“Persistência”, “tenacidade”, “foco”, “sem perder de vista” e outros termos que são sinônimos entre si, significando uma mesma ideia primordial.
Todos ouvimos falar dessas qualidades como fatores básicos para se alcançar com êxito um objetivo qualquer. Quanto mais relevante o objetivo, maior dedicação pessoal para seu alcance.
Ter objetivos bem definidos e calibrados, se abastecer das devidas habilidades e ferramentas, dedicar a devida atenção e importância e perseverar. Essas variáveis compõem a equação da realização pretendida.
Até aqui, sem novidades, conceitualmente falando.
Conceitualmente, tudo bem, mas, na prática, nem sempre adotamos essa cadência lógica, salvo exceções.
Curiosamente, o que agora se configura uma exceção, deveria ser a regra, e o que se faz hoje prática comum, é que deveria ser a exceção.
Explicamos.
Ter metas alcançáveis na vida, dedicar-lhes nosso tempo e esforços para sua melhor formatação, adquirirmos as condições pessoais e profissionais que se fazem necessárias, e perseguirmos o alvo com destemor e continuidade incansável, deveria ser a regra.
A exceção seria agirmos contrariamente a essa regra.
No entanto, nos dias atuais, parece que as coisas se inverteram.
Destaquemos, a título de exemplo dessa constatação de inversão de valores, apenas um dos vários tópicos: a atenção.
A atenção, do latim attendere, entrar em contato, nos conecta ao mundo, moldando e definindo nossa experiência.
A atenção fornece os mecanismos que sustentam nossa consciência do mundo e a regulação voluntária dos nossos pensamentos e sentimentos.
Nos diz Aristóteles, que “não há nada em nossa inteligência que não tenha passado pelos sentidos”.
Mas tudo indica que nossa atenção está à deriva, e, por conseguinte, nossos sentidos ficam pouco apurados.
E um fator, não o único, que muito está contribuindo para isso é a má utilização da tecnologia. Ao invés dos benefícios originalmente previstos para muitas das conquistas tecnológicas, que seria o de disponibilizar-nos maior tempo para ser usado num maior entrosamento familiar e social, para dedicarmos ao nosso aprimoramento pessoal, para fomentar o bem-estar, essa tecnologia, pelo uso desnorteado, captura a nossa atenção e interrompe as nossas conexões. Nos põe conectados mais a máquinas e menos a pessoas.
Apesar da multidão, vive-se uma vida reclusa ao mundo virtual de tweets, likes, atualizações de status e “postagens de fotos do meu jantar”.
Se está perdendo a habilidade de manter uma conversa com começo, meio e fim… e consistência.
Não se vê mais disposição à leitura de um livro, de um bom artigo nos meios de comunicação, ou mesmo de assistir a um bom filme (apesar de serem raros) ou a um documentário construtivo.
A fugacidade da atenção vai alargando seus domínios, uma vez que a quantidade de informações que nos chegam nos deixa muito pouco tempo para simplesmente refletir a respeito do que elas realmente significam e contém.
Por exemplo, há alguns anos atrás, podia-se fazer um vídeo de cinco minutos para ser apresentado numa reunião de trabalho. Hoje, precisa se limitar a, no máximo, um minuto e meio. Se não for prendida a atenção nesse período, todo mundo começa a checar mensagens.
Que falem os professores de suas dificuldades em trabalhar com seus alunos em sala de aulas, atualmente.
O que se chama de informação, na verdade é distração, e somos inundados diariamente com um oceano de distrações.
A informação consome, isso sim, “a atenção de quem a recebe. Eis por que a riqueza de informações cria a pobreza de atenção”, comenta Herbert Simon, Nobel de Economia.
A nossa atenção está continuamente lutando com suas próprias forças contra distrações, tanto internas quanto externas, mas vem se enfraquecendo, perdendo terreno.
É o Facebook, o Instagram, o Twitter, e-mails. Fazemos questão de estarmos em toda parte e ao mesmo tempo em lugar algum; de estarmos com todos, mas sem ninguém.
