Michelangelo olhou para o bloco de mármore bruto e viu algo que ninguém mais conseguia ver: o Davi já estava ali, prisioneiro na pedra, esperando ser libertado…
Com um cinzel em mãos, ele desbastou tudo o que não pertencia àquela visão originalmente pura e autêntica.
“Eu apenas tirei da pedra tudo o que não era o Davi“, disse ele.
Naquele gesto, reside uma sabedoria que ecoa por séculos. Essa não é apenas uma lição de arte, mas um chamado profundo para cada um de nós.
Quantos de nós estamos aprisionados em pedras invisíveis, encobertos por camadas que não pertencem ao que realmente somos?
Há tantas influências, expectativas e ilusões que vão se depositando ao nosso redor, criando uma carapaça de mármore frio que esconde nossa essência.
Somos editados por modelos alheios, impulsionados por padrões de beleza, comportamento e sucesso que nos afastam de nossa própria verdade.
Assumimos máscaras para pertencer, vestimos fantasias para nos sentirmos aceitos. E, no processo da formação da falsa identidade, perdemos contato com o que existe de mais puro e verdadeiro em nós: nós mesmos!
Michelangelo sabia que a beleza do Davi não estava no mármore em si, mas no que ele se dispunha a remover, camada por camada, até que surgisse a escultura autêntica.
Da mesma forma, a beleza de nossa existência não se encontra nas máscaras que vestimos, nem nas influências que absorvemos sem questionar. Ela reside em nossa capacidade de remover, com coragem, tudo aquilo que não faz parte de nossa essência, para revelar o que sempre esteve lá: o nosso Eu verdadeiro, a nossa natureza profunda, a expressão de nossa essência! Que aliás está na vida para ser mostrada como bom exemplo aos demais.
Vivemos em uma sociedade que constantemente nos oferece moldes prontos de felicidade, sucesso e realização, para que os vistamos sem questionar.
Há quem diga qual cor devemos vestir, qual corte de cabelo é mais apropriado em cada idade e cada ano, quais palavras são as mais desejáveis.
Somos bombardeados por padrões, cada um mais sedutor que o outro, e começamos a acreditar que precisamos nos moldar a esses ideais para sermos aceitos.
Mas ao seguir essas influências sem reflexão, acabamos introjetando ideias e imagens que não são nossas, deformando o contorno de nossa alma.
A verdadeira liberdade começa quando ousamos questionar: Quem sou eu, realmente, além das expectativas alheias? Quem sou eu, se deixo de lado as máscaras e permito que minha essência venha à tona?
Talvez, ao nos olharmos com honestidade, possamos perceber que há uma beleza única esperando para ser revelada.
E tal como o artista com seu cinzel, nós também precisamos desbastar as ilusões, as crenças impostas, as máscaras acumuladas. Esse trabalho não é rápido, nem fácil. É uma jornada íntima de paciência, de coragem e, sobretudo, de amor a si mesmo.
Amar a si mesmo não é apenas aceitar o que já existe. É, sobretudo, ter a ousadia de olhar para dentro e discernir o que é autêntico e o que é falso, e a buscar o novo.
É reconhecer que há camadas que nos foram impostas, que há ideias que introjetamos e emoções que carregamos, mas que não representam a nossa verdade.
Amar-se é empenhar-se em remover os obstáculos, as mentiras, e as sombras que obscurecem nossa verdadeira natureza.
Esse processo de autodescobrimento e liberação do que nos retém, é um ciclo contínuo entre o ser e o tornar-se…
Cada golpe do cinzel em nossa alma representa uma escolha consciente de não mais se deixar levar pelas expectativas externas, alheias. Representa uma decisão firme de buscar, no âmago do nosso ser, aquela essência que sempre esteve ali, mas que tantas vezes deixamos escondida, ignorada, desprezada.
Mas a decisão deve ser sua, com sua vontade firme agindo sempre e com a observação atenta e contínua em você mesmo.
… E cada camada removida nos aproxima mais de nossa própria liberdade – daquela liberdade que não depende da aprovação dos outros, mas de uma fidelidade a quem realmente somos.
Esse caminho é contínuo, nunca terminado, porque a vida é um processo de esculpir-se, de lapidar-se.
Em cada fase, em cada nova experiência, somos convidados a observar o que ainda é ilusão, o que ainda é peso desnecessário.
À medida que avançamos, tornamo-nos mais leves, mais íntegros, mais próximos daquela verdade essencial que Michelangelo intuiu ao ver o anjo na pedra.
Libertar-nos de nossas máscaras criadas para iludir os outros é libertar o anjo que há em nós. É permitir que a luz da nossa autenticidade brilhe, não importa o que pensem, não importa o que esperem.
