O dia amanhecera chuvoso, com previsível trânsito difícil, e Ricardo se preparava para ir trabalhar, enquanto assistia vídeo com as últimas falas sobre “o medo”, no qual se elucidava não ser as circunstâncias que moldam nossas vidas, mas sim o significado que dermos às ocorrências, o quanto interiorizarmos impressões então provocadas.
Saiu com seu carro rumo ao trabalho.
Algumas quadras a frente, se viu às voltas com grave acidente entre dois veículos, com risco de incêndio, do qual conseguiu escapar por questão de segundos.
Naturalmente assustado, muito impressionado com o contexto geral, prosseguiu, agora com receio de todos a sua volta, ansioso por se liberar do tumulto, insistiu na jornada.
Mais uns quarteirões adiante, em cruzamento de grande movimento, o semáforo estava com defeito, com grande risco de acidentes e dificuldade para se circular, agravado pelos abusos e desrespeito de muitos motoristas, desconsideração pelos outros carros e pelos transeuntes.
Nesse cenário nada favorável ao bom-humor, constrangido pelas impressões do acidente que quase se vira envolvido, Ricardo observou na calçada ao lado, senhora de mais idade, com criança de colo, exposta à chuva, sem sombrinha, que tentava atravessar a rua tumultuada, insegura e sem sucesso, pois nenhum motorista lhe dava oportunidade.
Tumulto por tumulto, preso no congestionamento, Ricardo abriu a porta do seu carro, saiu, armou seu guarda-chuva, foi até a senhora, ofereceu-lhe ajuda, tomou-lhe pelos braços e foi sinalizando para esse ou aquele apressadinho que parasse e os deixasse passar, e, apesar de buzinação, foi indo adiante.
O seu gesto viralizou. Vários motoristas, ao testemunharem a cena de solidariedade, pararam de vez seus veículos, cessaram as buzinas e facilitaram a gentileza daquele estranho.
Já no outro lado da larga avenida, Ricardo entregou seu guarda-chuva à senhora, para que prosseguisse abrigada, enquanto ela lhe sorria, com olhos marejados de lágrima, e manifestava gratidão. Já retornando, o pequeno, no colo da mãezinha, olhou-o com a pureza que somente as crianças possuem, e lhe acenou com a mãozinha um adeus.
O quadro lhe pareceu surreal: uma senhora lacrimosa, uma criança que acenava, pelo simples fato de terem sido ajudados por um estranho a atravessarem uma rua…
Isso porque um defeito em um semáforo impedia pedestres de circularem com segurança, algo que, por isso só, deveria ser facilitado por todos os motoristas, cortesia como simples iniciativa pelo respeito ao próximo.
Mais surpreso ainda, ao voltar, vários dos motoristas então parados, lhe sorriam, alguns até lhe acenavam, davam sinal de luz, pequenos toques na buzina, como a cumprimentá-lo pelo gesto ousado.
Entrou de volta no seu carro, deu partida e seguiu seu destino, com uma sensação estranha de dever cumprido, sentindo-se muito aliviado, tranquilo, impressionado com seu bem-estar íntimo, de tal modo que nem a confusão que seguia no trânsito lhe trouxe qualquer desconforto. E nem percebeu que a má impressão de momento anterior sumira do seu coração.
À noite, ao narrar as ocorrências à esposa, esta lembrou-lhe as palavras que ele ouvira antes de sair de casa pela manhã: não são as circunstâncias que moldam nossas vidas, mas sim o significado que atribuímos às ocorrências e o quanto interiorizamos as impressões então provocadas.
O medo, uma emoção primordial que atua como nosso guardião, é uma importante reação natural e sua intenção é nos manter protegidos.
A sensação que temos dele é inegável, uma resposta espontânea que surge quando percebemos um perigo, seja ele real ou fruto da nossa imaginação.
Essa emoção se desencadeia por estímulos visuais, auditivos, táteis, gustativos ou olfativos, provenientes do mundo externo ou de nossa mente.
O medo não faz parte da experiência!
Ele nasce com a interpretação que damos à experiência.
Ele não chega e quer entrar, ele se apresenta e quer sair.
As circunstâncias podem se dar “lá fora”, mas qual interpretação lhes dar, se de medo ou outro sentimento qualquer, é uma decisão do “cá dentro” de nós.
Sua intensidade pode variar de uma apreensão suave a um impacto dilacerante, pulsante, assemelhando-se a uma erupção vulcânica que, após o ápice, se solidifica como lava fria na boca do estômago.
Manifesta-se, por exemplo, ao ouvirmos um barulho na calada da noite ou ao percebermos uma janela aberta que não deixamos assim.
Esse sentimento pode se instalar gradualmente, como na aproximação da tão adiada visita ao dentista ou no iminente discurso público.
Em essência, os medos envolvem dois elementos: um gatilho real externo ou o significado que atribuímos a ele em nossa imaginação. Frequentemente, o medo resulta de uma combinação de ambos, sendo uma reação ao estímulo presente e à projeção imaginativa do que pode acontecer.
Vale observar que usamos nossos sentidos para explorar o mundo exterior e, posteriormente, usamos nossos sentidos internamente para pensar nisso.
