O “DAVI” EM NÓS…

Michelangelo olhou para o bloco de mármore bruto e viu algo que ninguém mais conseguia ver: o Davi já estava ali, prisioneiro na pedra, esperando ser libertado

Com um cinzel em mãos, ele desbastou tudo o que não pertencia àquela visão originalmente pura e autêntica.

Eu apenas tirei da pedra tudo o que não era o Davi“, disse ele.

Naquele gesto, reside uma sabedoria que ecoa por séculos. Essa não é apenas uma lição de arte, mas um chamado profundo para cada um de nós.

Quantos de nós estamos aprisionados em pedras invisíveis, encobertos por camadas que não pertencem ao que realmente somos?

Há tantas influências, expectativas e ilusões que vão se depositando ao nosso redor, criando uma carapaça de mármore frio que esconde nossa essência.

Somos editados por modelos alheios, impulsionados por padrões de beleza, comportamento e sucesso que nos afastam de nossa própria verdade.

Assumimos máscaras para pertencer, vestimos fantasias para nos sentirmos aceitos. E, no processo da formação da falsa identidade, perdemos contato com o que existe de mais puro e verdadeiro em nós: nós mesmos!

Michelangelo sabia que a beleza do Davi não estava no mármore em si, mas no que ele se dispunha a remover, camada por camada, até que surgisse a escultura autêntica.

Da mesma forma, a beleza de nossa existência não se encontra nas máscaras que vestimos, nem nas influências que absorvemos sem questionar. Ela reside em nossa capacidade de remover, com coragem, tudo aquilo que não faz parte de nossa essência, para revelar o que sempre esteve lá: o nosso Eu verdadeiro, a nossa natureza profunda, a expressão de nossa essência! Que aliás está na vida para ser mostrada como bom exemplo aos demais.

Vivemos em uma sociedade que constantemente nos oferece moldes prontos de felicidade, sucesso e realização, para que os vistamos sem questionar.

Há quem diga qual cor devemos vestir, qual corte de cabelo é mais apropriado em cada idade e cada ano, quais palavras são as mais desejáveis.

Somos bombardeados por padrões, cada um mais sedutor que o outro, e começamos a acreditar que precisamos nos moldar a esses ideais para sermos aceitos.

Mas ao seguir essas influências sem reflexão, acabamos introjetando ideias e imagens que não são nossas, deformando o contorno de nossa alma.

A verdadeira liberdade começa quando ousamos questionar: Quem sou eu, realmente, além das expectativas alheias? Quem sou eu, se deixo de lado as máscaras e permito que minha essência venha à tona?

Talvez, ao nos olharmos com honestidade, possamos perceber que há uma beleza única esperando para ser revelada.

E tal como o artista com seu cinzel, nós também precisamos desbastar as ilusões, as crenças impostas, as máscaras acumuladas. Esse trabalho não é rápido, nem fácil. É uma jornada íntima de paciência, de coragem e, sobretudo, de amor a si mesmo.

Amar a si mesmo não é apenas aceitar o que já existe. É, sobretudo, ter a ousadia de olhar para dentro e discernir o que é autêntico e o que é falso, e a buscar o novo.

É reconhecer que há camadas que nos foram impostas, que há ideias que introjetamos e emoções que carregamos, mas que não representam a nossa verdade.

Amar-se é empenhar-se em remover os obstáculos, as mentiras, e as sombras que obscurecem nossa verdadeira natureza.

Esse processo de autodescobrimento e liberação do que nos retém, é um ciclo contínuo entre o ser e o tornar-se…

Cada golpe do cinzel em nossa alma representa uma escolha consciente de não mais se deixar levar pelas expectativas externas, alheias. Representa uma decisão firme de buscar, no âmago do nosso ser, aquela essência que sempre esteve ali, mas que tantas vezes deixamos escondida, ignorada, desprezada.

Mas a decisão deve ser sua, com sua vontade firme agindo sempre e com a observação atenta e contínua em você mesmo.

… E cada camada removida nos aproxima mais de nossa própria liberdade – daquela liberdade que não depende da aprovação dos outros, mas de uma fidelidade a quem realmente somos.

Esse caminho é contínuo, nunca terminado, porque a vida é um processo de esculpir-se, de lapidar-se.

Em cada fase, em cada nova experiência, somos convidados a observar o que ainda é ilusão, o que ainda é peso desnecessário.

À medida que avançamos, tornamo-nos mais leves, mais íntegros, mais próximos daquela verdade essencial que Michelangelo intuiu ao ver o anjo na pedra.

Libertar-nos de nossas máscaras criadas para iludir os outros é libertar o anjo que há em nós. É permitir que a luz da nossa autenticidade brilhe, não importa o que pensem, não importa o que esperem.

