A viagem transcorria tranquila, num dia de céu azul, sol radiante, paisagens lindas, horizontes largos, aves enfeitavam a visão, terra salpicada de mata, riachos, plantações, e uma ou outra área de plantio sem nenhuma semeadura.
O carro seguia célere, e os dois amigos trocavam impressões sobre o que viam.
Quando um deles apontou uma das áreas sem plantio aparente e disse não saber por que o agricultor não aproveitava melhor sua terra, com a mesma lavoura dos vizinhos.
O outro, pensou um pouco e comentou: – Não sabemos ao certo o motivo do não plantio, mas podemos supor.
Por exemplo, talvez a razão seja econômica. Todos com mesma lavoura de época, indicaria um preço de venda menor, quando da colheita, diante de oferta maior.
Nesse caso, o agricultor teria preferido aguardar a chegada de plantio de outra lavoura, que não a que está em crescimento.
Ou, por prudência e visão de longo prazo, ele tenha preferido deixar a terra descansar e se recompor.
Aliás, meu amigo, é o que deveríamos adotar em nossas vidas cotidianas.
Não só o corpo pede descanso, a mente também.
A propósito, logo adiante tem um mirante, onde podemos estacionar com segurança e fazer uma parada para descanso e aproveitar melhor o momento, e guardar no coração a bela vista que nos empolga agora. Que tal?
Assim fizeram.
Sentados sob boa sombra, ambiente tranquilo, o voejar e o canto dos pássaros, tudo lhes chamava a atenção.
Estavam presos em um mudo silêncio.
Pequena queda d’água caía ao lado, formava pequeno lago, para depois continuar a descer pela parede de pedra.
Embevecidos pelo acolhimento do recanto, o amigo falou: – Há quanto tempo não ouvíamos o som da natureza e nos sentíamos pertencentes a ela, com a brisa refrescante e o aroma adocicado da floração à nossa volta, ao vivo e em cores?
E o som da pequena cascata natural ao nosso lado, então?
A realidade é inimitável, não é mesmo?
Por que nos apartamos da natureza e da vida mais natural?
Nesses poucos instantes nos desconectamos do mundo que nós criamos e nos reconectamos com o mundo desde sempre criado e que permanece a nossa disposição, porém ignorado.
Neste momento o foco somos nós, graças ao estímulo da natureza.
E o outro amigo comentou: – Você ouve o quanto o silêncio da natureza é rico de sons, os quais quase esquecidos por nós?
Sons que falam ao coração.
– Em verdade, respondeu o outro, é paradoxal. Somos seres naturais que criamos uma segunda natureza, artificial, manufaturada pelos homens, e deixamos a verdadeira de lado, como se nós e ela – a Natureza – não fôssemos um todo indivisível.
Tão mediocramente nos satisfazemos com a virtualidade dos sons e das imagens captadas do mundo, ouvimos via mp3 e vemos vídeos no Youtube, isso quando nos interessamos por tal distração.
Eu chamo isso de realidade editada.
Para nos distrairmos das horas que passamos entre quatro paredes, vamos para shoppings, galerias, teatros, cinemas, tudo dentro de outras paredes.
Que realidade é essa?
Esquecemos que, por maior seja a cidade que habitemos, a vida em a natureza está logo ali, quando ela termine.
Digo a você que acabo de me prometer quebrar esse hábito de ser eu mesmo.
Quero mudanças nas referências do meu viver.
Um mundo com nova interpretação.
Chega de flutuar no passado conhecido e caminhar em direção ao futuro previsível.
– Você toca num ponto crucial – aduziu o amigo. Aprendi em leituras que faço de uns tempos para cá, e que passaram a me interessar, que novos padrões mentais e sua repetição reforça os circuitos em nosso cérebro e forma mais e novas conexões neurais, um novo padrão, que, por sua vez, influenciam imediatamente nosso corpo.
Nossa personalidade é feita do que pensamos, como agimos e como nos sentimos. Nesse contexto está nossa realidade pessoal.
Ao mudar qualquer um desses fatores, você muda sua vida.
Ou seja, quebra a dependência da memória do passado para se definir a memória do futuro.
Nós nos fechamos deliberadamente a novas possibilidades para nos adequar a antigas preferências.
E se destaca aqui uma máxima: – não se vai ao futuro, apegado ao passado.
O passado não pode ser anulado, mas pode ser diluído, enquanto o futuro é elaborado.
Tudo começa na mente – que é a manifestação da consciência -, que, por sua vez, faz uso do cérebro para dar forma aos pensamentos.
A mente só acontece porque a consciência começa a se mover dentro de si mesma.
Consciência desperta, mente desperta.
Bom que se diga, que há pensamentos que não vão junto para o futuro melhor a partir de agora, como: eu não consigo, é muito difícil, eu não consigo mudar, vou começar na segunda-feira, a culpa é dos outros.
