Conhece-te, aceita-te, supera-te. Santo Agostinho
Em uma escala onde há marcação a partir de um ponto zero, tanto para um lado quanto para outro, positivo e negativo, para se ir de um extremo a outro, há que se passar pelo marco zero, a zona da neutralidade. Zona de passagem.
É como um marco divisor de fronteiras, como de estados emocionais, por exemplo: desejado de um lado, indesejado do outro. Bem-estar e mal-estar; harmonia e desarmonia.
Reconhecer a zona de neutralidade e se conduzir para ali quando sentir o desvirtuamento do estado de harmonia, é autodomínio, ação assertiva em nome do equilíbrio existencial.
Um mesmo copo, se repleto, precisa ser esvaziado para voltar a conter um outro líquido.
Não nasce nova folha num mesmo lugar da árvore, enquanto a outra não cair.
Um estado emocional tem de arrefecer para que se manifeste outro estado distinto, por mais ligeira que se dê a transição.
Passar de um estado indesejado para um desejado, de uma polaridade negativa para uma positiva, exige trabalho e esforço continuado, mesmo contando com auxílio de terceiros ou de medicamentos.
De um desejado para um indesejado, basta um instante de descuido.
Quando se apresente situação assim, começar a fazer essa transição para estado de equilíbrio permanente é ação da vontade, uma das potências da alma.
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O reconhecimento de um estado íntimo, qualquer que seja sua natureza, é alcance consciencial muito importante, que deve ser valorizado e preservado, de modo a que esse filtro analítico se mantenha ativo, e não só, é fundamental ainda que fomentemos a elevação desse nível da consciência própria, avançando rumo a nossa humanização, nossa completude, finalismo geral da evolução.
Nosso comportamento é resultado, é manifestação conforme o nível individual da nossa consciência.
Segundo o antropólogo, sociólogo e filósofo francês, Edgar Morin, a consciência é um estado de espírito conhecedor, um olho que aprendeu a observar o que está além do que se vê, um ouvido que ouve o que está mais para lá dos sons, um entendimento que é capaz de interpretar além do que se compreende à primeira vista, enfim, aquela capacidade de sentir existencialmente o que está acontecendo naquele exato momento e de compreender, no todo vivido até ali, o real significado do que está sendo percebido.
E acrescenta: é justamente o fato de existir em níveis que garante à consciência a possibilidade de ser educada, pois ela é processo e movimento, embora toda tomada de consciência aconteça em um determinado momento.
O momento da conscientização é o instante a partir do qual se consegue discernir com acerto, com equilíbrio; é ponto elevado de ser humano. É o fruto esperado.
Figuradamente, a consciência é com uma semente que, em condições apropriadas, natural e paulatinamente germina, cresce, floresce e dá frutos.
Lao Tsé explicava que: Ver o Todo frutificando na semente é ato de gênio. O fruto está na semente, em germe, em uma unidade que não se rompe em nenhum momento, se em condições naturais.
O fruto é resultado do desenvolvimento da potencialidade dormente nas matrizes ínsitas e presentes na essência da semente. Essa utiliza-se das condições e recursos externos do meio em que foi depositada, sem perder sua individualidade, porém integrada ao meio, processando-as, fazendo delas seiva, que alimenta seu crescimento, manifestando sua potencialidade latente.
Em o livro Momentos de Consciência, a autora, Joanna de Ângelis, aclara:
O discernimento resulta do exercício da arte de pensar.
Consciência que discerne, faculta a intuição da transcendência da vida
O ser humano é aquilo que pensa, que de si mesmo elabora, construindo, mediante o pensamento, a realidade da qual não logra evadir-se. As suas aspirações íntimas, com o tempo, concretizam-se e surpreendem-no, às vezes quando já não as acalenta, pois que há um período para semear e outro que corresponde à colheita.
Quanto aos níveis de consciência, há várias classificações. Em síntese vão do mais baixo – do sono sem sonhos enquanto vivos – ao mais elevado, que alcança estados classificados como místicos, encaminhando à transpessoalidade.
Para nós, no contexto deste escrito, importa que, pelo trabalho pessoal de cada indivíduo, a consciência seja educada, e amplie-se. Treinada persistentemente, eleve o ser à sabedoria.
As pessoas que podem dizer que chegaram a conhecer algo novo de fato são somente as que mudaram alguma coisa de si mesmas a partir daí.
É aquele conhecimento vivencial, que mexe com o senso de existência e acrescenta significação ao próprio existir. É quando então não se é mais livre em continuar pensando e agindo como antes.
A verdadeira cognição é aquela que amplia o autoconhecimento, de forma que o indivíduo não tenha de repetir o próprio passado em cada ato inconsciente que exterioriza. Para que haja esse conhecimento, faz-se necessário um momento forte de experiência, que mexa realmente conosco.
O notável físico Albert Einstein anotou: a mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.
O célebre enriquecimento de mapa citado na programação neurolinguística.
É necessário tornar o conhecimento edificante, nosso conhecido.
A vida pede significação e objetivo.
Não identificaremos a realidade existencial, sem noção de nós mesmos em cada instante da vida.
O Budismo, em O Sutra da Mente Desperta, ensina: “Andando, o praticante deve estar cônscio de que está andando. Sentado, deve estar cônscio de que está sentado…”
Cada pensamento, cada ação empreendida à luz da atenção plena se torna sagrada, pois desejada deve ser atendida.