Assim como o Davi, que já estava dentro do mármore antes mesmo que Michelangelo o tocasse, nossa essência já está aqui, completa e vibrante, esperando apenas que tenhamos a coragem de remover o que é desnecessário, de abandonar o que não somos, e de aceitar com graça o que sempre fomos.

Portanto, o convite é claro: tomemos o cinzel de nossas vidas. Não temamos as camadas que teremos de remover, nem as sombras que teremos de enfrentar. Porque ao final dessa jornada, o que restará será a nossa verdade nua em construção, a esperada dignidade de nosso ser autêntico, a quase luz inconfundível da nossa própria essência.

A cada golpe do cinzel, lembremos que estamos esculpindo o ser que realmente somos… E a cada pedaço que cai, a cada máscara que se dissolve, a legítima realidade e razão de existir e viver se aproxima, revelando o ser autêntico que há em nós.

A verdadeira jornada de autodescoberta é uma volta ao lar, um retorno ao lugar em nós mesmos onde habitam todas as nossas potencialidades, onde pulsa nossa autenticidade, esperando, silenciosamente, por nosso despertar.

Esse lar é um santuário intocado, momentaneamente escondido por camadas que acumulamos ao longo dos anos — máscaras, crenças e expectativas que não são nossas.

E quando decidimos, com coragem e com amor, remover essas camadas impostas, quando começamos a nos liberar dos papéis que a sociedade, a mídia e até as pessoas mais próximas nos atribuíram, uma nova visão da vida começa a emergir.

É como se, de repente, nos déssemos conta de que carregamos um segredo precioso, um tesouro esquecido, uma essência imutável que sempre esteve ali, como o Davi aprisionado no mármore, aguardando pacientemente para ser revelada.

Essa essência não se molda aos caprichos do mundo externo; ela não precisa de aprovações, não busca validações. Ela apenas é, pura e incontestável, como a verdade que brilha e arde sem se consumir.

Mas, para alcançá-la, precisamos, definitivamente, nos despir das ilusões, como o escultor que remove, golpe a golpe, tudo o que não faz parte da obra final idealizada.

À medida que nos aproximamos desse centro luminoso de nosso ser, as vozes que antes ecoavam em nossa mente – as vozes que nos diziam como deveríamos ser, o que deveríamos querer, e até quem deveríamos amar – começam a se dissipar.

O barulho do mundo dominador se torna um murmúrio distante, e o que resta é o som do nosso próprio coração, pulsando com uma frequência única, como uma canção que só nós podemos ouvir: é momento do autoencontro!

Essa viagem de volta ao lar é profundamente transformadora…

Em cada etapa, somos convidados a abandonar uma camada de falsidade, a desatar um nó de medo, a soltar um fardo de expectativas que não nos pertencem.

Então, percebemos que fomos, por tanto tempo, prisioneiros de uma imagem de nós mesmos que foi esculpida por mãos alheias, mas agora, ao reivindicar intencional e decididamente o martelo e o cinzel renovador de nossa própria vida, estamos prontos para moldar nosso verdadeiro ser.

Imagine-se como um rio que, por anos, foi forçado a seguir um leito que não era seu, desviando-se do seu curso natural para satisfazer as demandas dos outros, para se ajustar aos limites impostos.

E agora, finalmente, esse rio encontra sua própria nascente, sua própria força, e começa a desaguar no oceano da sua verdade…

Nada mais o impede, nada mais o limita. Ele flui, livre e impetuoso, carregando em si a pureza de sua origem, o frescor de sua autenticidade.

A autodescoberta não é um processo de adicionar, de acumular, de construir camadas sobre camadas, afastando-se de nós mesmos. Pelo contrário, é uma desconstrução, uma despojada volta ao que sempre fomos.

O processo de remover as camadas é também um processo de aceitação radical: aceitar que somos perfeitos em nossa imperfeição, completos em nossa incompletude, eternos em nossa humanidade, do mesmo modo que o alto contém o baixo, que o grande contém o pequeno.

E é, pois, nesse lar interior, quando todas as máscaras caem, que nos encontramos verdadeiramente com o que somos. É onde cessam as comparações, onde não há mais necessidade de corresponder a qualquer padrão.

A vida, então, se torna um bailado entre o ser e o tornar-se, entre o que somos em essência e o que estamos continuamente descobrindo.

Essa jornada não termina em um ponto final, mas em uma série de reticências, porque o autoconhecimento é um processo permanente, além do tempo, progressivo sempre.

Assim, cada um de nós é um Michelangelo de sua própria vida, com a responsabilidade de liberar o “Davi” que há em nós…

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Reféns de Nós Mesmos (parte 2)

A Rendição ao Ser Autêntico

“Você foi feito para voar. Então, não rasteje – você tem asas.” – Rumi

A verdadeira superação não está em vencer nossas fraquezas, mas em reconhecer nossas asas.

