Dentre as várias interpretações linguísticas para o significado da palavra Jerusalém, cidade considerada sagrada pelas três principais religiões abraâmicas — judaísmo, cristianismo e islamismo, a mais popular é Cidade da Paz.
Em face do seu significado é que se diz que qualquer pessoa, não importa de onde ela saia, quando se dirija para Jerusalém, ela está sempre a subir. Não no sentido geográfico, claro, mas filosófico, espiritual.
A “Nova Jerusalém”, tão recitada, é o lugar onde vivamos e irradiemos a paz.
Dentre tantos conceitos, adotemos que paz é o resultado da consciência tranquila perante a vida. Excede o entendimento, por nascida e cultivada, portas a dentro do ser, no campo da consciência e no santuário do coração.
Ela é sentida e manifestada. Por momentos mais ou menos longos.
É o estado desejado.
É estado a ser conquistado, com empenho e dedicação.
O começo da empreitada está em nossas escolhas vivenciais.
A nossa paz íntima não chegará de fora. Ela está em nós e precisa ser desperta, experimentada.
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Havia um viúvo que morava com suas duas filhas curiosas e inteligentes.
As meninas sempre faziam muitas perguntas. Algumas ele sabia responder, outras não.
Como pretendia oferecer a elas a melhor educação, mandou-as passar as férias com um sábio que morava no alto de uma colina.
O sábio sempre respondia às perguntas sem hesitar.
Impacientes com o sábio, as meninas resolveram inventar uma pergunta que ele não saberia responder. Então, uma delas apareceu com uma linda borboleta azul que usaria para pregar uma peça no sábio.
– O que você vai fazer? Perguntou a irmã.
– Vou esconder a borboleta em minhas mãos e perguntar se ela está viva ou morta. Se ele disser que ela está morta, vou abrir minhas mãos e deixá-la voar. Se ele disser que ela está viva, vou apertá-la e esmagá-la. E assim qualquer resposta que o sábio nos der estará errada!
As duas meninas foram, então, ao encontro do sábio, que estava meditando.
Tenho aqui uma borboleta azul. Diga-me sábio, ela está viva ou morta?
Calmamente o sábio sorriu e respondeu:
– Depende de você. Ela está em suas mãos.
Assim é a nossa vida, o nosso presente e o nosso futuro.
Não devemos culpar ninguém quando algo dá errado. Somos nós os responsáveis por aquilo que conquistamos ou não. Nossa vida está em nossas mãos, como a borboleta. Cabe a nós escolher o que fazer com ela.
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Temos ao nosso dispor diário: o tempo, a inteligência, a oportunidade do dia, as pessoas a nossa volta… E uma vida a ser vivida.
Para “sempre subirmos em direção à Paz”, precisamos estar no caminho próprio.
Há caminhantes e caminhadas que nos servem de exemplo e de estímulo.
Nenhuma dessas caminhadas se deu sem grande esforço e aproveitamento sagrado das oportunidades, transformando-as em realizações.
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Eunice Weaver. Nasceu em uma fazenda de café no interior do estado de São Paulo – São Manuel -, em 19 de setembro de 1902, e faleceu em 9 de dezembro de 1969.
Quando seu marido – Charles Anderson Weaver – foi convidado pela Universidade de Nova Iorque, para dirigir a Universidade Flutuante da América do Norte, instalada num transatlântico, que faria uma viagem ao redor do mundo para melhor formação de seus alunos, juntos partiram do Rio de Janeiro.
Durante a viagem, ao invés de simples passeio e descanso, aproveitou o tempo, a inteligência, a saúde e a oportunidade, para estudar Jornalismo, Sociologia, Serviço Social e Filosofias Orientais, enquanto visitavam 42 países.
Durante essa viagem, viveu por um dia num templo budista, foi até ao Himalaia no lombo de um jumento e entrevistou durante quatro horas o Mahatma Gandhi, de quem recordava: “Foi o homem mais próximo de Jesus Cristo que conheci”. Por onde passou, interessou-se pelo problema da hanseníase e pelo quadro de dificuldades que a respeito constatava, nomeadamente nas ilhas Sandwich, no Japão, na China, na Índia e no Egito.
A sua atenção para a problemática da hanseníase fora despertada em sua mocidade, em Piracicaba, SP, onde residia, quando uma jovem hanseniana simulou suicídio para esconder-se da sociedade e livrar sua família do estigma dessa doença.
Ela nunca esquecera a ocorrência.
De volta ao Brasil, fundou, em Juiz de Fora, MG, a Sociedade de Assistência aos Lázaros, e foi presidente da Federação das Sociedades de Assistência aos Lázaros e Defesa contra a Hanseníase, de 1932 até a sua morte, em 1969.
De madrugada, quando em sua cidade passava o trem para Belo Horizonte, dirigia-se à estação ferroviária a fim de prestar assistência aos hansenianos que eram transportados no vagão da segunda classe, ao Hospital Santa Isabel naquela cidade. Oferecia-lhes roupas, cobertores e refeições.
Fundou o Educandário Carlos Chagas, em Juiz de Fora (1932), e o Educandário Santa Maria, no Rio de Janeiro, RJ.
Em 1935, obteve do então presidente da República, Getúlio Vargas, a promessa de auxílio oficial para a obra, no montante do dobro do que ela conseguisse arrecadar junto à sociedade civil. Com esse acordo, Eunice dedicou-se a viajar por todo o país, para divulgar a campanha da Federação das Sociedades de Assistência aos Lázaros e Defesa contra a Hanseníase.