Mude seu pensar e mudará seu mundo, fala a sabedoria antiga.
– Sim, eu aceito seu enfoque, falou o outro. E digo mais.
As pessoas se identificam com aquilo que conseguem fazer.
As coisas pelas quais nos interessamos nos atraem e prendem nossa atenção, enquanto, inversamente, aquelas que não nos interessam passam despercebidas.
O momento nos convida a nos identificarmos com a vida em sua maior expressão, não é fato?
A formação do senso de identidade, que nos devolva a espontaneidade existencial, é também recurso para a instalação do caráter.
Retomar a nossa identidade é olhar a vida sob novo prisma, com olhos de ver.
Percebo agora, meu amigo – interveio o outro -, com essa nossa agradável conversa, que é preciso delinear o futuro e passar a vivê-lo, com ensaio intelectual, psicológico e emocional de acordo com o desejado.
Ou seja, ensaiar o futuro e construí-lo, conforme o que precisa ser feito.
Manter o ensaio, tomar as atitudes necessárias e repetir a experiência com determinação e persistência.
E se começa a viver o futuro desde o presente, a partir do futuro e não do passado.
Meu amigo, quando você vê esse exercício mental emocional, não como uma tarefa, mas como um meio de aumentar a concentração, o foco, e a energia que precisa para prosseguir, você cria uma interpretação nova do dia a dia do existir.
Se dá novo significado à vida.
Eu poderia resumir assim: ensaiar quem eu serei e como serei!
– É adequado seu resumo, sim – comentou o outro. No entanto, eu acrescento a necessidade de uma visão do futuro sem perder de vista a ecologia existencial de cada um de nós, tanto interna como externamente.
Reúno na ecologia a ideia ampla da vida de relacionamentos, que nos completam.
A sinfonia é resultado da soma de cada nota musical executada.
Figuradamente, para explicar mais, veja a sinfonia como a união de cada nota musical, sem as quais não se formaria o conjunto harmônico.
Harmonia de ideias, ideais, ambiente e relacionamentos esboçam os contornos da ecologia existencial.
Você está programado pela Vida para viver e sentir a harmonia.
Nós dois testemunhamos, neste instante, o quanto a Natureza é uma ode à harmonia.
Comportamento egóico não deve ter lugar nesse futuro.
Na ecologia interna, verificar se vale a pena, qual o preço de fazer as mudanças que serão devidas, como manter aspectos bons ao fazer a mudança desejada etc.
Quanto a ecologia externa, por exemplo, dentre outros vários aspectos a serem considerados, questionarmo-nos como nossos afetos se sentiriam nesse futuro idealizado. Como a mudança os afetaria.
Esse futuro implica mudanças de valores e referenciais de vida.
Estabelecer diretrizes para a realização dos objetivos essenciais da existência, programar-se para atender a todos os impositivos, mesmo aqueles que não são agradáveis nem compensadores de início.
– Estamos dispostos a mudanças, ambos se questionaram?
E continuou sua fala: – Toda luta impõe esforço e até mesmo sacrifício e sem perder o entusiasmo de quem escolheu rumo certo.
O outro disse, com a devida licença: – Uma coisa é fato. Essa pequena experiência que me ofereceu ensejo de foco sobre mim mesmo, levou-me a reconhecer que eu vivia uma vida dentro de uma segunda natureza, não só ilusória, mas castradora das mais simples e nobres emoções.
A vida dá um espetáculo todos os dias, que começa com o nascer do sol e não cessa à noite, que é como um impalpável tecido azulado escuro, todo recamado de estrelas.
Eu nem percebia o sol e o céu, quanto mais o desenrolar de vidas a cada instante.
Devo me perguntar sobre minhas emoções: eu as sentia?
Toda mudança ocorre primeiro no nível inconsciente. Só depois nos conscientizamos dela.
Meu amigo, eu me abri para mudanças!
Estou consciente do momento presente, e muito feliz.
A vida tem um significado que vai muito além do simples sobreviver.
Já podemos retomar o caminho dos compromissos do dia, certos de que já não somos os mesmos.
– Vamos lá, querido amigo – respondeu o outro.
Me lembro de uma das notáveis citações do grande poeta Rumi, a qual, pela compreensão de agora, passou a falar diretamente ao meu coração: Por que você permanece na prisão quando a porta está completamente aberta?
Saímos daqui com a chave para a liberdade.
– Para que eu não fique sem nada dizer, depois de sua oportuna citação – sorridente, falou o outro amigo -, recito Fernando Pessoa: Existe no silêncio tão profunda sabedoria que às vezes ele se transforma na mais perfeita resposta.
Aqui entre nós dois, a Natureza nada nos falou, e nos disse tudo. Muito bem se diz que céus e terra são a origem de todos os vivos, que espontaneamente brotam da Vida.
Vamos. Uma vida nova já pulsa em nossos corações.
Aproveitemos o despertar da consciência.
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