O grande poeta Rumi nos convida a abandonar a ideia de que devemos lutar contra nós mesmos. Ele nos aponta o caminho da rendição – rendição ao que somos, ao que sempre fomos, à nossa essência.

Não estamos aqui para vencer a nós mesmos, mas para despertar para nossa verdadeira natureza. Para enxergar claramente além das ilusões, dos condicionamentos.

A verdadeira superação está em abandonar essa guerra interna.

Não se trata de erradicar nossas imperfeições, mas de integrar cada parte de nós em nós mesmos. Aceitar nossas sombras, nossas fragilidades e falhas como partes de um todo.

A luta não precisa ser uma guerra; ela pode ser uma dança suave de autodescoberta, onde aprendemos a acolher todas as nossas partes psicoemocionais e físicas, sem exceção.

Ao lutar para ser o que não somos, nos perdemos no labirinto da ilusão.

Aceite o que já pulsa em você, e verá que a busca transtornante é desnecessária.

Resistir a isso é como negar o sol enquanto ele brilha!

O Encontro com o Eu

“Quando você faz coisas a partir de sua alma, você sente um rio se movendo em você, uma alegria.” – Rumi

Quando deixamos de lutar e nos dedicamos a simplesmente a perceber e sentir quem somos, algo mágico acontece: o reencontro.

O ser autêntico emerge, como um rio que flui sem barreiras, levando consigo a alegria de ser quem somos.

Não há mais esforço, não há mais conflito. Existe apenas uma fluidez natural, um retorno à nossa essência, onde a vida se move através de nós, sem resistência.

Já não mais papeis comportamentais a serem desempenhados no palco da vida, scripts existenciais a serem memorizados, cenários ilusórios de duração efêmera a serem construídos.

Este é o campo que Rumi descreve – o campo além das ideias de certo e errado, além das batalhas.

É o espaço onde nos encontramos com nosso verdadeiro eu e percebemos que nunca houve uma luta real, apenas um esquecimento de nossa essência.

Ao nos lembrar de quem somos, o conflito dissolve-se, e resta apenas a paz profunda do autodescobrimento.

Clareza é ver com olhos abertos e coração desperto – enxergar tanto as máscaras do mundo quanto a verdade oculta.

É saber o que parece ser e, ao mesmo tempo, abraçar o que realmente é.

Conhecer-se, aceitar-se, transformar-se. Eis o roteiro que nos conduz à verdadeira superação, ao autoencontro.

Mas essa transformação não deve ser confundida com a ideia de uma luta constante contra si mesmo. Longe disso!

Você não tem que “vencer a si mesmo”, apenas conhecer-se, aceitar-se e transformar-se.

A verdadeira transformação exige flexibilidade.

Precisamos nos libertar das supostas certezas rígidas que carregamos e nos permitir ser tocados por novas ideias, novas formas de ser.

 Flexibilidade: A Chave Para o Novo

“Quem está cansado do mundo exterior, mergulhe no mundo interior.” – Rumi

A flexibilidade é a chave para nos libertarmos das amarras dos condicionamentos.

Para nos conhecermos de verdade, precisamos abandonar as percepções antigas sobre quem somos.

Muitas vezes, nossos pensamentos sobre nós mesmos estão fossilizados em crenças que não nos pertencem – crenças sobre nossos limites, sobre o que devemos ser, sobre o que é possível ou impossível. Alguém as construiu para nós…

Flexibilidade, neste caso, é o ato de questionar essas crenças e tudo o que nos move.

Por que não?

Talvez as fraquezas que tentamos vencer sejam, na verdade, forças não exploradas.

Talvez o que vemos como limitações sejam apenas ideias rígidas que temos sobre nós mesmos.

Para alcançar o grande, comece com o pequeno gesto.

Para transformar o mundo, comece por você mesmo.

O que precisa mudar? Apenas os olhos com que você olha – mude sua visão, e o universo inteiro se transforma com você.

Abertura Para Uma Nova Visão da Vida

“A ferida é o lugar por onde a luz entra em você.” – Rumi

Aceitar que somos influenciados pelo ambiente é apenas o primeiro passo.

O verdadeiro desafio é ter coragem de se abrir para uma nova visão da vida, uma que nos empurre para fora da zona de conforto, do estado amorfo do já conhecido e a prepotência de “sei o suficiente ou tudo sei” …

Por que medo do desconhecido?

Para que possamos nos renovar, precisamos questionar nossas crenças e aceitar que o que funcionou um dia pode não mais nos servir.

Precisamos ser mais!

Precisamos estar abertos a novos entendimentos sobre nós mesmos, sobre a Vida!

