ALCANCE A SUA PLENITUDE

Uma harpa deixada num lugar qualquer, ali fica em silêncio.

No entanto, no vazio do silêncio que tudo contém, guarda todas as músicas.

Utilizada por um coração rico de musicalidade e mãos hábeis, faz-se una com ele e manifesta todas as belezas sonoras que lhe sejam propostas.

Basta ser tocada em qualquer um dos incontáveis pontos de suas cordas e responde com sonoridade própria.

O musicista ordena cada nota, acorde, arranjo. A harpa responde a todas elas com melodiosa fidelidade.

A harpa é a música, mas não se torna a música.

Quando se finaliza sua ação, seus sons e melodias recolhem-se no silêncio.

Silêncio, não ausência.

Antes, fez soar belas melodias.

Manifestou a candura dos diversos sons.

Tudo fez, sem nada desperdiçar ou perder. Doou do que é; assim, tudo permanece com ela.

Com senso de suficiência, vê que nada lhe falta e não há o que desejar.

O ser humano pode aprender muito com o exemplo da harpa.

Por enquanto…

É capaz de perceber o próprio corpo, sentidos e mente. Mas permanece separado deles por não estar identificado com a sensação do seu ‘ser’, mas apenas com o conhecimento do seu fazer voltado para mais ‘ter’.

Primeiro, você vai se esforçar para ter. Depois, você vai se esforçar para manter. Uma vez perdido, você vai tentar recuperar.

Esse o ciclo egoico e insaciável do sempre ter mais.

Nesse redemoinho, a pessoa:

– Obtém, mas não se autodescobre.

–  Retém e usufruiu, mas esquece de valores eternos.

– Inflaciona as sensações e exaure emoções.

– Enriquece o seu entorno e empobrece seu íntimo.

– Dedica seu tempo para tudo, menos para si mesmo.

– Conquista coisas e não se conhece.

– Ganha o mundo e se perde de si mesmo.

– Dedica todas as forças ao impermanente, indiferente ao permanente.

Até quando se manterá a ilusão da suposta vantagem do secundário em detrimento do primordial?

A existência é um meio para se alcançar a finalidade proposital da vida: renovação moral para melhor.

Há um caminho natural do autorreconhecimento, acompanhemos:

Os objetos são percebidos através dos sentidos.

Os sentidos são percebidos através da mente.

A mente é percebida através de si mesmo: o ser pensante, ‘Aquele’ que olha, o eterno observador.

Aquele mesmo que aos dez anos de idade se olhou no espelho, viu sua imagem e sonhou seus sonhos.

O mesmo que, aos vinte e cinco anos de idade, se viu no espelho e se deu conta que vários traços haviam mudado na imagem; também seus sonhos eram outros.

Agora, aos quarenta anos, num outro certo dia, novamente para e se vê no espelho. E se admira de quantas mudanças aconteceram. E os sonhos então?

Porém, aos dez, aos vinte e cinco e aos quarenta anos, só não mudou o observador que se olhou muitas vezes… e não enxergou a si mesmo.

É este SI MESMO que deve ser buscado.

Olhe o corpo: é inanimado, não pode falar, não pode ver, não pode pensar. Porém, aquilo que energiza o corpo, que inicia toda a ação: Você é Isso!

Você tem um corpo, mas não é o corpo.

Aquele que percebe através do corpo, não é o corpo. É quem dá vida ao corpo.

Na prática, não basta se questionar apenas como se vive. Mais assertivo se perguntar: o que é isso que estou vivendo até então?

Cada um de nós cria um mundo conforme suas crenças e valores. Se vive nele e reclama dele.

No geral, esse mundo pessoal é composto de desejos e da satisfação dos desejos; de angústias e medos e de estratégias para evitá-los; de alegrias e prazeres e um dedicado esforço para que esses sentimentos e sensações sejam intermináveis.

Aqueles que enxergam através das ilusões se movem para frente e para o alto.

Você consegue ver:

Que esse seu mundo privado persiste enquanto sua mente lhe der vida, valor e significado?

Que é um mundo como que uma imagem refletida no espelho e que pode mudar (e muda) a cada dia?

Que o mundo-espelho não reflete o SI MESMO, que é quem permanece o tempo todo, apesar de tudo?

Sob um olhar mais atento, você concluirá, então, que o seu mundo é pouco mais que um animado artefato do seu pensar, do seu sentir, do seu agir.

Essa clareza de visão lhe permitirá ver o caminho de saída para uma nova realidade, agora capaz de acolher o SI MESMO, com primazia.

A clareza é o abandono de ideias e crenças falsas, de todas as formas rígidas de pensamentos e sentimentos, como se nada mais houvesse além deles.

Crenças são a aceitação inquestionável de uma ideia, na ausência de verificação e razão.

Crenças não são fatos. Crenças são a fuga de fatos. Do fato guarda sua interpretação.

Crenças falsas são o alimento de um mundo de faz-de-conta. Fonte de transtornos, infelicidade.

Clareza permanente está disponível para você, mas não se você quer se apegar a suas crenças, sem questioná-las, testá-las, prová-las, regularmente.

A clareza não o liberta, em vez disso faz você perceber que você é a própria liberdade.

Qual a harpa que é e tudo contém, você também é e tudo contém, em germe.

É uma nova visão da vida!

Onde está aquele que olhava no espelho aos dez, aos vinte e cinco e aos quarenta anos?

Está no aqui e agora, rumo ao logo mais.

Aquelas imagens ficaram no passado, não, porém, as experiências, que hoje fundamentam quem você é.

Tudo o que a harpa pode realizar, está nela.

A harpa, para ser harpa, não precisa sair em busca de tornar-se harpa.

A harpa é reconhecida e valorizada pelo que externa e faz às pessoas.

Tudo o que você pode realizar, está em você.

Use de sua vontade firme.

Realize e se autorrealize.

Todo o fazer é inerente ao ser.

O que faz uma rosa para cheirar como uma rosa?

O que faz uma harpa para soar como uma harpa?

Assim como o escuro existe porque há o claro, e o salgado depende do doce, nenhum ser humano existe sem o outro.

Sua autorrealização se completa além dos limites do ‘eu’, onde encontra o ‘nós’.

O vir a ser desejado já faz parte de você, apenas aguarda autodescoberta e desenvolvimento.

Ao invés de esforço em se tornar, seja!

A harpa é harpa em totalidade.

A rosa é ela, plena.

Você já é!

Alcance a sua plenitude.

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