A leitura de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, remete-nos ao diálogo de Alice e o gato Cheshire:
Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?
Isso depende muito de para onde queres ir – respondeu o gato.
Preocupa-me pouco aonde ir – disse Alice.
Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas – replicou o gato.
O sentido de destinação é fundamental na vida.
As aves migram para lugares certos, conforme a estação do ano.
Peixes viajam milhares de quilômetros, periodicamente – como o salmão, por exemplo – e vão se reproduzir em lugar certo.
O pólen, por ele próprio, não tem sentido sabido, mas tem destinação preciosa que se realiza graças as abelhas e outros polinizadores da natureza.
Os rios serpenteiam pelos caminhos, superam obstáculos e alcançam, por fim, o grande mar.
Alguns de nós nos vemos confusos quanto a destinação a se assumir. Algumas vezes por não cogitarmos a respeito, nos dispomos apenas ir seguindo conforme a maré. Outras vezes, tão absorvidos pela força dos hábitos, vivemos com o piloto automático ligado, como que anestesiados pelos efeitos da rotina escravizante, sem domínio sobre a realidade.
O filósofo Willian James afirmava que até certo ponto somos vítimas da neurose do hábito, vendo aí grande fator impeditivo de avanço nas conquistas que podemos e devemos empreender. Como constatado pela escritora Clarice Lispector, que anotou: Bem, e daí? Daí nada. Quanto a mim, autor de uma vida, me dou mal com a repetição: a rotina me afasta de minhas possíveis novidades.
Hábitos e rotinas têm um inacreditável poder para desperdiçar e destruir, se não passarem por constante revisão da importância e necessidade positiva em nossas vidas.
Excluímos desse raciocínio o condicionamento de que a vida supre os animais, em nome da sobrevivência e de tudo o mais de que cada espécie se faz fundamental para o equilíbrio da natureza. Diferem dos instintos pelo fato de que um hábito pode ser criado, modificado ou eliminado pela direção consciente.
O clássico filósofo Aristóteles ensina-nos que somos o que fazemos repetidamente.
Os hábitos são valiosos e necessários, simplificando o movimento necessário para obter um dado resultado, tornando-o mais acurado e diminuindo a fadiga. Neste sentido, os hábitos constituem uma faceta da aquisição de habilidades.
Mas pelo fato de que os hábitos são ações ou pensamentos que surgem aparentemente como respostas automáticas a uma dada experiência, esse seu automatismo anula a criatividade.
Para um direcionamento inovador, com consciência, é preciso romper com a síndrome de Alice; não saber para onde quer ir e querer saber a melhor saída rumo ao não sabido, nem decidido.
Não condiz com natureza humana aceitarmo-nos como folhas ao vento, sem controle da nossa destinação, ignorando para onde as folhas serão conduzidas.
Acordar dessa letargia. Abrir os olhos e os demais sentidos, de modo a identificar que a vida pulsa e, qual onda do mar, leva para diante quem resolva sobre ela surfar, bem conduzindo sua prancha.
Há horizontes novos a espera do nosso despertar de consciência. A vida é bem mais do que simplesmente estar aqui.
Quem não sabe o que busca, não identifica o que acha, elucida o grande pensador Immanuel Kant
Devemos nos permitir as devidas mudanças na vida, buscando-as e facilitando-as, como sendo ajustes de rota, necessárias para seguirmos com nossa destinação pessoal.
Para isso, repetidamente, hábitos e rotinas precisam ser analisados e relembrados os seus porquês de adotados e mantidos, e se assim devem ficar por mais algum tempo.
Uma vida não questionada não merece ser vivida, diz Platão, o grande filósofo e matemático do período clássico da Grécia Antiga.
Aprender é mudar posturas.
Novos conhecimentos, novos pensamentos, novos rumos, novo mundo.
Um futuro renovado e saudável nos aguarda, e ele começa hoje, agora.
Queremos mudanças?
Mudemos!
Mude suas opiniões, mantenha seus princípios. Troque suas folhas, mantenha suas raízes, apontou Victor Hugo, o aplaudido escritor francês.
Sem essa flexibilização de postura, forçamos uma estagnação no avanço na estruturação de nossa individuação, deturpando o sentido de humanização, destinação a que todos estamos sujeitos em nome da lei natural do progresso. Humanos, sim, já somos, mas ainda cabe nos esforçamos para, a cada dia, sermos mais humanizados.
Indivíduos, sim, somos, mas ainda temos que nos empenhar muito para nos tornarmos individualizados, autênticos, próprios, únicos.