A verdadeira grandeza da vida está em abraçar essa renovação contínua, permitindo que nossos valores evoluam à medida que nos tornamos mais conscientes de quem realmente somos.

O homem comum vive entre sombras, sem perceber que, no silêncio do nada, reside a semente do todo; ao despertar para a vastidão do infinito, ele descobre que sua verdadeira essência brilha além das limitações do olhar.

Conhecer-se, Aceitar-se, Transformar-se

“Não vá embora. Fique aqui. Pois onde você tropeçar, lá está o seu tesouro.” – Rumi

Conhecer-se é o primeiro passo, e não é fácil…

Requer coragem para confrontar nossas partes ocultas, para nos olharmos de frente. A surpresa estará reservada não para o que nos falte, mas para o que já somos.

Mas o verdadeiro autoconhecimento é o único caminho para a transformação genuína.

Aceitar-se é o ato de compaixão. Não é resignação, mas um abraço suave a todas as nossas partes – as luzes e as sombras.

É nessa aceitação que reside o poder de transformação.

Transformar-se, finalmente, é o desabrochar da Vida dentro do viver…

Não é uma guerra contra si mesmo, mas um ato de integração.

A transformação é evoluir para uma versão mais consciente, autêntica e livre.

Não se trata de eliminar fraquezas, mas de se abrir para viver plenamente, aceitando quem somos, exatamente como somos.

Essa rota – conhecer-se, aceitar-se, transformar-se – não é linear. É uma espiral infinita de crescimento e descoberta.

A cada ciclo, nos conhecemos mais profundamente, nos aceitamos com mais inteireza e nos superamos de maneira mais completa.

Sejamos flexíveis!

Abramo-nos para o novo, ao que nos desafia a crescer e nos reinventar.

Adotemos a renovação, não como um fim, mas como o contínuo processo de ser quem verdadeiramente somos.

A Vida, em sua grandeza, não espera que lutemos contra nós mesmos, mas que nos entreguemos à sua plenitude, do mesmo modo que a laranjeira faz para que as laranjas cresçam.

A laranjeira não se preocupa com o quanto deve se esforçar para produzir suas laranjas.

Ela simplesmente se entrega ao abraço do sol e ao carinho da chuva, permitindo que a natureza siga seu curso.

Em sua essência, ela entende que cada flor que desabrocha é um testemunho do seu ser, e que, ao confiar na sabedoria do universo, as laranjas inevitavelmente surgirão.

Assim, a árvore não se apressa, não se angustia; em vez disso, dança ao ritmo da vida, sabendo que a abundância vem quando se está em harmonia com o Todo.

Da mesma forma, nós, como a laranjeira, somos convidados a confiar na jornada do nosso próprio crescimento.

Não precisamos lutar incessantemente para alcançar nossos sonhos, mas sim cultivar um espaço interno de paz e aceitação.

Ao nos entregarmos ao fluxo da vida, deixando de lado as dúvidas e medos, permitimos que nossas “laranjas” – nossos desejos e aspirações – floresçam em seu tempo.

Ao abraçar a beleza do momento-vida presente, podemos descobrir que o verdadeiro milagre não está apenas nas laranjas e nos laranjais, mas também na transformação silenciosa que acontece em nós a cada dia.

Permita-se Ser!!

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Reféns de Nós Mesmos (parte 1)

“Além das ideias de certo e errado, existe um campo. Eu te encontrarei lá.” – Rumi

A frase “a minha luta é vencer a mim mesmo” ressoa profundamente em muitos de nós, evocando a imagem de um enfrentamento contínuo, onde nossas qualidades superam o que não nos agrada tanto, incorporando em nossa personalidade o resultado alcançado.

No entanto, será que essa luta é realmente necessária? E mais: devemos tomar essa ideia de imediato como um guia para nossa jornada de desenvolvimento pessoal?

Embora essa citação carregue um significado poderoso, ela também traz à tona uma série de pressupostos que merecem ser analisados com cuidado.

Antes de nos lançarmos em uma empreitada de “superar” o que fala mais alto dentro de nós, devemos saber se já nos conhecemos o suficiente para identificar o que precisa ser mudado?

Sem o devido autoconhecimento, é fácil cair em armadilhas, entre elas a de tentar modificar aspectos de nossa personalidade ou comportamento, sem sequer compreender as razões mais profundas que os sustentam.

E, nesse caso, que tipo de mudança seria essa? Será que realmente estaríamos promovendo uma transformação genuína, ou apenas reprimindo partes de nós que ainda não compreendemos plenamente?

Talvez nossa verdadeira missão não seja lutar para vencer, mas lembrar para compreender…!