Em linhas gerais, não é o que pensamos, mas como pensamos, que dá origem ao medo. Isso se reflete na diversidade deles, como o medo de alturas, que varia de pessoa para pessoa.
A capacidade de desaprender nossos medos, ao revisitar acontecimentos passados, é crucial. Nas palavras iniciais do nosso artigo, destacamos que não são as circunstâncias que moldam nossas vidas, mas sim o significado que atribuímos aos eventos e o quanto interiorizamos as impressões geradas.
O aspecto mais intrigante, e ao mesmo tempo extraordinária, é a possibilidade de escolhermos nosso estado emocional, reimprimirmos impressões, assim como exemplificado por Ricardo no início do artigo.
Ninguém nasceu para sofrer!
Há fatores traumáticos, ocasionados por circunstâncias imprevistas, que deixam a sequela do medo, diante dos transtornos havidos, das dores sentidas etc.
No entanto, é fundamental compreender que o medo irracional, preocupações e ansiedades são construções da maneira como pensamos, não pelo conteúdo específico dos nossos pensamentos. Por esse aspecto se pode dizer que, independentemente da origem, o sentimento do medo é uma construção interna.
Ele não chega de fora para agir, ele se manifesta a partir e através de nós.
Ele não se impõe. Se expõe e quer ser aceito. A decisão é nossa.
Não quer dizer que não o sinta, mas não precisa manter esse sentimento.
Compreender essa dinâmica revela nosso poder de ressignificar impressões, e nesse processo, não podemos subestimar a importância do acompanhamento terapêutico.
Abordagens como a Programação Neurolinguística (PNL), a Psicologia Transpessoal e outras terapias eficazes desempenham um papel crucial na superação desses sentimentos.
Nossa perspectiva neste texto quer esclarecer e motivar uma maneira de encarar os problemas e reconhecer que há solução para todos eles. É um estímulo para enfrentar desafios, nunca para se render. Um alerta de que, independente do medo sentido, enfraquecer essa sensação começa ao se tornar uma pessoa mais tranquila e menos estressada.
Ressignificar o medo é um processo que envolve mudar a interpretação e a resposta emocional associadas a situações temidas.
É um autoenfrentamento. Revisitar crenças, valores, sentimentos, comportamentos, com vistas a mudar o que for necessário.
O bem-estar do equilíbrio pede a determinação de quem sabe que é lutar para vencer; plantar, consciente e intencionalmente, a semente do que quer de fato vir a colher.
De quem sabe que sente, mas não é o sentimento. Que tem um cérebro, mas não é o cérebro. Que tem um corpo, mas não é o corpo.
Diante do medo, você pode fazer muito por você, com dedicada observação e percepção, sem autopunição:
– Identifique e desafie padrões de pensamento negativos ou distorcidos relacionados ao medo. Substitua-os por pensamentos mais realistas e positivos. Isso ajuda a alterar a percepção da ameaça e a reduzir a ansiedade.
– Enfrente gradualmente aquilo que causa medo, expondo-se progressivamente à situação temida. Isso permite que você desenvolva uma resposta mais controlada e menos ansiosa ao longo do tempo.
– Imagine-se lidando com a situação temida com sucesso e calma. A visualização positiva pode ajudar a construir confiança e reduzir a resposta emocional negativa associada ao medo.
– Reflita sobre experiências passadas em que superou o medo ou lidou positivamente com situações desafiadoras. Essas memórias podem servir como fonte de inspiração e fortalecimento.
– Desenvolva uma mentalidade de autoeficácia, acreditando na sua capacidade de lidar com adversidades. Estabeleça metas realistas e celebre cada conquista, por menor que seja.
– Concentre-se no que você pode controlar em vez de se fixar no que está fora do seu controle. Isso ajuda a redirecionar a atenção para a ação positiva e reduz a sensação de impotência.
– Pratique a aceitação de que o medo é uma emoção natural. Em vez de resistir, permita-se sentir o medo, reconhecendo-o sem julgamento, o que pode diminuir sua intensidade ao longo do tempo.
– Aprenda e pratique técnicas de respiração e relaxamento muscular para acalmar o corpo e a mente. Isso pode ser especialmente útil em momentos de ansiedade intensa.
Respire profundamente e expire longamente.
Se usar a respiração assim ritmada enquanto tenta controlar o estado antigo de estar apavorado ou coisa como tal, você baixará seus batimentos cardíacos, que o acalmará e poderá então enfrentar o desconhecido, mesmo que com um pouco de apreensão.
– Pratique a meditação.
A prática da meditação e atenção plena é uma ferramenta incrivelmente valiosa nesse contexto.
Ela não apenas funciona como uma medida preventiva, promovendo equilíbrio emocional permanente, mas também atua como um poderoso recurso para fortalecer resistências morais, oferecendo um estímulo revigorante para reinterpretar significados existenciais.
Além disso, destaca-se pelo seu valor inestimável como eficaz auxiliar nos processos terapêuticos em geral.
Diante do medo, sinta-o, natural que é. Mas não dê permissão para senti-lo de novo, nem faça dele emoção dominante.
Você tem esse poder!
Ressignificar o medo, a começar do nosso entendimento sobre ele, é uma jornada que obrigatoriamente não seja fácil, mas é perfeitamente possível.
Confie em você!
Comece já!
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