Um conto oriental narra que houve um tempo em que todos os homens eram deuses. Mas eles abusaram tanto de sua divindade que Brahma, o mestre dos deuses, tomou a decisão de lhes retirar o poder divino.
Resolveu então escondê-lo em um lugar onde seria absolutamente impossível reencontrá-la. O grande problema era encontrar um esconderijo.
Brahma convocou um conselho dos deuses menores, para juntos resolverem o problema.
– Enterremos a divindade do homem na terra, foi a primeira ideia dos deuses.
– Não, isso não basta, pois, o homem vai cavar e encontrá-la.
Então os deuses retrucaram:
– Joguemos a divindade no fundo dos oceanos.
Mas Brahma não aceitou a proposta, pois achou que o homem um dia iria explorar as profundezas dos mares e a recuperaria.
Então os deuses concluíram:
– Não sabemos onde escondê-la, pois não existe na terra ou no mar lugar que o homem não possa alcançar um dia.
Brahma então se pronunciou:
– Eis o que vamos fazer com a divindade do homem: vamos escondê-la nas profundezas dele mesmo, pois será o único lugar onde ele jamais pensará em procurá-la.
Desde esse tempo, conclui a lenda, o homem deu a volta na Terra, explorou, escalou, mergulhou e cavou, em busca de algo que se encontra nele mesmo.
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Ainda hoje se vê aqui e ali, o animal com cestos em sua costa, servindo ao transporte de coisas. Vai ao seu destino, descarrega a carga e segue sua faina diária.
Não descarregar e, ainda mais, pôr mais carga, é transtorno na certa.
Na nossa caminhada evolutiva, porque estagiando nas primeiras expressões da consciência em nível inferior e seguindo em ascendência, naturalmente vamos adquirindo outros e novos valores, sem que nos desidentifiquemos dos conteúdos anteriores no mesmo ritmo. Ou seja, geralmente vamos reunindo nos “cestos da consciência” novas experiências, sem abrirmos mão de certas crenças, valores e comportamentos existenciais, hoje ultrapassados; e não nos damos conta de que esse apego retarda muito a marcha do crescimento pessoal.
Sabemos de valores éticos, morais, comportamentais, mas insistimos na sobrecarga de desvalores, alguns altamente prejudiciais. Mesmo com riqueza de conteúdos novos à nossa disposição, sabidos e aceitos, não nos libertamos facilmente das paixões dissolventes, ilusões, apegos, sentimentos inferiores.
Sim, acontecerá a libertação desses conteúdos negativos, o esvaziamento dos “cestos” da carga desnecessária, mais dia menos dia, ou por deliberação pessoal ou, não raro, de forma penosa. Seja a nossa escolha ou a dor-educadora, despertará em nós os anseios pelas conquistas de melhorias íntimas, que acontecerão em processo lento, mas contínuo, objetivando o bem-estar e a paz, formando novos hábitos, uma nova visão da vida, uma nova forma de viver.
Essas mudanças nos levarão a uma identificação com valores imorredouros, que, no futuro, assomarão como recursos elevados, básicos para o bem-estar e para a paz sonhada.
Porém, é preciso nos desidentificarmos com tudo aquilo que se nos faz grilhão impeditivo de passos evolutivos, e nos identificarmos com tudo que sustente e promova nossa caminhada rumo à consciência superior.
Identidade com propósitos e significados que ressignifiquem nossos valores atuais, dando-nos condições de visualizarmos novos e promissores horizontes.
Notemos os bebês. Não se prendem a velhas e desgastadas condições. O que seu cérebro absorveu ontem continua no lugar, enquanto novos horizontes continuam se abrindo.
O propósito vem de dentro de nós, mesmo que estimulado por fatores externos.
Devemos permitir que nossas emoções e pensamentos sirvam aos nossos propósitos, para criar a realidade na qual desejamos viver.
De um modo ou de outro, inevitavelmente criamos uma realidade a partir do nosso ponto de vista.
Com equilíbrio, exponhamos nossa mente a uma visão diferenciada e mais ampla, através da arte, da poesia e da música. Leiamos de tudo que seja edificante, retenhamos o que melhor nos convenha em cada momento-vida. Isso nos dará riqueza em nossos mapas mentais, e teremos mais opções e maior flexibilidade em nossos posicionamentos.
Não há horizontes novos para quem olha para uma única direção e mantém-se na mesma posição, parado.
Para a mente, a consciência é o ventre da criação.
O despertar da consciência nos pede que:
- Valorizemo-nos.
- Não esperemos a aprovação dos outros. Em vez de desejarmos a aprovação externa, esforcemo-nos para ajudar os outros a que encontrem aprovação.
- Questionemos nossas crenças fundamentais.
- Esforcemo-nos para reduzir as nossas exigências quanto a coisas-nenhuma. Vamos nos expandir além dos limites do “eu” e do “meu”.
- Miremos o maior propósito que nossa vida possa ter.
- Mantenhamos a fé de que o crescimento interior é um processo sem fim.
- Percorramos o caminho espiritual, seja como o definamos, com sinceridade e esperança.
Uma consciência superior não é necessariamente um estado espiritual – é um estado expandido.
Síntese para ir em frente e para o alto: evolução, expansão e inspiração.
E o caminho para dentro das profundezas de nós mesmos, aquele lugar que Brahma considerou que nós jamais pensaríamos ir, a que chamamos de autodescobrimento, nos levará ao reencontro com a nosso poder divino, conforme imagem de nosso conto oriental.
O mundo ocidental vai aprendendo com o milenar orientalismo – já não era sem tempo – que a meditação não só é uma terapia valiosa para superar os conteúdos negativos de nosso mundo mental, como é relevante e cientificamente basilar, tanto quanto a busca interna, para o processo de crescimento, de discernimento, de lucidez, de despertar da consciência, enfim.
O bem-estar está ao nosso alcance e tem roteiro seguro para ser alcançado.
Nosso Blog já veiculou artigos sobre meditação, seus benefícios e sua prática, e estão em nossas páginas. Estenda sua leitura, visitando-nos em nossas outras postagens. Lhe será de grande valia.
Projeto INOVE – juntos ao encontro da divindade perdida
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