Dessa maneira, o enfrentamento começa na mente.
Nosso estado de consciência é base de todos os hábitos mentais e de todas as atitudes. A partir disso, nós desenvolvemos o comportamento de uma existência.
Como aqui falamos em aumento de nível, passagem sempre a estágios superiores, a consciência deve ser treinada, mediante o exercício dos valores morais elevados, que objetivam o bem, cientes de que o esforço para rompermos com hábitos infelicitadores e readquirir novos hábitos, agora saudáveis, leva-nos à conscientização dos deveres para conosco mesmo, e às responsabilidades diante da vida.
Como ao nos utilizarmos de uma escada para ascender a ponto acima: com o domínio de um degrau, sentimos segurança, e nos impulsionamos para passar ao outro com assertividade, sem risco maior de ter que dar um passo abaixo, em busca do reequilíbrio. Sabemos onde queremos chegar. Visualizamos cada degrau e nos pomos em marcha.
Nossa autossuperação é como essa escada ascendente. A cada nova conquista intelecto-moral, que vai consolidando maturidade psicológica e do próprio senso moral, alcançamos maior expansão da consciência, novo patamar existencial, permitindo novas experiências, ofertando-nos outros horizontes, sempre convidando-nos e estimulando-nos à caminhada evolutiva a que estamos fadados.
E nessa transformação acontece que nossa percepção, desligada do pensamento, também influi muitíssimo em nos apercebermos de algo misteriosamente presente em nós, até então quase nada conhecido, que nos mantém unidos com essa imensidão que nos rodeia e nos permite a vida. Passamos a interpretarmo-nos dando novo significado ao universo, como que pertencentes a tudo, nos sentindo partes influentes e influenciadas desse contexto.
A maneira de mudar a vida é começar com a expansão da consciência. Quando ela muda, a situação também muda.
Sem a consciência, a inteligência logica e crê, mas não se submete.
Portanto, fazer escolha decisiva. Quer percebamos quer não, nossa vida está se desenvolvendo de acordo com as escolhas que tenhamos feito, de forma consciente ou não, que foram então ditadas pelo nosso nível de consciência.
Não há pelo que se ter receio pela eleição de existência saudável, de conduta moral renovada para melhor, pois somos os primeiros beneficiados com os bons resultados.
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Todos concordamos que os edifícios devem ter projetos, por que não a vida?
Ver, despertar, ficar aberto a novas percepções, desejar o bem-estar, buscar novos conhecimentos, reformular conceitos ultrapassados, liberar-se do desnecessário, valorizar o essencial abrindo mão do supérfluo. Ou seja, alcançar uma visão da vida sob um novo prisma, é decisivo para nossa harmonia, nossa paz, nossa felicidade.
Um objetivo maior espera para se desenvolver através de nós, em nosso benefício de melhoria.
Ao defini-lo e tornarmo-nos conscientes desse objetivo, que é próprio de cada um, nos sentiremos como um arquiteto que acaba de entregar um projeto: em vez assentar tijolos e instalar canos ao acaso, ele pode agora prosseguir com a confiança de saber qual será a aparência da edificação, como construí-la e, por conseguinte, tudo o que será preciso para tanto.
Quanto ao nosso viver, se não soubermos o que queremos, nem para onde pretendemos ir, em qualquer lugar que cheguemos, este nunca será, e tudo que encontremos, em nada corresponderá.
Precisamos dar à nossa vida, sentido, significado e finalidade.
Reforçamos que seremos o que pensemos e planejemos para nós mesmos, pois que da mente e do sentimento procedem os valores que são cultivados.
O que a mente plasma e alimenta com intensidade e constância, mais dia menos dia, se conformará, solidificado no mundo das formas, em nosso mundo emocional, em nossa consciência desperta.
Como arquiteto do nosso próprio destino, ocupando o terreno do nosso coração, elaboremos nosso projeto de vida, definindo detalhes e preparando minucioso memorial descritivo do que foi idealizado.
Reunamos o material necessário e a ferramentaria e, com nossas habilidades, mãos à obra.
Reformemos a casa mental e em breve estaremos habitando andar superior do estado de consciência, sentindo gosto de existir não porque obtenhamos algo ou alguma coisa do mundo, mas por nos sentirmos alguém simples, capaz, com significação para nós próprios, para os nossos entes queridos, para os demais, para o planeta.
Trabalhemos nossa melhoria, permitindo-nos uma consciência expandida.
Ensaiemos o futuro desejado.
Por exemplo, adotemos a prática de Lebron James, big star do basquete americano, bem como de outras muitas celebridades dos esportes e outras áreas da ação humana, que ensaia mentalmente, horas a fio, todos os dias, cada movimento em quadra, cada armação do jogo, cada posição em quadra, cada lance em direção à cesta, sem perder a visão do conjunto, da equipe e do adversário.
Ensaio mental aprofunda e alarga as percepções, imprime habilidade a partir da mente, consolida estado emocional equilibrado, segurança na atuação, destreza de raciocínio, pois passa a atuar por caminhos já trilhados e conhecidos, forjados com incansáveis ensaios… mentais.
Motorista que conhece bem a estrada, trafega com maior desenvoltura, mesmo à noite.
Sem nos desprendermos das raízes da mãe Terra, busquemos nos elevar desde já, buscando nos envolver definitivamente com a Consciência Maior que a todos une.
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Projeto INOVE – a vida sob novo prisma
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