A sabedoria de Confúcio nos aclara: Ter suficiente domínio sobre si mesmo para julgar os outros em comparação consigo e agir em relação a eles como nós quereríamos que eles agissem para conosco é o que se pode chamar a doutrina da humanidade; nada há mais para além disso. Se não se tem um coração misericordioso e compassivo, não se é um homem; se não se têm os sentimentos da vergonha e da aversão, não se é um homem; se não se têm os sentimentos da abnegação e da cortesia, não se é um homem; se não se tem o sentimento da verdade e do falso ou do justo e do injusto, não se é um homem. Um coração misericordioso e compassivo é o princípio da humanidade; o sentimento da vergonha e da aversão é o princípio da equidade e da justiça; o sentimento da abnegação e da cortesia é o princípio do convívio social; o sentimento do verdadeiro e do falso ou do justo e injusto é o princípio da sabedoria. Os homens têm estes quatro princípios, do mesmo modo que têm quatro membros.
Volta à cena aqui a personagem do País das Maravilhas, Alice, falando de mudanças: Eu… eu… nem eu mesmo sei, nesse momento… eu… enfim, sei quem eu era, quando me levantei hoje de manhã, mas acho que já me transformei várias vezes desde então.
A única constante é a mudança, bem constatou Heráclito de Éfeso, filósofo pré-socrático considerado o “Pai da dialética”.
Afinal, como Alexander Graham Bell, o notável inventor, se andarmos apenas por caminhos já traçados, chegaremos apenas aonde os outros chegaram.
Vamos lá, mantenhamos mente lúcida e aberta. A vida nos convida a sair fora da inação, em direção à renovação, ao crescimento e à melhoria ética, comportamental, emocional.
Escolhamos a destinação do êxito sobre nós mesmos e do autêntico bem-estar, enriquecendo nosso Eu superior com sentimentos nobres. Sem medo de sonhar grandes sonhos possíveis, acreditemos em nós mesmos e confiemos na Força Maior que sustenta o Cosmos em perfeita harmonia.
A medida que conseguimos entender a necessidade de se ter um rumo, um objetivo, um sonho ou mesmo uma determinação de busca, nos tornamos motivados a buscar não só o alvo almejado, mas concomitantemente, vem à nossa mente algo, que nos tira da zona de conforto do pensar, do agir e do perceber, e que na maioria das vezes nem sequer somos capazes de interpretar.
Ocupados em alcançar o que se sonha, essa sensação nos sustenta e acompanha como se fosse uma dose a mais de um alimento que nutre, não só o corpo, mas nos dá a sensação de uma nutrição diferente. Algo que pode ser comparado a um estimulante que nos mantém atentos.
Isso pode ser entendido como o elixir de nossa alegria que se manifesta quando buscamos o que sintoniza com o nosso íntimo, nos completa e aperfeiçoa, nos dando energia para ir adiante, fazendo com que o projeto seja executado, seja ele de vida, de trabalho ou mesmo de convivência com os demais.
Sempre que pudermos ter em vista uma eleição de objetivo que “caiba” nosso desprendimento para auxiliar os demais, que seja a escolha feita, mesmo que de olhos fechados, já que sempre que nos dispormos de nós mesmos, de qualquer que seja a forma, para os demais, estaremos construindo em nós um edifício de forte alicerce, baseado na segunda maior força depois do amor, que se chama caridade.
Comecemos imediatamente. Ostentemos nossa posição inovadora. Mantenhamos atitude assertiva, sem nos permitirmos exceções e protelações.
A maioria das pessoas nunca vai longe o suficiente no seu primeiro vento para descobrir que elas terão uma segunda rajada. Dê a seus sonhos tudo o que você tem e você se surpreenderá com a energia que vem de você, nos orienta William James, com sua psicologia progressista e construtivista.
Mente alerta, coração dedicado e delicado.
Onde quer que vá, vá com o coração, é o cântico da sabedoria de Confúcio.
Nova atitude imporá a marcha rumo a mudança desejada. Atitude certeira nos assegurará o sucesso da empreitada. Persistência e continuidade farão em nós a mudança de nossa história.
Quando sabemos para onde vamos, muitos caminhos se apresentam favoráveis.
O corpo humano é a carruagem. Eu, o homem que a conduz. O pensamento, as rédeas. Os sentimentos, os cavalos. Com estas palavras, Platão nos convoca a assumirmos o autocontrole da vida, conduzindo-nos com ânimo e entusiasmo, em contínua renovação de conceitos, de crenças, de hábitos e de valores, de modo a ampliar os horizontes existenciais, enxergando o infinito.
E alimentando o coração com emoções direcionadas para o equilíbrio ético e a estabilidade comportamental submetida a um regime saudável de vida e viver, alcançaremos o estado de plenitude e pertencimento à Consciência Cósmica, à Causa Primeira de Todas as Coisas.
Despertos para nossa destinação feliz, lancemo-nos com todas as forças de nossas almas nessa jornada evolutiva, certos de que todo o universo conspira a nosso favor, e dentro de cada um de nós, aguarda latente a medida certa de força e energia necessárias para vencer a nós mesmos!
Não mais folhas ao vento e sim árvores frutíferas.
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