Isso promove a fugacidade da vida real e um profundo recrudescimento do egoísmo. A impermanência em assuntos vitais, o desejo de constante mudança, como se isso fosse solução, quando é, de fato, fuga.
Planta que muito muda de vasos, não cria raízes… e perde sustentação e vitalidade.
Perdemos o momento humano, assumimos o modismo e a frivolidade que permeia o homo tecnologicus, adotando mais padrões das máquinas e aplicativos, do que padrões humanos para um saudável relacionamento.
O problema surge quando se ignora que a tecnologia é um instrumento para um fim e a convertemos em um fim em si mesma.
Não se trata de posicionamento contrário aos avanços e à utilização da tecnologia. Falamos de seu uso desnorteado, que vem contribuindo com o alheamento das pessoas do mundo de relações humanas consistentes, ao vivo e a cores.
Dentre outras consequências, essa virtualidade exagerada traz fragilidade emocional, gerando insegurança para enfrentamento da realidade existencial, pela própria inexperiência decorrente de uma vida não vivida, ou vivida com a fugacidade que lhe configurou o caráter.
Conforme a natureza de um problema que surja, e sua complexidade, a falta de autoiniciativa para a solução pretendida convida a visita do desânimo, que traz consigo a tristeza e a melancolia, que associados com uma sensação de fracasso e perdas decorrentes e recorrentes, abrem as portas para a depressão.
Utilizemo-nos de uma fábula de Leonardo Da Vinci, intitulada: A Noz e o Campanário, para melhor entendermos como o desânimo age:
Um corvo pegou uma noz e levou-a para o topo de um alto campanário. Segurando a noz com as patas começou a bicá-la para abri-la. Porém subitamente a noz rolou para baixo e desapareceu numa fresta do muro.
– Muro, meu bom muro – suplicou a noz, percebendo que estava livre do bico do corvo – pelo amor de Deus, que foi tão bom para você, fazendo-o alto e forte, e enriquecendo-o com esses belos sinos de tão belo som, salve-me, tenha pena de mim! Meu destino era cair entre os velhos ramos de meu pai – prosseguiu a noz – permanecer no rico solo coberto de folhas amarelas. Por favor, não me abandone! Quando eu estava sendo atacada pelo terrível bico daquele corvo feroz, fiz um voto. Prometi que, se Deus me permitisse escapar, eu passaria o resto de minha vida dentro de uma frestinha.
Os sinos, num doce murmúrio, avisaram o campanário que tomasse cuidado porque a noz podia ser perigosa. Porém o muro, teve compaixão e decidiu abrigá-la, deixando-a ficar onde havia caído.
Porém dentro em breve a noz começou a abrir e a estender raízes nas frestas da pedra. Em seguida as raízes forçaram caminho por entre os blocos de pedra e surgiram galhos que saíam pela fresta. Os galhos cresceram, tornaram-se mais fortes e estenderam-se para o alto, acima do topo da torre. E as raízes, grossas e enroscadas, começaram a fazer buracos nos muros, empurrando para fora todas as velhas pedras.
O muro percebeu, tarde demais, que a humildade da noz e seu voto de ficar escondida numa fresta não eram sinceros. E arrependeu-se de não ter dado ouvido aos sinos.
A nogueira continuou a crescer e o muro, o pobre muro, desmoronou e ruiu.
É assim mesmo. O desânimo chega suave, bem devagar, como se fosse um travesseiro confortável convidando-nos a uma pequena pausa repousante antes de enfrentar as refregas da vida.
– Afinal – nos diz o desânimo como maneira de aproximação – porque pressa? O problema é tão grande e os seus recursos para a luta tão poucos, que o melhor é dar um tempo. Insistir, nesse momento, seria com o malhar em ferro frio. Espere, recolha-se em si mesmo e, primeiro, sem pedir auxílio a quem quer que seja, encontre as armas para a luta.