Lembrar quem somos por trás das máscaras que acumulamos, das camadas de condicionamentos que vestimos ao longo da vida.

O Autoconhecimento Como Ponto de Partida

O ponto de partida para qualquer processo de transformação verdadeira é, invariavelmente, o autoconhecimento.

Não podemos empreender mudanças significativas se não estamos plenamente conscientes do que precisa ser transformado.

Mas o que significa “vencer a si mesmo”? Seria sufocar nossos desejos, extinguir nossas fraquezas, silenciar nossas emoções? Ou seria mais sábio reinterpretar essa ideia como uma jornada de integração e compreensão?

O autoconhecimento não é uma prática esporádica de introspecção. Pelo contrário, ele exige coragem para confrontar nossas verdades internas, sem máscaras.

Ele implica em perceber que as falhas, muitas vezes vistas como inimigos, são oportunidades de crescimento.

Quando compreendemos por que agimos de determinadas maneiras, ou por que repetimos certos padrões, começamos a perceber que lutar contra nós mesmos pode não ser o caminho mais produtivo.

Afinal, qual é o sentido de uma batalha se o inimigo não é realmente um inimigo, mas uma parte esquecida ou incompreendida de nós mesmos?

Muitas das batalhas internas que travamos ao longo da vida não são realmente lutas contra nós mesmos, mas sim contra os condicionamentos que carregamos desde a infância, desde os primeiros passos na sociedade.

A vida nos molda de maneiras sutis, molda nossos comportamentos, nossas crenças e expectativas, que muitas vezes não refletem nossa verdadeira essência.

E, sem perceber, vestimos essas camadas de influência como se fossem nossa própria pele.

Desde cedo, somos bombardeados com ideias sobre o que devemos ser, como devemos agir, o que é considerado certo ou errado.

Muitas vezes, internalizamos essas ideias sem questioná-las, acreditando que elas são nossa identidade.

O resultado? – Lutamos contra o que acreditamos ser, quando, na verdade, estamos apenas travando uma batalha contra modelos externos que aceitamos sem perceber.

Uma pessoa pode passar a vida inteira tentando superar um sentimento de inadequação, sem entender que esse sentimento foi plantado por expectativas familiares ou por padrões de sucesso da sociedade.

Nesse caso, a luta não é realmente contra ela mesma, mas contra essas estruturas invisíveis que a afastam de quem ela é de verdade.

Desapego é a chave: desapegar-se das ilusões que foram impostas sobre nós e que aceitamos sem questionamento.

Muitas vezes, aceitamos ideias trazidas por terceiros e as transformamos em nossas próprias, sem refletirmos profundamente sobre elas.

Empenhamo-nos em nos moldar para se adequar a essas ideias, e nos vemos em conflito constante, pressionados pelos limites impostos por uma perfeição inalcançável, ao menos por agora…

E o que acontece quando usamos esses moldes como uma fuga de nossos conflitos internos, na esperança de que “mergulhando de cabeça nessa proposta, não haja tempo para se lembrar dos problemas mais afligentes e invalidadores que habitam nosso ser”? – Uma maior desconexão entre o que somos e o que aparentamos ser.

A Educação Insuficiente e o Autoengano

Parte dessa desconexão está enraizada em uma educação insuficiente – não apenas uma educação formal, mas uma educação emocional e espiritual.

A maioria de nós aprende a seguir fórmulas, a buscar metas externas, mas raramente somos ensinados a explorar as profundezas do nosso próprio ser.

Por ignorância, e não por falta de capacidade, acabamos criando versões de nós mesmos que se conformam com as expectativas externas, enquanto sufocamos o que realmente sentimos e desejamos.

Adotamos papéis impostos, buscando a aprovação dos outros e construindo identidades frágeis que podem ser aceitas pelos outros, mas nunca refletem quem somos de verdade.

Assim, o que parece ser uma “luta” para vencer a si mesmo é, na verdade, uma luta contra o autoengano.

Esse autoengano frequentemente nos leva à inflexibilidade comportamental.

Com o tempo, nossas crenças e hábitos se cristalizam, nos tornando rígidos, fechados à mudança, esquecendo que a verdadeira natureza do ser é fluida, mutável. Esse endurecimento nos distancia da nossa essência.

As crenças erguem-se como muralhas ao redor do coração, uma fortaleza que nos separa do horizonte infinito.

Até que essas pedras sejam derrubadas ou transcendidas, não poderemos tocar a vastidão do outro lado.

O Perigo de Se Tornar Refém da Própria Luta

Na ânsia da “luta comigo mesmo”, podemos nos tornar reféns dessa própria batalha.

A ideia de superação, quando mal compreendida, transforma-se em obsessão.

Passamos a acreditar que precisamos estar sempre corrigindo, sempre vencendo, sempre consertando nossas imperfeições.

