A semente traz em si mesma os códigos vitais e quando é colocada para germinação, sob a compressão do solo e auxílio da umidade, passa a se desenvolver, seguindo seu modelo organizador biológico.
Essa circunstância peculiar lhe permite reavivar os fatores adormecidos em sua essência e passa então por vigorosas transformações celulares.
Intumesce-se, e, dirigida pela fatalidade biológica, desata a vida sob nova forma, seguindo o projeto existencial que lhe é próprio, inscrito nos códigos da vida.
Converte-se em vegetal, dando seu contributo ao meio ambiente, para se repetir, sem cessar, em futuras sínteses, expandindo-se a partir de novas sementes que seu esforço biológico permitiu gerar.
Ela segue em seu ciclo delineado e recebe o contributo de outros fatores do seu entorno, como o do solo fértil, do sol e da água. Expressa sua forma e conteúdo renovados, com vigor e utilidade, e se mantem presente e ativa, sem desperdiçar um segundo que seja do tempo que dispõe.
Mesmo enquanto na escuridão do solo, usa de suas forças para crescer e sair na direção do sol, momento esse que, como todas as outras formas de vida, encanta-se com o fototropismo, fenômeno que uma vez percebido, não se aparta jamais.
Na dinâmica da vida, a minúscula semente mantém-se dentro do sentido que a existência lhe confere, levando cada célula a preencher a formatação pré-estabelecida do seu projeto vivencial, que é seu modelo organizador biológico próprio.
Dentro de certo tempo transforma-se em frondosa árvore, floresce e frutesce e disponibiliza seus melhores recursos, como forma silenciosa de manifestação de sua gratidão às leis que regem a vida.
As flores não tentam desabrochar, elas desabrocham; os pássaros não tentam voar, eles voam.
A existência humana tem como objetivo essencial o desenvolvimento dos valores que se encontram adormecidos no cerne, no âmago do ser.
Seu corpo obedece aos códigos que lhe veem impressos no espiral biológico, segundo seu prévio modelo organizador.
Mas o ser-pensante que habita o ser-biológico, nem sempre segue o sentido que a razão existencial indica, até porque, em muitos casos, nem busca saber que sentido é esse, sem se dar conta que a tarefa inadiável consiste em buscar o sentido da vida e aplicá-lo de maneira consciente, de forma que as lutas contribuam eficazmente para a autorrealização.
Em decorrência desse desproposital alheamento, insatisfações, vazios existenciais, desânimo, povoam essas mentes e dirigem seus comportamentos.
Fugaz é o tempo quando não utilizado de maneira lúcida em torno dos valores transcendentais, aqueles adormecidos no âmago de cada um, que esperam estímulo para se manifestarem.
Para que o indivíduo descubra o significado existencial que lhe diz respeito, é indispensável que se permita a reflexão, o hábito saudável da concentração e de pensamentos edificantes, criando condições propiciatórias à viagem interior, onde se encontram registrados os prejuízos e as conquistas morais da longa viagem evolutiva.
Enquanto alguém se compraz com o já conseguido, cessa de evoluir e de aprimorar-se, contentando-se com o pouco adquirido que o leva inevitavelmente ao tédio, ao desconhecimento ou à perda da vereda existencial.
Sem sonhos, sem rumos; sem rumos, sem estímulos para a ação renovadora e progressista. Vida estuante e dinâmica que cada um de nós somos, acaba anulada, evitando o desatar da renovação, para seu próprio benefício.
Permanece postulando teses repetitivas somente, sem o confronto devido das antíteses, para então poder apresentar as necessárias e decorrentes novas sínteses.
Alimenta-se, emocionalmente, do que consegue identificar que já é, sem enriquecer o tempero do tempo mental de que dispõe, para formular o que gostaria de ser, idealizando conquistas, ensaiando o êxito.
Vive alimentando o conflito criado pela falta de expectativa que não preenche o vazio que se lhe apresenta nas energias dispersas, onde nem corpo nem espírito, alcançam a harmonia que poderia ser vivenciada com um mínimo de percepção.
A Neurolinguística demonstra que as fixações mentais contribuem para as realizações humanas, e a Neurociência confirma o poder da força mental na atividade humana.
O pensamento é força viva e atuante.
Conforme o seu direcionamento, manifesta-se, no mundo das formas, a sua realização. A sua educação para a renovação e o aprimoramento, é relevante, porque se torna fator essencial para o enfrentamento dos desafios e encontro das soluções necessárias à vida saudável.
Não desejamos com isso afirmar que, com o simples fato de elaborar-se uma ideia, necessariamente acontecerá como se quer ou como se planeja. No entanto, a onda mental emitida se transforma em fator criador de ambiência que propiciará e contribuirá para tornar viável o desejo, que deve ser acompanhado do empenho, do esforço para torná-lo real, construtivo e edificante.
