Elizabeth – a professora mais amada, chegava no lugar combinado com seus alunos: um aprazível recanto de belo parque da cidade.
Era sem dúvida a professora mais querida de todos. Simples e direta, gentil e orientativa, sempre presente ao lado dos seus alunos, na escola e na vida cotidiana. Fazia de cada assunto escolar uma lição de vida.
Em verdade era um encontro entre amigos, por sugestão de Alexandre, livre para quem quisesse comparecer, não estava atrelado a qualquer obrigação escolar e acontecia numa ensolarada manhã de domingo.
A intenção era conviver fora da escola, durante umas poucas horas com os amigos mais íntimos, corações afins, desapegados de formalidades.
Alexandre já estava a postos, alegre, receptivo e fraterno.
Abraçaram-se como amigos que há muito não se viam, apesar de terem estado juntos em sala de aula, havia dois dias.
Pouco tempo depois, o grupo de jovens estava reunido, contentes.
A conversa descontraída e os risos mostravam que o momento era alegre e saudável.
Bem próximo deles encontravam-se alguns coqueiros-jerivá, palmeira nativa que dá a fruta conhecida como “coquinho”, muito apreciado por animais, como papagaios, maritacas ou mesmo por cachorros.
Elizabeth notara que um cachorro ensaiava se aproximar para comer as frutas que estavam no chão, que exalavam seu aroma característico.
Rodeava com certo receio.
Ela discretamente chamou a atenção dos jovens para perceberem o comportamento do cachorro, cujo dono estava a uma certa distância brincando com seus filhos.
O cachorro pegou um coquinho que estava mais distante do grupo. Mastigou e observou o comportamento das pessoas do grupo.
Aproximou-se um pouco mais e mastigou outro.
Por fim, percebeu todos amistosos e sentiu-se convidado a se aproximar e se banquetear com os frutinhos amarelados e bem doces, madurinhos.
Elizabeth aproveitou a circunstância e disse aos jovens amigos: – Notaram que o cachorrinho estava decidido a comer fruta? Com vontade firme, agiu com habilidade, prudência e esperteza. Podemos dizer: agiu com vontade sábia…
Os demais sorriram, assertivamente, e ela aproveitou para ensinar com tranquilidade e continuou.
– De fato, não basta uma vontade forte. É necessário que o nosso querer seja também hábil, esperto, sábio. A vontade, para determinar ação, para obter resultados externos, visíveis, para que se manifeste, deve agir acima de tudo no interior de cada um.
De certo modo, se pudéssemos penetrar no pensamento do cachorro, veríamos que ele buscou identificação com o que desejava – o fruto – e olhando a sua volta, avaliou riscos ou reações nossas, que poderia ser de expulsá-lo, por exemplo.
Por estar tudo favorável na observação dele, se viu “dominado”, seguro quanto ao seu objetivo: coquinhos.
Porém, sentiu-se identificado depois de desidentificar-se com o que o instinto lhe recomendava atenção: pessoas e agressões.
Seu domínio da situação aconteceu por se sentir seguro, com controle daquilo que ele desidentificou como risco: a reação agressiva de pessoas.
Em resumo, meus queridos, somos dominados por tudo aquilo com que nosso Eu fica identificado.
Podemos dominar, dirigir e utilizar tudo aquilo de que nos desidentifiquemos.
– Não entendi muito bem, falou Silvia.
– Silvia, entre diversos perfumes, todos com aromas deliciosos, escolhemos aquele que “seja mais eu”, não é mesmo?
É a diversidade natural das coisas e das escolhas.
Vamos supor que você, entre vários amigos, percebe que um te agrada mais. Pode ser tal essa identidade, que vocês queiram sempre estar juntos.
E, como segredo só seu, você começa a formar um laço afetivo mais intenso.
No entanto, passado certo tempo, eis que ele lhe confessa paixão por outra pessoa, porque confia demais em você como amiga.
A muito custo, até com sofrimento, você compreende a sua relação de amizade com ele e lhe dá a maior força para seguir adiante com seus sentimentos.
A partir daquele momento, com vontade forte, toma cuidado e começa a tentativa de se desidentificar de desejos e sonhos que transcendiam aquele bonito laço da amizade.
Seu esforço a levará a ter direção segura com o tempo a fluir, controle sobre a emoção por se desidentificar dos apelos do coração.
Aquilo que prendeu a atenção, determinou a ação.
Onde estiver o próprio tesouro, ali estará o coração, é uma expressão evangélica muito adequada como explicação.
É da natureza humana identificações diversas, que se fazem valores e dirigem o comportamento.
Mas não se pode perder de vista a necessidade de uma autoanálise avaliativa que feita regularmente sobre valores, conclui e explica se realmente são valores construtivos.
Nem tudo que reluz é ouro, diz ditado popular.
A desidentificação também é da natureza humana.
Nem todos se dão conta que qualquer ser humano pode mudar de vida, ao mudar de atitude.
Aprender esta citação do notável William James, um dos criadores da Psicologia Funcional: “Não tenho a menor dúvida de que a maioria das pessoas vive, seja física, intelectual ou moralmente, em um círculo deveras restrito do seu ser potencial. Elas usam uma parcela ínfima da sua consciência possível […], mais ou menos como o homem adquire o hábito de usar e de mover, de todo o seu organismo físico, apenas o dedo mínimo. Todos nós temos reservatórios de vida a serem aproveitados, com que sequer sonhamos.”, é ferramenta bem interessante!