Assim como um exército que sitia outro, ficamos tão presos à estratégia da batalha que nos tornamos reféns de nós mesmos.

A batalha contra o que percebemos como nossas falhas pode nos desconectar da verdadeira grandeza da Vida.

No esforço constante de corrigir, de melhorar, de vencer, perdemos de vista que a vida já está acontecendo.

“Quando estamos imersos na mentalidade de luta, esquecemos de viver plenamente!”

Será que essa luta incessante é realmente necessária?

Estamos focados em vencer nossas “fraquezas” sem perceber que, muitas vezes, esse foco estreito nos impede de perceber as soluções, as oportunidades e as experiências que estão à nossa volta, a um passo fora do círculo escravizante. E o pior, nos impede de ver nossa fortaleza!

A vida, com suas infinitas possibilidades, está esperando para ser vivida, enquanto nos distraímos com o que acreditamos ser nossas imperfeições.

Não é necessário criar caminhos para florescer; basta varrer o pó que encobre a alma, o véu que embaça a visão!

Quando os obstáculos caem, a luz da consciência desperta por si mesma, iluminando o vasto campo do ser com sua própria claridade.

Se é preciso buscar, procure não pelo que lhe falta, mas pelo que deve ser abandonado.

Desapegue-se! Ao soltar esse peso, você se verá mais leve para novos voos.

***(Este artigo terá continuidade na próxima publicação)

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Você é seu próprio obstáculo… e é sua própria solução

Imagine por um momento: você passou a vida inteira buscando fora de si mesmo, acreditando que, em algum lugar, em alguma conquista distante, o sentido da sua existência se revelaria.

Subiu montanhas acreditando que no topo haveria respostas.

Mergulhou nas profundezas dos oceanos esperando encontrar a chave para a sua paz.

Cavou a terra com a ilusão de que um tesouro enterrado o completaria.

Mas, e se eu te dissesse que o que você procura nunca esteve fora de você? Que enquanto você se desgastava nessa busca sem fim, o seu maior tesouro esteve adormecido, intocado, bem aí — dentro de você?

Não, o que falta na sua vida não é uma nova conquista. Não é a resposta, mas a pergunta certa.

Há um antigo conto oriental que diz que, em um tempo distante, todos os homens eram deuses.

No entanto, eles abusaram tanto de seu poder que Brahma, o mestre dos deuses, decidiu retirar-lhes a divindade.

Mas onde esconder algo tão grandioso? No fundo dos mares? Nas profundezas da terra? – Não.

Brahma, com toda sua sabedoria, escondeu o poder divino no único lugar onde o homem jamais pensaria em procurar: dentro de si mesmo.

E aqui estamos nós…

Milênios se passaram, e nós, com a mesma sede de conquistas, continuamos buscando fora.

Viramos o mundo de ponta-cabeça, cavamos até os confins da terra, viajamos pelo espaço sideral, e ainda não encontramos o que procuramos.

Porque o que procuramos não está lá fora. Sempre esteve aqui, no único lugar que insistimos em não olhar: nas profundezas de nós mesmos.

E a nossa jornada, por mais heroica que pareça, jamais será completa enquanto não fizermos o mais difícil dos caminhos: o caminho ao encontro do nosso coração.

Quer saber o nosso maior erro? – Acreditar que aquilo que vai nos satisfazer, que vai preencher esse vazio existencial, são coisas colhidas nos canteiros do mundo.

Vamos ilustrar essa ideia para melhorar o entendimento!

Imagine um viajante que, ao longo de sua vida, plantou sementes em um jardim vasto e fértil.

Esse jardim representa seu mundo interior — seu potencial, suas paixões, seus valores, seus sonhos!

Porém, ao invés de cultivar pacientemente esse espaço e regá-lo com dedicação, ele se distraiu. Começou a observar os campos vizinhos, atraído pelo brilho efêmero das flores que brotavam lá.

Convencido de que a resposta para seu vazio estava nos jardins do mundo lá fora, ele abandonou seu jardim…

Durante anos, percorreu terras distantes, colhendo flores em outros canteiros — glórias passageiras, conquistas materiais, títulos, aplaudido pelas multidões que o observavam.

Cada vez que voltava para casa, ele enfeitava seu jardim com essas flores colhidas do mundo exterior, tentando cobrir o terreno vazio e sem vida que, aos poucos, foi murchando sem cuidado.

Mas algo o inquietava…

Apesar da beleza temporária das flores que trazia de fora, algo não estava certo. O vazio permanecia, silencioso, latente, como se tudo aquilo fosse uma grande ilusão…

E era…!

As flores que ele colhia nos canteiros do mundo eram frágeis. Eram belas por um tempo, mas rapidamente murchavam.