E sorrateiramente, continua: – Sei que falta para você recursos para essa batalha, e um enfrentamento agora redundaria num fracasso maior ainda do aquele que você já sente, por se ver impotente e sem condições de suportar uma derrota. Você ainda não está preparado para esse momento… Nem tente nada, seria antecipar a derrota…
E, qual as raízes da nogueira da fábula, o desânimo vai preenchendo as brechas que voluntariamente lhe vão sendo identificadas, ocupando, em substituição, cada lugar desprotegido: vontade fraca, fragilidade emocional, insegurança, orgulho ferido, sensação de impotência por não reconhecer capacidades pessoais, mente empobrecida de valores e conhecimentos construtivos, imaturidade, falta de amigos verdadeiros e reais, inconstância, mil ideias já tidas sem conclusão de nenhuma, desejos fugazes, falta de objetivos, inconsistência da vida pelo seu modo de viver sem propósitos maiores…
Em pouco tempo, ou pela repetência das recaídas no mesmo estado de desânimo diante de qualquer revés no dia a dia, por menor que seja, o muro das resistências emocionais e sentimentais não suporta mais. Entrega-se à regência do desânimo, que então abre os portões do campanário da vida para a chegada e instalação de seus sequazes comparsas: a tristeza, a melancolia, a amargura, a insatisfação, o acúmulo de perdas, até a entrada em cena da depressão, que, qual hiena solta nas savanas dos sentimentos ressequidos, põe-se a se alimentar dos detritos emocionais gerados por uma mente em desarmonia e por um coração sem a vitalidade do sentido existencial verdadeiro e do amor próprio.
Quando assim você se encontre – ou diante do simples prenúncio da chegada desse algoz implacável ou do simples apontamento de um provável desânimo – de imediato reaja, porque não é o seu estado natural, portanto, algo errado está acontecendo, e, antes que se agrave, como visto acima, procure solucionar.
Incialmente, busque o concurso de leituras edificantes, de modo a abrir as janelas da alma para a entrada de nova luz. A oração, segundo sua crença e profissão de fé, é ótimo recurso, pois o elevará a outro nível de sintonia com ideias nobres, enquanto será reabastecido de energias saudáveis. Se você ainda não tem o hábito da oração, medite sobre aspectos virtuosos de pessoas e circunstâncias, por exemplo.
Logo depois, cuide de banhar-se e movimentar-se, realizando qualquer atividade de natureza física, a fim de auxiliar a liberação dos miasmas vibratórios que se encaixam no cérebro, pela ativação da circulação sanguínea.
Assim que se sinta melhor, procure manter o pensamento da faixa do otimismo, da autoconfiança, da paciência.
Não se permita continuar com a mente turvada pelas vibrações perniciosas.
Essas são medidas paliativas, sabemos, que servem para se evitar a entrada do desânimo. Há mais para fazer, como leremos mais adiante.
Também é sabido, que, num ou noutro momento, ele se apresenta para todos nós. Mas é opcional dar-lhe guarida e alimentá-lo.
São compreensíveis o desencanto e a inquietação que, por vezes, nos assediam nos conflitos constantes que nos impelem a desistir das tarefas edificantes, dos valores verdadeiros, duradouros e reais.
Há períodos que é como se estivéssemos por recomeçar, todos os dias, imensa luta conosco mesmo para não desanimar.
À frente e à retaguarda, à esquerda e à direita, repontam desafios marcados a fogo de aflição. Amigos que desertam, apoios que se afastam, críticas que sobram, obstáculos que se ampliam, problemas que se somam.
E, no centro da agitada luta em que nos vemos na obrigação de manejar as armas do próprio discernimento para que os adversários externos não nos destruam as forças, encontramos aqueles inimigos outros, talvez ainda mais perigosos — aqueles que se nos ocultam em nosso íntimo, quais sejam o medo de aceitar-nos com as imperfeições que ainda nos assinalam a vida, o desalento perante as dificuldades que se desdobram, a noção das próprias deficiências ou o temor do fracasso.
Nessa arena vivemos e dela não nos retiraremos, enquanto não obtivermos o triunfo, não sobre os outros, mas sobre nós mesmos.
E, nesse triunfo sobre nós mesmos, a fim de que sejamos, um dia, o que sonhamos e devemos ser, segundo os padrões mais altos de nosso ideal, é preciso melhorar e aperfeiçoar, sem esmorecer.