Assim como o Davi, que já estava dentro do mármore antes mesmo que Michelangelo o tocasse, nossa essência já está aqui, completa e vibrante, esperando apenas que tenhamos a coragem de remover o que é desnecessário, de abandonar o que não somos, e de aceitar com graça o que sempre fomos.
Portanto, o convite é claro: tomemos o cinzel de nossas vidas. Não temamos as camadas que teremos de remover, nem as sombras que teremos de enfrentar. Porque ao final dessa jornada, o que restará será a nossa verdade nua em construção, a esperada dignidade de nosso ser autêntico, a quase luz inconfundível da nossa própria essência.
A cada golpe do cinzel, lembremos que estamos esculpindo o ser que realmente somos… E a cada pedaço que cai, a cada máscara que se dissolve, a legítima realidade e razão de existir e viver se aproxima, revelando o ser autêntico que há em nós.
A verdadeira jornada de autodescoberta é uma volta ao lar, um retorno ao lugar em nós mesmos onde habitam todas as nossas potencialidades, onde pulsa nossa autenticidade, esperando, silenciosamente, por nosso despertar.
Esse lar é um santuário intocado, momentaneamente escondido por camadas que acumulamos ao longo dos anos — máscaras, crenças e expectativas que não são nossas.
E quando decidimos, com coragem e com amor, remover essas camadas impostas, quando começamos a nos liberar dos papéis que a sociedade, a mídia e até as pessoas mais próximas nos atribuíram, uma nova visão da vida começa a emergir.
É como se, de repente, nos déssemos conta de que carregamos um segredo precioso, um tesouro esquecido, uma essência imutável que sempre esteve ali, como o Davi aprisionado no mármore, aguardando pacientemente para ser revelada.
Essa essência não se molda aos caprichos do mundo externo; ela não precisa de aprovações, não busca validações. Ela apenas “é”, pura e incontestável, como a verdade que brilha e arde sem se consumir.
Mas, para alcançá-la, precisamos, definitivamente, nos despir das ilusões, como o escultor que remove, golpe a golpe, tudo o que não faz parte da obra final idealizada.
À medida que nos aproximamos desse centro luminoso de nosso ser, as vozes que antes ecoavam em nossa mente – as vozes que nos diziam como deveríamos ser, o que deveríamos querer, e até quem deveríamos amar – começam a se dissipar.
O barulho do mundo dominador se torna um murmúrio distante, e o que resta é o som do nosso próprio coração, pulsando com uma frequência única, como uma canção que só nós podemos ouvir: é momento do autoencontro!
Essa viagem de volta ao lar é profundamente transformadora…
Em cada etapa, somos convidados a abandonar uma camada de falsidade, a desatar um nó de medo, a soltar um fardo de expectativas que não nos pertencem.
Então, percebemos que fomos, por tanto tempo, prisioneiros de uma imagem de nós mesmos que foi esculpida por mãos alheias, mas agora, ao reivindicar intencional e decididamente o martelo e o cinzel renovador de nossa própria vida, estamos prontos para moldar nosso verdadeiro ser.
Imagine-se como um rio que, por anos, foi forçado a seguir um leito que não era seu, desviando-se do seu curso natural para satisfazer as demandas dos outros, para se ajustar aos limites impostos.
E agora, finalmente, esse rio encontra sua própria nascente, sua própria força, e começa a desaguar no oceano da sua verdade…
Nada mais o impede, nada mais o limita. Ele flui, livre e impetuoso, carregando em si a pureza de sua origem, o frescor de sua autenticidade.
A autodescoberta não é um processo de adicionar, de acumular, de construir camadas sobre camadas, afastando-se de nós mesmos. Pelo contrário, é uma desconstrução, uma despojada volta ao que sempre fomos.
O processo de remover as camadas é também um processo de aceitação radical: aceitar que somos perfeitos em nossa imperfeição, completos em nossa incompletude, eternos em nossa humanidade, do mesmo modo que o alto contém o baixo, que o grande contém o pequeno.
E é, pois, nesse lar interior, quando todas as máscaras caem, que nos encontramos verdadeiramente com o que somos. É onde cessam as comparações, onde não há mais necessidade de corresponder a qualquer padrão.
A vida, então, se torna um bailado entre o ser e o tornar-se, entre o que somos em essência e o que estamos continuamente descobrindo.
Essa jornada não termina em um ponto final, mas em uma série de reticências, porque o autoconhecimento é um processo permanente, além do tempo, progressivo sempre.
Assim, cada um de nós é um Michelangelo de sua própria vida, com a responsabilidade de liberar o “Davi” que há em nós…
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