Elas nunca criavam raízes no solo do seu jardim, pois não pertenciam a ele. Não eram suas. Ali já chegavam sem raízes.

Não eram frutos da sua experiência, capaz de regar sua essência.

Foi então que, em um raro momento de pausa, ele voltou seus olhos para o próprio jardim, agora quase desolado, e percebeu a verdade incômoda: nunca cuidou do que era realmente seu, de quem ele realmente é

Nunca deu atenção ao que já estava plantado ali, esperando apenas por cuidado, paciência e atenção.

Tudo o que ele realmente precisava para preencher seu vazio estava dentro de si mesmo, mas ele tinha preferido correr atrás de recompensas passageiras… lá fora, sempre lá fora.

Moral da metáfora?

O que buscamos no mundo exterior, por mais belas ou chamativas que pareçam, nunca têm a profundidade e a durabilidade das coisas que vêm de dentro.

As flores colhidas nos canteiros do mundo podem enfeitar por um tempo, mas só o cultivo do nosso jardim interior — o autoconhecimento, o propósito, a conexão com nossa essência — traz verdadeira satisfação, dão substância ao viver.

Passamos a vida correndo atrás da aprovação dos outros. Queremos aplausos. Queremos títulos. Queremos reconhecimento. Queremos poder.

E, enquanto focamos nessas coisas triviais, deixamos de focar no que realmente importa.

E então, pergunto: será que essas conquistas, esses troféus de glória externa, realmente trazem paz?

Você já percebeu que, não importa quantos prêmios você ganhe, quantos elogios receba ou quanta riqueza acumule, a inquietação continua ali, rondando você?

Porque o sucesso material jamais vai preencher a lacuna interna. Coisas, palavras e suas formas não “cabem” no coração.

O que é esse incômodo persistente que você sente? – Ele não é um sinal de fracasso. Ele é um sinal de que você está olhando na direção errada.

Por séculos, o mundo ocidental construiu uma sociedade que ignora o óbvio, uma verdade que o Oriente sempre soube: a chave para o seu bem-estar não está em algo que você possa pegar, comprar ou ostentar. Está dentro de você.

Como podemos começar caminhar por esse roteiro sem forma, mas que tudo conforma?

Meditação, silêncio, introspecção — essas práticas não são para fugir da realidade, mas para entrar na única realidade que importa: a sua própria.

Do imponderável se retira o ponderável…

Mas por que é tão difícil olhar para dentro? Vou te dizer por quê: porque é assustador!!

A verdade é que a maioria das pessoas evita essa jornada interior porque ela é profundamente desconcertante, desconstrutiva.

Olhar para dentro é como abrir uma porta para um quarto escuro cheio de segredos que você mesmo trancou lá dentro.

Encarar seus medos, suas fraquezas, suas inseguranças — isso não é para qualquer um. Só para os buscadores de si mesmo…

Além do mais, é preciso coragem para renunciar ao que nos é familiar, conhecido, ou seja, nossa zona de enganoso conforto.

Porque o mais assustador nessa viagem para dentro não é o que você vai encontrar, mas o que vai precisar abandonar na jornada: Você vai precisar abandonar a versão de você que você sempre conheceu…, porém na imagem de um espelho.

“Por que não me ensinaram diferente?” Sei que você vai me perguntar isso…

É fácil culpar o mundo, as circunstâncias, as pessoas.

O mais difícil é admitir que, no fundo, somos nós os maiores sabotadores de nós mesmos.

Esse conto oriental, onde Brahma esconde o poder divino dentro de nós, é a metáfora perfeita para a nossa cegueira.

Estamos tão obcecados em escalar montanhas, conquistar territórios e alcançar o inalcançável, que esquecemos de olhar para o único lugar onde sempre esteve a chave para a nossa realização: o nosso próprio coração.

Você é seu próprio obstáculo… e é sua própria solução.

Você já percebeu como, sem propósito edificante e transformador, a vida se torna uma repetição enfadonha?

Você acorda, faz o que tem que fazer, completa as tarefas do dia, dorme… e repete…

Repete. Repete. Repete. Isso o satisfaz? – Claro que não, vai responder rápida e acertadamente.

Mas por que tantas pessoas vivem dessa forma? – Porque elas confundem movimento com progresso, ocupação com realização, acontecimentos com efetiva experiência.

Estar ocupado não é sinônimo de estar vivendo.

O propósito edificante é o combustível que faz a vida valer a pena. É aquilo que o move além do cansaço, que o faz levantar da cama quando tudo está desmoronando.

O propósito não é uma meta. Ele é a razão pela qual você persegue qualquer meta.

E sem ele, o que você faz é apenas uma sequência aleatórios de movimentos vazios, sem direção, sem sentido.