Superar as circunstâncias adversas e valer-se cada um de nós das oportunidades de ação que se nos faculte para que novas concessões de trabalho nos favoreçam, é simples dever.
Sobretudo, não parar no caminho da autorrealização, mantendo-se no esforço nobilitante de agir e servir, estudar e edificar, elevar e aprimorar sempre, de vez que todo aquele que estaciona, embora sob a alegação de ilusória humildade, a breve tempo, reconhece que a vitória do bem contra o mal e da luz contra a sombra pertence àqueles que acreditaram na força do bem e no poder da luz, acima das fraquezas e imperfeições deles próprios, seguindo para a frente e para o alto.
Diante das dores, dos conflitos, das perdas, ainda assim, não nos marginalizemos. Choremos todas as lágrimas, mas vamos prosseguir lutando e trabalhando pelo bem comum, até que possamos sorrir todos os sorrisos.
Tropeçamos? Reajustemo-nos. Caímos? Nos levantemos e continuemos em serviço.
Se desenganos nos requisitam, tornemos ao replantio de esperanças maiores e sigamos adiante, amando e auxiliando no melhor a fazer.
Relacionando as dificuldades que todos trazemos, por enquanto, nos recessos do ser, é justo considerar que a vitória em nós e sobre nós ainda nos custará muito esforço de construção e reajuste, entretanto, para altear-nos ao ideal do bem, fixando energias para sustentá-lo, recordemos o Mestre, reafirmando em plenitude de confiança: “… Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo”.
A vida são as incessantes oportunidades que surgem pela frente, jamais os insucessos que ocorreram no passado.
Vejamos a vida sob novo prisma.
A perseverança é a base da vitória.
O futuro começa agora.
Todas as vitórias da criatura são frutos substanciosos da perseverança.
Perseverando na edificação do progresso, mentes e corações, sem cessar, renovam os itinerários da própria vida.
O estudante incipiente chega a ser o erudito professor.
O curioso bisonho transforma-se no artífice genial.
A alma inexperiente atinge a maturidade moral.
O triunfo evolutivo se constitui num hino perene à constância no aprendizado.
Sem firmeza e tenacidade, a teoria do projeto jamais deixará o sonho do vir a ser…
Por esse motivo, compete-nos recordar a necessidade imperiosa da perseverança desde os mínimos cometimentos da vida até às realizações mais expressivas do bem para atingirmos o êxito duradouro.
Sem a chama da perseverança, a educação não pode patrocinar a iluminação das consciências; a edificação assistencial não surge na face planetária qual farol benfazejo asilando os náufragos da viagem terrena, e o “homem de ontem” não alcança a claridade do “homem de hoje” para maiores conquistas do “homem de amanhã”.
Se almejamos a autossuperação sobre nós mesmos, precisamos rever nossas crenças e valores existenciais, reformulando pensamentos, hábitos e posturas, fixando fortaleza emocional e de propósitos sem brechas como nosso campanário existencial, lembrando que os transes que nos visitam, por mais profundos e desconcertantes, têm limites justos e naturais, e que nos cabe o dever de servir, confiar e esperar, para nossa própria felicidade, aqui e agora, hoje, amanhã e sempre.
O campo da derrota não está povoado de fracassos, mas de homens que tombaram antes de vencer, disse-nos Abraham Lincoln, e permanece grandemente válido nos tempos de hoje.
O fruto é resultado de longo tempo de atuação da semente no escuro do solo, que persistiu por sair em direção ao Sol. Germinou, cresceu, fortaleceu, floriu, frutesceu e, somente então, amadureceu para permitir sua utilidade derradeira, cuja finalidade estava contida em gérmen na semente. Mas enquanto em gérmen, era promessa. Com comprometimento, determinação, tenacidade, alcançou a condição de servir com a utilidade predestinada.
Por fim, persistência, tenacidade, foco, sem perder de vista, que sejam sinônimos do seu nome, da sua prática de todos os dias.
Desânimo – espante-o. Não se deixe contaminar.
Fugacidade – adote a tenacidade.
Desistir jamais.
Perseverar até o fim, esse é o lema do êxito.
____________
Projeto INOVE – enriquecendo mentes. Fortalecendo emoções