos de ideias anestesiantes e geradoras dos estados enfermiços e transtornantes. O mesmo estado que vemos estampados nas faces da humanidade, cujas marcas de sofrimento são os reflexos do que está cheio os corações: mágoas, ressentimentos, ciúmes, orgulho, vaidade, intolerância, preguiça, desalento, desesperança.

Ora fazemos dele dias de radiosa claridade e bem-estar, com mentes lúcidas e construtivas do ideal superior, nosso devido Norte existencial verdadeiro, acionado pelo magnetismo do Celeste Timoneiro, que dirige e embarcação de nossas vidas.

E assim seguimos pelo caminho triunfante, a circular pelo Cosmos com sua infinitude de tempo, espaço e beleza, que canta a glória do Divino Relojoeiro, criador e mantenedor do Todo Universal, que se revela perfeito como a maquinaria do mais perfeito relógio que possa ser concebido.

O passado não é mais, e o futuro não é ainda, elucida Santo Agostinho.

Construtores que somos do nosso mundo melhor, dispomos do hoje e do agora para começarmos a colocação dos tijolos de amor, levantando as paredes da nossa querência de paz e saúde real, em nossos corações, resultado possível que todos almejamos, porém poucos nos dispomos a tanto.

Hoje é o nosso dia, agora é o nosso momento-vida de adotarmos transformações de raiz, cultivando o bem-estar permanente.

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Um comentário em “DA INTENÇÃO À REALIDADE”

  1. Ah! Quão poucos de vós fazeis esforços. O que vos falta é a Vontade( Allan Kardec)….ou melhor a Força de Vontade, essa força sendo a mola propulsora da Vontade. Adorei a reflexão!!

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