Você acha que seu propósito está “lá fora”, como um tesouro escondido em um mapa misterioso. Acredita que, um dia, em uma nova conquista, em um novo lugar, vai encontrá-lo. Essa é a mentira mais bem contada da humanidade!

Nenhuma conquista externa, nenhum troféu, nenhum aplauso vão te dar a paz que você busca. Nenhum!!

E eu o desafio a olhar de frente essa verdade: Se você não estiver conectado com o seu propósito interno, nada disso terá o impacto que você espera. Experimente! Sinta!

Pode alegrar, mas não plenifica. Assim como vem, vai…

Pergunte-se: o que de fato permanece?

E mais, eu o provoco a pensar sobre o que realmente é o propósito.

Pensemos juntos.

Ele não é algo tangível.

Ele não é um título que você exibe, um cargo que você ocupa, um status que você alcança. Isso tudo são resultados.

Propósito é um estado de ser!

Ele está profundamente ligado à sua essência, e para encontrá-lo, você precisa parar de olhar para o mundo lá fora e começar a olhar para dentro. Pois nem sempre o que buscamos e fazemos condiz com o que queremos mesmo.

Da nossa essência, se tivermos ouvidos de ouvir, escutaremos propósitos que enriquecem o viver, não simples desejos que alimentam a sobrevivência e enchem prateleiras.

O oportuno propósito não é um convite para o conforto, mas um desafio radical à sua forma de viver.

Você tem coragem de parar tudo e realmente olhar para si mesmo? De enfrentar aquilo que tem evitado por tanto tempo?

A verdade é simples: o propósito existencial legítimo já está em você. Ele sempre esteve.

Mas, ao longo dos anos, você se perdeu nas expectativas dos outros, nas pressões do mundo, no barulho incessante da vida. E com isso, esqueceu de ouvir a única voz que realmente importa: a sua própria!!

Você pode se perguntar: “Mas como vou saber qual é o meu propósito?”

– Vou lhe dar a resposta mais simples e mais poderosa: Você já sabe!  Sempre soube. O que acontece é que você permitiu que essa voz silenciasse. Você acreditou no mito enganoso que espalha o propósito e diz que ele tem que ser algo grandioso, inatingível, reservado para gênios e heróis. Mas isso é uma farsa.

Seu propósito vivencial não precisa ser extraordinário aos olhos do mundo. Ele só precisa fazer seu coração vibrar. Ele só precisa fazer você se sentir vivo!

Para alguns, pode ser transformar o mundo. Para outros, pode ser cuidar de uma pessoa, ensinar uma criança, ou criar algo que inspire.

Não importa o tamanho do propósito, mas a profundidade com que você se conecta a ele e o bem que ele traz para seu coração!

E aqui vai outra verdade radical: o propósito não é algo que você vai encontrar em um curso, um livro ou uma palestra motivacional.

O propósito que renova e o sacode por dentro não se compra. Ele é cultivado. Ele nasce do autoconhecimento, da prática constante de olhar para dentro e de ouvir a sua alma.

Insisto, pare de buscar fora o que só pode ser encontrado dentro de você.

Invista em silêncio.

Desconecte-se do barulho do mundo.

Pergunte a si mesmo, com sinceridade brutal: O que realmente importa para mim? O que me faz levantar da cama com vontade de existir?

Não importa o que a sociedade dita ou o que os outros esperam de você.

O que faz sua alma vibrar? – Isso é o seu propósito.

Em suma, não se trata de uma nova resposta, só precisa parar de fugir da resposta que você já tem.

Encontrar o seu propósito é o ato mais corajoso da sua vida.

Não é sobre abandonar tudo, fugir para o desconhecido ou seguir algum guru da moda.

É sobre abandonar as mentiras que você contou a si mesmo, ao aceitar as mentiras que mundo valoriza.

Soltar o que não faz mais sentido. Parar de perseguir metas vazias que não trazem realização. Enfim, encontrar o seu propósito é, acima de tudo, um grande encontro consigo mesmo.

Você não precisa de mais conquistas, mais títulos ou mais aplausos.

O que você precisa é de profundidade no pensar e no sentir!

E a profundidade só vem quando você para de correr atrás de ilusões e começa a caminhar em direção a si mesmo. Quando você para de trocar o essencial pelo superficial.

Lembre-se: o propósito que você tanto busca não está em um lugar inalcançável. Ele não está no próximo diploma, no próximo emprego ou na próxima compra. Ele está nas profundezas de você, na distância do seu coração — o único lugar onde você tem evitado procurar, porque sabe que, uma vez que olhar para lá, não terá mais desculpas para fugir de você mesmo.

Então, eu lhe pergunto: você está pronto para parar de procurar e, finalmente, começar a encontrar?

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