A paz é semelhante a um homem que saiu a semear, que experimentou a rudeza da terra, vencendo-a pelo trabalho, superou o calor e a falta de água, e colocou as suas sementes no colo amigo do solo, cuidando através de irrigação, e resguardando-a de pragas e mau tempo, quando então ressurgiu em débil plântula de esperança, até que se transformou em vida exuberante a ornar-se de flores e frutos, oferecendo sombra, apoio, alimento e sustentação.
Assim sucede com todo aquele que espera a colheita de felicidade, sendo convidado a plantar antes e atender a sua seara, que, no momento próprio, renderá farta colheita.
Modificando comportamento atual, aquele que deseja mudança psicológica para melhor, deve direcionar a força mental para a sua realização, a fim de que lhe surjam fatores especiais que o auxiliem na modificação das paisagens íntimas e das ocorrências externas, sabendo que todos devemos envidar os melhores esforços para alcançar os patamares mais elevados da vida, tanto biológica quanto psicológica e mental.
Os desafios existenciais fazem parte da vida, sem os quais o ser seria destruído pela paralisia da vontade, dos membros, das aspirações, que se transformariam em doentia aceitação dos níveis inferiores do estágio da evolução a que estamos sujeitos.
Para se identificar que há luz acima e saber de onde ela está vindo, é preciso que olhemos para o alto.
Não basta só saber, é preciso fazer.
A atitude do enfrentamento dos estados emocionais perturbadores é necessário, a fim de que se consiga, de modo definitivo, o equilíbrio íntimo.
Comecemos pelo mais simples: vamos despertar em nós a vontade de mudanças comportamentais, cientes de que ao mudar os pensamentos estaremos mudando nossas vidas.
A lição é de Buda, o Iluminado: Somos o que pensamos. Tudo o que somos surge com nossos pensamentos. Com nossos pensamentos, fazemos o nosso mundo.
Como que numa confidência com seus leitores, William Shakespeare, o grande escritor, comentou:
Aprendi… que vai demorar muito para me transformar na pessoa que quero ser, e devo ter paciência.
Mas aprendi, também, que posso ir além dos limites que eu próprio coloquei.
Aprendi que preciso escolher entre controlar meus pensamentos ou ser controlado por eles; que os heróis são pessoas que fazem o que acham que devem fazer naquele momento, independentemente do medo que sentem.
Do mesmo modo que a simples semente tem um propósito na vida, bem como também cada elemento da natureza, cabe-nos o empenho em descobrir o nosso sentido existencial, aquele que está reservado para nós.
Quando olhamos para o mundo à nossa volta, descobrimos que não estamos jogados no caos e na aleatoriedade, mas somos parte de uma grande ordem, uma grande sinfonia da vida.
Na verdade, nós pertencemos ao universo, e essa experiência de pertencer pode tornar a nossa vida profundamente significativa, para nós próprios e para os demais à nossa volta.
Lembra-nos Voltaire, escritor, ensaísta, deísta e filósofo iluminista francês: Turva-me o universo e não posso imaginar que exista este relógio e não haja um relojoeiro.
Autor e estadista alemão do Sacro Império Romano-Germânico que também fez incursões pelo campo da ciência natural. Como escritor, Goethe foi uma das mais importantes figuras da literatura alemã e do Romantismo europeu, nos finais do século XVIII e inícios do século XIX, Johann Goethe nos diz: A mais nobre alegria dos homens que pensam é haverem explorado o concebível e reverenciarem em paz o incognoscível.
Não devemos nos abster e nem fugir do exame da espiritualidade. É a vida em sua maior transcendência.
No livro: A Visão Sistêmica da Vida, de Fritjof Capra e Pier Luigi Luisi (Fritjof Capra é físico teórico e escritor que desenvolve trabalho na promoção da educação ecológica. Pier Luigi Luisi é professor de Bioquímica na Universidade de Roma), lemos:
A espiritualidade é uma experiência humana muito mais ampla e mais básica do que a religião. Ela tem duas dimensões: uma vai para dentro, ou “para cima”, por assim dizer, e a outra vai para fora, abraçando o mundo e os seres humanos nossos companheiros. Qualquer uma dessas duas manifestações da espiritualidade pode ou não ser acompanhada pela religião. Assim, quando dizemos que cientistas como Einstein ou Bohr eram almas espirituais, queremos dizer que eles eram animados por um vigoroso anseio para se aproximar, ou talvez até mesmo para se identificar com os mistérios do cosmos.
Por outro lado, quando vemos pessoas como Gandhi ou Martin Luther King como seres espirituais, queremos dizer que eles estavam expressando por meio de suas vidas os ideais superiores de uma humanidade melhor. Nesses casos, há uma união das dimensões interiores e exteriores da espiritualidade e podemos falar a respeito de uma “espiritualidade leiga”, uma maneira de ser espiritual sem a necessidade de estar associado com uma religião em particular.
Reflitamos mais detidamente sobre tudo isso.
Há uma religiosidade da consciência!
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