Palavras da professora; – Meus queridos amigos, estejam certos de que viver é muito mais do que simplesmente estar vivo. E despretensiosamente ser mais do que estamos acostumados a ser nos abrirá horizontes excelentes.
Observem, que me dirijo para além do que somos, enfatizo o que podemos nos tornar.
Falo dos “reservatórios de vida a serem aproveitados”.
Qualquer coisa que possamos manter firmemente em nossa imaginação, pode ser nossa. Só depende do autocultivo.
Autocultivo conforme antiga tradição chinesa, é como nos tornar melhores. Melhorar e aperfeiçoar como agimos, pensamos e sentimos.
O estado de ser pode ser visto como um padrão existencial.
A atitude transformadora está em Interromper padrões existentes e adotar novos, mesmo que por momentos.
O que eu desejo me tornar é como visualizar a árvore em franca produção de frutos, e ter em mãos a sua semente.
Resta semear e cultivar.
Começa por agir (que pede pensar e sentir em consonância) “como se…”
“Como se…” é qual um ensaio regular.
Por exemplo, se sou do tipo “pavio curto” e desejo ser uma pessoa paciente, é começar a agir, interna e externamente, “como se…” já fosse paciente.
Alexandre perguntou: – alguém irritadiço e grosseiro que passa a agir de modo benévolo e sorridente, não seria fingimento?
– Ao contrário, não o é, respondeu Elizabeth. Seria hipocrisia ou fingimento se o fizesse somente para enganar a outra pessoa.
O pressuposto é que você esteja num estado de ser (“pavio curto”) e, por livre vontade, deseja outro estado de ser (paciente).
Reconhece o seu lado existente (“pavio curto”), mas procura vencê-lo, modificá-lo. Acolhe esse lado de sua personalidade como acolheria um machucado em você mesmo que precisa de bálsamo curativo, e faz uso dele.
Também reconhece em seu “reservatório de vida a ser aproveitado” infinitas possibilidades.
Assim, guarda o propósito ser paciente, benevolente.
Assume antecipadamente a mudança que você quer ser.
Por isso comporta-se “como se…’ paciente, benevolente, com a mais alta sinceridade, por corresponder ao que quer ser completamente, e que já é, em parte. Basta acordar essa sua característica que se encontra em suas infinitas potencialidades.
Algo como um aprendiz de motorista.
Inicialmente, tudo tem de ser lembrado; com dificuldade, coordena ações, atenção, estresse.
Age “como se…” soubesse dirigir…
Com autocultivo intencional, contínuo, determinado e persistente, passado um certo tempo, eis que tudo está sabido, assimilado, e então dirige quase que automaticamente.
Prática e treinamento nos tornam melhores, mais habilidosos na vida, mais integrados, mais virtuosos.
Ora inautêntico para logo autêntico.
Desidentifica para identificar.
Desaprende para aprender.
Logo se torna sua característica.
Formou um novo padrão.
Importante compreender que a consciência, a vida, não é o corpo, da mesma forma que a água não é o copo que a contém.
Olhe para você mesmo, observe em sua linha do tempo suas experiências.
Tudo é mutável e passageiro, mas sua essência, sua verdadeira natureza, não muda. Você permanece!
Tudo leva você a reconhecer e afirmar:
Eu tenho um corpo, mas eu não sou meu corpo.
Eu tenho uma mente, mas eu não sou minha mente.
Eu tenho emoções, mas eu não sou minhas emoções.
Esse é o nível desejado de consciência desperta.
E continuava Elizabeth, a vida é como um instrumento musical; se continuar a ser praticado, ficaremos cada vez melhores, até alcançarmos a virtuosidade.
Se pararmos, esquecemos o que já era sabido.
O que pensamos que somos, está sempre evoluindo, em constante mudança.
Que seja, então, para melhor!
Bem, concluiu ela, vamos aproveitar mais esse momento juntos.
O aroma da mata, das flores e das frutas, tudo o que contido no ar que respiramos nos mostra que a Natureza é vida!
Percebam como o riso sincero das crianças, felizes, que vivem integralmente o momento é agradável.
Com os pés se firmes na terra, sem deixar de olhar e admirar o céu, percebam o Eterno, sentindo que também somos eternos como Ele.
Os caminhos que nos trouxeram até aqui, hoje, se percebidos com esse enfoque novo, não será um caminho de volta, quando formos embora, mas um novo começo.
O mesmo caminho não nos levará para o antes, somente para o logo mais.
E tudo será “como se…” o futuro fosse hoje, pois hoje é o dia, agora é o momento, em que tudo começa, conforme sejam os nossos desejos.
Vontade forte. Vontade sábia!
Façamos escolhas certas, pratiquemos o “como se…”. Assim seremos o que desejamos ser.
Agora, meus queridos, peguem uns quitutes, e sei que Alexandre nos trouxe água e sucos.
Vamos ao que é nosso desejo mais que imediato?
Sorridentes, abraçaram-se fraternalmente, como que, pelo gesto e toque, pelo carinho e aconchego, todos dissessem: assim será! Pois assim é!
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