Foi a primeira mulher a receber, no país, a Ordem Nacional do Mérito, no grau de Comendador (Novembro de 1950), e a primeira pessoa, na América do Sul, a receber o troféu Damien-Dutton. Publicou a “Vida de Florence Nightingale”, “A Enfermeira” e “A História Maravilhosa da Vida”. Representou o Brasil em inúmeros congressos internacionais sobre a hanseníase. Organizou serviços assistenciais no Paraguai, em Cuba, no México, na Guatemala, na Costa Rica e na Venezuela, com benefícios para milhares e milhares de pessoas, que passavam a ter uma vida mais digna, pelos novos tratamentos adotados e, notadamente, pelo trabalho de esclarecimento da sociedade e minimização de preconceito.
Foi a delegada brasileira no 12.º Congresso Mundial da Organização das Nações Unidas (Outubro de 1967). Em diversos estados do Brasil, instituições de assistência aos hansenianos levam o nome de “Sociedade Eunice Weaver”.
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Por nossa vez, aproveitemos o tempo, a inteligência, a oportunidade do dia, as pessoas a nossa volta, para construirmos nossa “cidade da paz”.
Com ideia clara e lúcida do caminho a ser seguido, com intenção firme de despertamento da paz em nós, empenho bem direcionado, pensamentos objetivos, vontade férrea, superemos obstáculos, e prossigamos, destemidos.
Portanto, vitalizar a nobre aspiração com atitudes assertivas, até fixar, psíquica e emocionalmente, os valores construtivos do estado desejado.
Diante da impaciência, a paciência.
Diante da intolerância, a tolerância.
Diante do orgulho, a humildade.
Diante do supérfluo, apenas o necessário.
Diante da posse, o desapego.
Diante da injúria e da calúnia, o perdão.
Diante dos reveses, a resignação.
Diante da maldade, a bondade.
Diante da controvérsia, a concórdia.
Diante das perdas, o ânimo.
Diante do tumulto, a ordem.
Todos possuímos os potenciais íntimos para a plenitude, que aguardam ser desvelados, como o diamante espera para ser burilado e revelar seu esplendor.
Nossa função é vivermos nossa vida de forma que faça sentido para nós mesmos, não para os outros.
Não haverá completude se não houver superação e satisfação.
A “subida” até a “Cidade da Paz” é experiência que começa no desejo de elevar-se, e, passo a passo, sedimentar a conquista com bom aproveitamento do tempo, uso sábio da inteligência, construir boas e novas oportunidades de edificantes experiências em cada dia, valorizar, respeitar e auxiliar as pessoas a nossa volta.
A paz é resultado de um processo de aquisição de longo prazo, que pede ser bem elaborado, com frequência e ajuste de direcionamento constante, que depende somente de nós mesmos.
O empenho pessoal começa no plano do desejo mental, com incansáveis e constantes tentativas, a fim de formar hábito realizador, que se integrará na nossa própria natureza por fixação automática.
Nós mudamos o nosso mundo mudando a nós mesmos.
Como estejamos, onde quer que estejamos, aí, aí mesmo, é o ponto de entrada na “Nova Jerusalém”. Basta o primeiro passo.
Insistir e perseverar de forma que o propósito firmado pela paz se faça potente, a ponto de predominar sobre posturas velhas, arquivadas pelas experiências até então, e comandar conscientemente os acontecimentos, a partir de então.
Falamos da edificação de novos padrões comportamentais sociais e morais, que pedem revisão das preferências mentais, pois aí estão fincados os alicerces compostos dos mais frequentes padrões de pensamentos, formadores da nossa conduta, qualificadores de nossos relacionamentos interpessoais, significadores de nossa vivência existencial.
A construção da “Nova Jerusalém”, a Cidade da Paz, para nossa morada definitiva, é subida degrau a degrau, quando em um deles estaremos com o coração oprimido por angústias, em outro, com a alma ralada de dores.
Não temos que ver toda a escada, apenas vamos dar o primeiro passo, o segundo e assim por diante.
Apreciemos tanto o bom quanto o ruim em nossas vidas. O dia quanto a noite. São dualidades necessárias para formarem a unidade.
Mas é certo de que alcançaremos o degrau superior da liberdade, após a travessia das dificuldades iniciais.
Mais acertada ainda é a chegada no degrau reservado aos que, com perseverança – que aliás, é a base da vitória -, ultrapassarem as metas do processo renovador iniciado – social, familiar, pessoal, quando se verão amando e sendo amados, pois somos feitos de amor e feitos para amar.
O degrau do amor é a ponte que nos liga a tudo o mais de bom.
E os novos passos em ascensão se darão, permanente e espontaneamente, devotados ao bem geral.
Estar vivo não é suficiente. Precisamos agir no bem e para o bem.
Como disse o sábio da metáfora sobre a vida: “… Ela está em suas mãos.”
Momento da jornada chegará em que nos sentiremos transformados intimamente, iluminados pela chama da paz, fruindo a real plenitude, que é o finalismo da vida, que deve ser a nossa meta essencial.
Ostra que não sofre, não produz pérolas.
Mármore sem o buril modelador do escultor, continua um bloco de pedra.
Sem a têmpera do fogo, não temos o aço.
Sem intenção e iniciativa, sem esforço e sem sacrifícios, sem amor e sem paciência, sem generosidade e doação de nós mesmos, não conquistaremos a paz.
Em paz, nos sentiremos plenos.
Na plenitude da paz, nos encontraremos em unidade com o Todo.
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